Nonato Guedes
O presidente Jair Bolsonaro completou, ontem, mil dias à frente do cargo ostentando elevado índice de rejeição, enfrentando rotatividade de ministros no governo e devendo ao país uma agenda de obras de impacto e de outras realizações que caracterizem marcas simbólicas do seu período. Em artigo no UOL, Diogo Schelp analisa a questão da aprovação do governo e conclui que o mandatário tem uma situação pior do que todos os outros presidentes que buscaram a reeleição desde a redemocratização, há mais de 30 anos. Ressalta que todos os que tiveram a chance de tentar mais um mandato foram bem-sucedidos e indaga se essa tradição política será quebrada com Bolsonaro, que está praticamente a um ano da campanha em busca de um novo mandato no Palácio do Planalto.
As pesquisas de intenção de voto publicadas por diferentes institutos mostram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) muito à frente na disputa, com possibilidade de vencer a eleição de 2022 já no primeiro turno, uma situação que era absolutamente impensável quando Lula permaneceu 580 dias preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba, envolvido em processos permeados por denúncias de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Em entrevista à revista “Veja”, Bolsonaro desdenha dos números, dizendo que “pesquisa é uma coisa, realidade é outra”. Embora o argumento não seja de todo desprovido de fundamento, a verdade é que, como termômetro do momento, a pesquisa pode indicar uma tendência futura. No último levantamento Datafolha, divulgado há duas semanas, apenas 22% dos entrevistados avaliaram o governo do capitão como ótimo ou bom. Por analogia, Dilma Rousseff, mais ou menos no mesmo estágio do primeiro mandato, tinha uma aprovação de 36%, Lula tinha 35% e Fernando Henrique Cardoso 39%.
“Ou seja, todos os últimos presidentes que se reelegeram tinham, a pouco mais de um ano do pleito, uma avaliação positiva de mais de um terço da população. Isso permitiu que todos chegassem como favoritos nas urnas, mesmo quando venceram por uma margem pequena, como ocorreu com Dilma Rousseff”, analisa o colunista do UOL. Bolsonaro detém a aprovação de mais ou menos um quarto dos entrevistados, apenas, e isso mostra o quanto o presidente precisa recuperar de popularidade para conseguir ser efetivamente competitivo em 2022. Seu apoio está cada vez mais limitado a uma parcela da população ideologicamente alinhada a ele. Por enquanto, isso é o suficiente para chegar ao segundo turno – principalmente se o centro político continuar pulverizado em diversos candidatos. Mas, para o segundo turno, é o prenúncio de um vexame eleitoral, o que já é admitido, em tom de preocupação, por aliados mais exaltados do presidente da República.
No balanço dos mil dias, além da rejeição alta, o governo de Jair Bolsonaro enfrenta simultaneamente crises sanitária, econômica e hídrica, a primeira decorrente da pandemia do novo coronavírus, que teve reflexos na paralisação de atividades do setor produtivo, impossibilitando níveis de crescimento e de emprego mais alentadores, tanto para a população como para o governo. Afirma-se que, no esforço para recuperar terreno diante do visível desgaste experimentado, Bolsonaro aposta nesta semana em viagens e obras para marcar os mil dias de governo. A previsão é que ele se dedique nos próximos dias a participar de uma série de eventos, entre anúncios e inaugurações de obras, e a viajar pelo país ao lado de ministros e gestores aliados locais. A dúvida é saber se esse esforço concentrado funcionará como antídoto à impopularidade acentuada do presidente.
Além da rejeição alta, segundo a mesma pesquisa Datafolha, o presidente Bolsonaro tem hoje apenas 25% das intenções de voto na batalha pela reeleição, em segundo lugar na corrida eleitoral, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva, com 44%. Já a pesquisa Ipec divulgada na última quarta-feira pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo, mostrou Lula liderando o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 em dois cenários distintos, com mais de vinte pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro. Além do fiasco do governo Bolsonaro, a posição de Lula tornou-se confortável devido a vitórias consecutivas obtidas na Justiça, a partir da decisão que lhe assegurou elegibilidade para o pleito de 2022. Desde então, tem trilhado céu de brigadeiro e, depois de quase seis anos, está a um passo de triunfar totalmente sobre a Operação Lava-Jato. “Com a vida ganha na Justiça, Lula autorizou petistas a iniciarem aproximações com antigos aliados que o delataram na Lava Jato”, informa a revista “Veja”, citando uma das pontas da estratégia que o ex-presidente desenvolve para sua reabilitação política plena e, possivelmente, para sua volta