Nonato Guedes
Teoricamente privilegiados porque nas eleições de 2022 ainda estarão na metade do mandato de oito anos conquistado em 2018, os senadores Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e Daniella Ribeiro (PP) relutam diante da proposta de concorrer ao governo do Estado e não se movimentam de forma ostensiva para viabilizar esse desideratum. Antes, trabalham para favorecer outras pretensões, situadas nas respectivas esferas familiares. Veneziano tenta emplacar a candidatura da sua mulher, a secretária de Estado Ana Cláudia Vital do Rêgo à vice-governança na chapa de Azevêdo ou, em último caso, a deputada federal. Daniella age para que o irmão, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, também do PP, seja candidato ao Senado no pleito vindouro.
Já houve pré-lançamento das duas candidaturas – de Veneziano e Daniella ao governo do Estado, por iniciativa de aliados políticos, mas sem inflexão que abrisse caminho para consolidá-las, o que tornou o gesto apenas uma menção honrosa, não um projeto concreto. Adversários políticos na cidade de Campina Grande, Veneziano e Daniella têm credenciais indiscutíveis para pleitear o Palácio da Redenção. O emedebista já foi prefeito da Rainha da Borborema por duas vezes e deputado federal, presidindo atualmente o diretório do partido, que herdou com a morte do senador José Maranhão. No plano nacional, é primeiro vice-presidente do Senado. Daniella foi deputada estadual, ex-candidata a prefeita de Campina Grande, tornou-se a primeira mulher eleita ao Senado na história da Paraíba e tem projeção tanto na estrutura de poder do Congresso como na atuação parlamentar.
Dos dois, Daniella foi mais afirmativa ao sinalizar a possibilidade de concorrer ao governo do Estado quando lembrada ou abordada por jornalistas nesse sentido. Deixou claro que seria um coroamento natural da carreira que tem trilhado, além da oportunidade para pôr em execução ideias gerais de um plano de governo para este Estado, mas nunca colocou essa hipótese em termos irreversíveis. Pelo contrário, evidencia que sua prioridade, em termos de compromisso, é com a candidatura do irmão ao Senado. O “clã” Ribeiro, que controla o PP, aliou-se em Campina nas eleições municipais de 2020 com o esquema Cunha Lima-Rodrigues, indicando o nome de Lucas, filho de Daniella, para vice de Bruno Cunha Lima (PSD), o eleito. Na Capital, o PP controla a prefeitura com Cícero Lucena, que se fez candidato com o reforço do esquema político do governador João Azevêdo (Cidadania).
Na história recente, desde 1982, das eleições diretas para o governo da Paraíba, há registro de dois senadores que na metade desses mandatos partiram para concorrer ao Executivo: Marcondes Gadelha, em 1986, pelo PFL, e Antônio Mariz, em 1994, pelo PMDB. Gadelha estava senador em 86 quando foi convocado a substituir o empresário José Carlos da Silva Júnior, já falecido, que renunciara à candidatura ao governo pelo PDS, no esquema liderado pelo ex-governador Wilson Braga, também falecido. Na ocasião, um atarantado Marcondes foi “convencido” por Braga a aceitar o desafio com um argumento nada auspicioso: “Você tem que ser o candidato porque é o único que pode perder”. Era uma referência ao fato de que, mesmo perdendo o governo, Gadelha ainda continuaria no Senado, com quatro anos de mandato parlamentar. Ainda hoje Gadelha comenta, em tom de blague: “Foi o mais inusitado artifício de ‘estímulo’ ou ‘incentivo’ que já recebi na vida pública”. Ele concorreu contra Tarcísio Burity, que migrara para o PMDB, e foi ungido com quase 300 mil votos de maioria, num pleito que teve “empurrão” decisivo do chamado Plano Cruzado, do governo José Sarney.
Mariz teve melhor sorte quando resolveu trocar o mandato no Senado pela disputa da cadeira de governador em 1994. Ele havia conquistado o mandato senatorial em 1990, concorrendo justamente contra Marcondes Gadelha. Em 94, derrotou Lúcia Braga (PFL) na corrida pelo governo do Estado numa das mais memoráveis disputas da história política local, e morreu no exercício do poder, vítima de câncer, tendo o restante do mandato sido empalmado por José Maranhão, que fora escolhido como seu vice. Diga-se, em relação a Antônio Mariz, que a chegada ao Palácio da Redenção deu-se na terceira tentativa empreendida pelo político que foi considerado Constituinte Nota Dez no final da década de 80. Em 1978, Mariz tentou ser governador pelo processo indireto, sendo batido em convenção por Tarcísio Burity, embora gozasse de popularidade. Em 82, no voto direto, perdeu para Wilson Braga por 151 mil votos de diferença, até que em 94 confrontou-se com Lúcia Braga e saiu com o troféu nas mãos.
Veneziano, quando filiado aos quadros do PMDB, lutou internamente para conseguir ser indicado candidato ao governo em várias ocasiões, mas sempre foi preterido por outros nomes que se impunham naturalmente ou eram impostos pela cúpula, ainda ao tempo do senador Humberto Lucena. Quando José Maranhão passou a ser hegemônico no PMDB, centralizou a vaga de candidato a governador, alternando derrotas depois de ter entrado na história como “tríplice coroado” à frente do Executivo estadual. A falta de espaços e de atenção para com sua pretensão legítima de disputar o governo levou Veneziano a mudar de sigla e ingressar no PSB, pelo qual foi eleito senador em 2018, contando com o reforço do então governador Ricardo Coutinho. Por incompatibilidades com Coutinho articulou a volta ao agora MDB, onde tem o desafio de reestruturar e fortalecer os quadros. A hipótese de conquistar o Palácio da Redenção não saiu do seu radar, mas somente uma grande reviravolta no quadro político estadual arrastará Veneziano para um projeto que tem sido adiado por razões alheias à sua vontade. A dados de hoje, o seu compromisso é de apoio à reeleição de João Azevêdo.