Nonato Guedes
O cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, que vinha se destacando como Ministro da Saúde pelo respeito à Ciência e pelo jogo de cintura político, além do avanço que conseguiu imprimir à campanha de vacinação contra a covid-19 junto a diferentes grupos sociais no país, está no centro das atenções, ultimamente, por uma série de atitudes que o tornaram uma figura polêmica, criticada na mídia e nas redes sociais. As posições radicais, até agressivas, que tem tomado, contribuíram para expor Queiroga a um verdadeiro inferno astral. Ele passou a ser bombardeado na CPI da Covid, instalada no Senado, à qual terá que voltar para depor, e ficou desgastado com a polêmica proibição da vacinação dos adolescentes com idade entre 12 e 17 anos. Estados e municípios brasileiros descumpriram a ordem do ministro, que, ainda por cima, contraiu covid na viagem a Nova York integrando a comitiva do presidente Jair Bolsonaro. Ele permanece em Nova York cumprindo quarentena dentro do isolamento recomendado para casos de contaminação.
Nos EUA, o ministro Marcelo Queiroga protagonizou uma cena que teve ampla repercussão negativa em todo o mundo, quando xingou manifestantes que protestavam contra a presença do presidente Bolsonaro e contra a postura negacionista assumida pelo seu governo em relação à pandemia de coronavírus. Por outro lado, o ministro se preocupou em demonstrar fina sintonia com o presidente da República, não contestando, em nenhum momento, afirmações feitas por ele na assembleia geral das Nações Unidas, algumas das quais foram consideradas mentirosas ou fantasiosas. Entre os críticos do médico paraibano, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, não faltaram avaliações de suposta subserviência sua perante o presidente Jair Bolsonaro. Ele chegou a ser mencionado em artigos jornalísticos como um carreirista que faz de tudo para se manter no cargo e no poder.
A proibição de vacinação de adolescentes com idades entre 12 e 17 anos ocorreu no último dia 15 e a alegação do ministro da Saúde foi de que teria sido uma medida preventiva, diante da morte de uma jovem vacinada, mas o argumento ruiu por terra quando ficou comprovado que o óbito não teve o imunizante como causa. Na sequência, em meio a versões desencontradas, apurou-se que a determinação de suspensão da vacinação partiu do próprio presidente da República, diante de problemas logísticos na distribuição de vacinas com Estados e municípios. O estrago de imagem já havia sido feito e a questão chegou ao Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Ricardo Lewandowski proferiu decisão reconhecendo o direito de Estados e municípios, ou sua autonomia, em relação ao assunto.
Enquanto Marcelo Queiroga viajava aos Estados Unidos, pipocaram denúncias de que, na condição de ministro, ele vinha transportando parentes com frequência em aviões da FAB durante agendas oficiais. Os fatos, naturalmente, ecoaram como bomba na Comissão Parlamentar de Inquérito, ensejando nova convocação ao ministro para depor no âmbito da CPI, o que acontecerá no seu retorno ao Brasil, uma vez cumpridos os protocolos sanitários exigidos para pessoas contaminadas com a covid-19. Analistas políticos avaliam que Queiroga tornou-se mais próximo e mais afinado com posições radicais do presidente Jair Bolsonaro e do seu entorno e que essa fidelidade assegurou a sua permanência à frente da Pasta. Em contrapartida, o conceito do ministro caiu, pesadamente, junto a segmentos formadores de opinião pública. O seu retorno é aguardado com expectativa, diante de novos desdobramentos referentes à sua atuação no governo de Bolsonaro.