Nonato Guedes, com agências
O cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, está na berlinda diante de informações de que ele foi pressionado pelo presidente Jair Bolsonaro e por apoiadores do presidente a suspender a vacinação de adolescentes contra a Covid-19 para que fosse dada prioridade a outros grupos sociais vulneráveis. O presidente teria feito cobrança com base em relatos de supostas reações, como informou o jornal “Folha de São Paulo”, acrescentando que o ministro tenta se manter no cargo em meio ao fogo cruzado. Ontem, Marcelo Queiroga teve que prestar esclarecimentos sobre a assunto a inúmeros veículos de comunicação do país, tendo falado, na Paraíba, à TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo. A decisão de orientar que jovens menores de 18 anos não sejam imunizados pegou de surpresa gestores do SUS, dirigentes da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e até secretários de Queiroga.
O ministro atribuiu o recuo a dúvidas sobre a segurança e eficácia dos imunizantes em adolescentes. Agora a Saúde orienta uso apenas da vacina da Pfizer em adolescentes de 12 a 17 anos que apresentem deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade. A decisão de Queiroga irritou gestores de saúde pública.Sete Capitais pararam a vacinação de adolescentes contra a Covid após a nova regra do Ministério da Saúde. A decisão provocou queixas abertas de governos, e os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro decidiram seguir com a imunização. O ministro assegurou que partiu do presidente Jair Bolsonaro a orientação para rever a vacinação de adolescentes no País. Mais cedo, a Pasta havia orientado a interrupção da aplicação de doses em pessoas de 12 a 17 anos sem comorbidades, apesar da Anvisa ter autorizado o imunizante da Pfizer para a faixa etária.
“O que o Ministério da Saúde fez? Na nota técnica 40 da Secovid, retirou os adolescentes sem comorbidades. O senhor tem conversado comigo sobre esse tema e nós fizemos uma revisão detalhada no banco de dados do DataSUS”, afirmou Queiroga ao lado do presidente, na transmissão semanal ao vivo nas redes sociais feita pelo chefe do Planalto. Já Bolsonaro acentuou: “A minha conversa com o Queiroga não é uma imposição. Eu levo para ele o meu sentimento, o que eu leio, o que eu vejo e o que chega ao meu conhecimento”. O presidente destacou que a Anvisa recomenda a vacinação de adolescentes com Pfizer, mas que isso não seria uma obrigação. Ainda afirmou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) é contrária à vacinação de adolescentes, quando, na verdade, a entidade apenas recomenda a priorização dos grupos mais vulneráveis.
Durante a live, Marcelo Queiroga renovou críticas feitas mais cedo a governadores e prefeitos que estariam descumprindo o Plano Nacional de Imunizações ao antecipar a vacinação de adolescentes e, segundo o ministro, utilizando, inclusive, marcas de vacinas não autorizadas pela Anvisa para a faixa etária. “Surpresa mais de 3,5 milhões de adolescentes vacinados desde agosto”, expressou o ministro. E Bolsonaro emendou: “Alguns governadores e prefeitos estão obrigando a vacinar a molecada. Se tiver efeitos colaterais graves, eu quero saber quem vai se responsabilizar”. A Anvisa, contudo, emitiu nota na noite de ontem ratificando a liberação do uso da Pfizer em adolescentes e reforçou a existência de dados de segurança e eficácia.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) declarou em uma rede social que apresentou um requerimento para a convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na CPI da Covid. O ministro do governo de Jair Bolsonaro já foi duas vezes à Comissão do Senado para depor. “Apresentei na CPI requerimento de convocação do ministro da Saúde para que ele explique com clareza a questão da vacinação de adolescentes e também o plano de vacinação para 2022. Não é aceitável que a maior autoridade de saúde do país se manifeste de forma vaga e alarmista”, disse o parlamentar na publicação. Em entrevista coletiva ontem à tarde, Queiroga reclamou que a vacina para adolescentes e idosos foi aplicada mais cedo pelos governadores e prefeitos. O ministro chegou a considerar o procedimento “intempestivo” e criticou Estados por não seguirem as orientações federais. Até então, Marcelo Queiroga era favorável à vacinação de adolescentes e havia previsto o início da imunização para todos os jovens assim que os adultos tivessem a primeira dose.