Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (Cidadania) deixou claro, na entrevista que concedeu ao programa “Correio Debate”, da Rede Correio Sat, que não vai ceder às pressões, originárias do seu bloco político, para precipitar definições de nomes que comporão a chapa a ser encabeçada por ele na disputa majoritária de 2022. Respeita a movimentação de líderes de partidos aliados, bem como pretensões que estão postas, em caráter preliminar, à vice-governança e à vaga ao Senado que estarão em jogo no pleito vindouro, mas tem a convicção pessoal de que é uma temeridade precipitar posições com um ano de antecedência da disputa propriamente dita, quando regras ainda estão sendo pré-fixadas, com forte impacto na classe política. Será inútil qualquer esforço para demovê-lo do script que traçou para si próprio. “Acabou a época em que governador interferia em partidos, na Paraíba”, ele foi categórico.
Além das pré-candidaturas dos deputados federais Aguinaldo Ribeiro (PP) e Efraim Filho (DEM) ao Senado, tem sido mencionada a especulação de uma provável candidatura do presidente da Assembleia Legislativo, Adriano Galdino, que migrará para o Avante, a vice-governador. Nenhuma objeção há, da parte do governador, a tais ambições ou postulações, mas também não há qualquer sinal de preferência ou de compromisso com A ou B nesse cenário. Os âncoras do programa jornalístico, profissionais respeitados como Victor Paiva, Lázaro Farias e Josival Pereira, cumpriram seu papel de perguntar, até em função de fatos políticos que não podem passar desapercebidos na conjuntura local. Na sua vez de responder, o chefe do Executivo lamentou desapontar os jornalistas, pregando respeito ao seu “tempo”, que não é o de agora.
João Azevêdo deixou claro que a sua cautela ou parcimônia em relação a definições não decorre apenas ou necessariamente de estratégia política, cogitada sob cálculo para despistar adversários ou para evitar sangria desatada, desde agora, na órbita que comanda, com prejuízos para a capilaridade eleitoral que procura consolidar na conjuntura do Estado. A indefinição é provocada, também, pelo fato de que somente a partir de agora algumas regras começam a tomar corpo para as eleições vindouras, a exemplo do fim das coligações proporcionais, já decidida pelo Senado. Para o governador, basta esse episódio para exemplificar quão diferente pode ser a realidade lá na frente – mais precisamente em outubro de 2022, quando for travado o primeiro turno das eleições ao Executivo.
Ele foi bastante direto ao aludir à extrema dificuldade que muitas legendas enfrentarão para conseguir eleger pelo menos um ou dois deputados federais, debaixo de nova legislação, no próximo ano, que afetará profundamente o chamado coeficiente com que trabalham as cúpulas partidárias para projetar perspectivas de crescimento ou projeções de definhamento político-eleitoral. Se os obstáculos forem transplantados para as disputas majoritárias, à Presidência da República e a governos estaduais, a sobrevivência de partidos que atualmente estão até bem colocados tornar-se-á um processo árduo, penoso, até, para muitas cabeças coroadas da política. É preciso, então, estar atento aos sinais, e é isto o que o governador paraibano procura fazer, de forma bastante pragmática, sem se deixar enredar pelo canto de sereia de quem quer que seja, mas também sem se intimidar com arreganhos de ameaças à sobrevivência do esquema político que passou a liderar desde a cessação da sua convivência com o ex-governador Ricardo Coutinho, no PSB.
A gestação da fusão entre o Democratas e o Partido Social Liberal, decidida em convenções nacionais preliminares, é ilustrativa, para o governador João Azevêdo, da instabilidade reinante no horizonte, obrigando os políticos responsáveis a serem realistas e acreditados nas suas análises de perspectivas ou de suposta falta de perspectivas para os embates vindouros. A tendência, conforme o governante, é que seja mesmo encorpado o atual sistema partidário nacional, multifacetado em mais de três dezenas de legendas, verdadeira miríade inédita e somente plausível por algumas peculiaridades típicas do modelo institucional brasileiro, ainda eivado de distorções quanto à sua plena representatividade. Pelo que Azevêdo tem conversado com a cúpula do “Cidadania”, talvez esse partido não precise passar pelo moedor da fusão. Particularmente na Paraíba a legenda saiu até fortalecida das eleições municipais de 2020. Mas será preciso saber – e este é um ponto de interrogação para Azevêdo – a quantas andará o destino de várias legendas que estão na sua base local. Em resumo: quais delas sobreviverão ao “encorpamento”, que pode fazer com que se chegue a janeiro com 12 ou 13 legendas remanescentes?
Ficaram em aberto, na entrevista de Azevêdo, questões sobre sua posição diante de uma provável candidatura da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) ao Palácio ou sobre como se conciliará diante de pretensões concorrentes dos deputados Aguinaldo Ribeiro e Efraim Filho. Há, também, a questão do apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Planalto. Azevêdo mantém esse apoio e não está preocupado em monopolizar palanque regional do pré-candidato petista, mas não tem qualquer interesse em dividir metro quadrado com o seu ex-aliado Ricardo Coutinho. Em última análise, o que o governador deixou claro é que respeita, para valer, a autonomia dos mais diferentes partidos que estiverem presentes na cena política de 2022. “Acabou a época em que governador, na Paraíba, interferia em outros partidos”, sublinhou ele, com bastante ênfase, mais de uma vez. Deu a entender que a recíproca é verdadeira, ou seja, o mantra do respeito à liberdade e autonomia também vale para ele. A entrevista valeu mais pelo que o governador deixou implícito nas entrelinhas do que pelo que, de fato, ele declarou aos microfones da emissora do Sistema Correio de Comunicação.