Nonato Guedes
Por mais que o ex-prefeito de Campina Grande Romero Rodrigues (PSD) garanta que está se movimentando para costurar sua candidatura ao governo em oposição ao governador João Azevêdo (Cidadania), expoentes da própria oposição cobram mais clareza e, principalmente, “atitude” da parte dele quanto ao projeto para o Executivo estadual. O deputado estadual Walbber Virgolino, do Patriota, queixa-se da postura de Romero que, segundo ele, é comodista e não afirmativa, deixando margem a dúvidas sobre sua disposição para o enfrentamento na luta majoritária, que será renhida. Aliados mais próximos de Romero, como o deputado Tovar Correia Lima, do PSDB, pedem calma e alegam que, diante do rolo compressor oficial, a estratégia adversária terá de ser, em certa medida, silenciosa, até que sejam amarrados compromissos de apoio a uma eventual candidatura. A impressão é que Rodrigues está em apuros, “entre a cruz e a caldeirinha”, no jargão popular.
Romero se defende alegando que não está parado; pelo contrário, tem conversado com diferentes lideranças políticas de municípios da Paraíba e discutido perspectivas do processo eleitoral vindouro. Infelizmente, o ex-prefeito não revela com quais líderes está dialogando e em que bases as conversas estão sendo produzidas. Em tese, ele estaria coberto de razão, já que o próprio governador João Azevêdo, que detém poderosa máquina nas mãos, evita precipitar discussões no seu agrupamento político. A questão é que a oposição está insegura quanto às suas chances concretas no páreo a ser travado dentro de quase um ano e avalia que já é hora de botar o bloco na rua, pelo menos para massificar um nome ou um rosto, perante parcelas do eleitorado. Lembra-se que em 2018 a demora na escolha da candidatura levou à derrota da oposição, com vitória de João Azevêdo logo no primeiro turno.
Antes mesmo de concluir seu segundo mandato consecutivo à frente da prefeitura de Campina Grande, Romero Rodrigues tornou público o desejo de concorrer ao Palácio da Redenção, criando, naturalmente, expectativa entre forças oposicionistas no Estado, principalmente entre as que são mais alinhadas com o presidente Jair Bolsonaro. No percurso, já fora da prefeitura, Romero testou um perfil mais moderado, colocando-se como um político de centro, não como um extremista de direita, o que dessensibilizou bolsonaristas ferrenhos como o deputado Walbber e o ex-candidato a prefeito de João Pessoa Nilvan Ferreira. A posição do ex-gestor campinense agravou-se mais ainda quando ele admitiu estar aberto a conversas com o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que é repudiado por bolsonaristas de raiz e é apoiado simultaneamente pelo governador João Azevêdo e pelo ex-governador Ricardo Coutinho. O aceno de Romero em direção a Lula foi considerado um passo em falso na sua estratégia para somar apoios.
Em termos concretos, o grande passo dado por Romero no papel de pré-candidato a governador foi o de se lançar dentro do PSD contando com o apoio oficial do PSDB, que, inclusive, para facilitar as coisas, retirou postulação idêntica do deputado federal Pedro Cunha Lima, filho do ex-governador Cássio Cunha Lima. Esperava-se que, a partir daí, Romero concretizasse outros movimentos de impacto, em proveito do fortalecimento da pretensão de concorrer ao governo. Mas, em vez disso, o que ocorreu foi a ausência de uma agenda mais proativa de sua parte, incluindo debate sobre temas de interesse da população paraibana, o que provocou retraimento da parte de figuras de expressão como Nilvan Ferreira, que comanda o PTB local. “Romero não se define e isto dificulta o trabalho da oposição para montar uma chapa competitiva”, argumenta o deputado Walbber Virgolino. É um impasse que está colocado e que Romero tenta administrar ganhando tempo, sem sinalizar decisões.
O grau de impaciência nas hostes oposicionistas paraibanas elevou-se nos últimos dias com postagens feitas em rede social pelo ex-prefeito Romero Rodrigues de imagens suas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, numa das quais escreveu ter saudades do tempo de deputado federal e na outra patenteou que ser senador é o sonho de todo legislador. Bastou isso para que as cobranças fossem redobradas em torno do ex-prefeito de Campina Grande, com insinuações de que ele estaria “brincando de ser candidato a governador”. Numa das legislaturas em que foi deputado federal, Romero teve como colega de mandato o atual presidente Jair Bolsonaro, que trilhou carreira parlamentar pelo Estado do Rio – e ambos eram integrantes do chamado baixo clero da Casa. Havia, inclusive, a especulação de que Romero, após deixar a prefeitura, iria ocupar cargo no governo Bolsonaro, mas nenhuma definição ocorreu nesse sentido.
A impaciência dentro das hostes oposicionistas decorre, também, da possibilidade de outra alternativa ao governo do Estado, que seria representada pelo ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), dividindo o campo progressista, já que ele e seu grupo apoiam a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. Com a polêmica agravada pelas regras eleitorais que estão sendo aprovadas – incluindo já o fim da volta das coligações proporcionais – os oposicionistas paraibanos querem mensurar seus espaços concretos na cena do próximo ano, e é por isso que querem apressar um carro-chefe que possa puxar outras definições, ou seja, a candidatura a governador. É um fogo cruzado inescapável – e o desafio, para Romero, é provar se estará à altura de encampar, como pretende, a bandeira da oposição a João Azevêdo em 2022.