Nonato Guedes
O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, do Progressistas, que é aliado do governador João Azevêdo (Cidadania), deixou claro que reconhece as ações do governo do presidente Jair Bolsonaro, ao ensejo dos mil dias no poder, ao mesmo tempo em que elogia o governo estadual pelas parcerias que têm possibilitado investimentos e obras na capital paraibana. “Em nove meses de gestão, tenho tido demandas importantes encaminhadas e equacionadas pelo governo federal”, salientou ele, dizendo-se grato pelo apoio recebido. Hoje, João Pessoa recebe o evento de divulgação das ações dos mil dias de governo Jair Bolsonaro, estando prevista a vinda de ministros, inclusive do interino da Saúde, Rodrigo Cruz, para visitas a estandes de testagem e vacinação contra a Covid e entrega de veículos do Ministério da Cidadania, além da apresentação de vídeos de instituições e falas de representantes do governo federal.
O “jogo de cintura” político do prefeito Cícero Lucena é explicável: na campanha eleitoral de 2020 ele teve o apoio decidido do governador João Azevêdo, então já rompido com o antecessor, Ricardo Coutinho, que indicou o candidato a vice, Leo Bezerra, expoente da legenda do governador. A campanha foi vitoriosa no segundo turno, em confronto com Nilvan Ferreira, atual PTB, que na época concorreu pelo MDB com o estímulo direto do senador José Maranhão, que morreu de complicações da Covid após a campanha. A disputa de 2020 marcou a terceira tentativa de Cícero Lucena de ocupar a prefeitura de João Pessoa, que havia exercido há pelo menos 17 anos, militando em outro partido (o PSDB) e aliado a outros líderes políticos como os ex-governadores José Maranhão e Cássio Cunha Lima.
Depois de eleito prefeito pela terceira vez, Cícero estreitou canais com o governo do presidente Jair Bolsonaro para solucionar pleitos considerados relevantes para o processo de desenvolvimento que ele concebeu para João Pessoa. Ainda recentemente, a primeira-dama do país, Michelle Bolsonaro, esteve em João Pessoa, acompanhada do ministro da Saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, para o pontapé nas obras de construção de um Hospital destinado a pacientes portadores de Doenças Raras, que tende a ser uma experiência-modelo no país, devendo servir de exemplo para outras Capitais de Estados importantes. O ministro Marcelo Queiroga, aliás, tem sido extremamente solícito com demandas originárias da prefeitura de João Pessoa, tendo tido papel valioso na aceleração do plano de imunização contra a covid, mediante atenção a pendências e presteza na remessa de vacinas para atender a grupos sociais prioritários. A ascensão do presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, à chefia da Casa Civil do Planalto, também facilitou as coisas para o prefeito de João Pessoa.
Com o governo do Estado, através do governador João Azevêdo, Cícero mantém um intercâmbio constante, tendo conseguido “fechar” há poucos meses um pacote de investimentos considerados vultuosos, contemplando obras e serviços de infraestrutura, bem como empreendimentos de impacto que terão condições de alavancar o processo de crescimento local, coincidindo com a conclusão da campanha de vacinação em massa contra a covid, pandemia que teve reflexos cruciais para as atividades produtivas e arranjos econômicos a partir de João Pessoa. O entrosamento assinalado entre governo do Estado e prefeitura de João Pessoa redime a Capital paraibana dos prejuízos que enfrentou em virtude da ausência de relações republicanas, na esfera de poderes, em pelo menos uma década. Ações administrativas que poderiam ter sido desenvolvidas de forma conjunta, articulada, o foram de forma isolada e sem maior planejamento, penalizando diretamente a população, daí a postura que Cícero adota tanto em relação ao governo estadual como em relação ao governo federal.
Em termos político-partidários, Cícero aguarda orientações da cúpula do Partido Progressistas sobre definições para a campanha eleitoral do próximo ano, mas não esconde, em princípio, seu compromisso para com a candidatura do governador João Azevêdo à reeleição, até como retribuição pelo apoio decisivo que dele obteve no pleito municipal e que viabilizou a sua volta ao Centro Administrativo pessoense. Isto não significa alinhamento automático com a pretensão, já anunciada por Azevêdo, de apoiar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República. Cícero, que foi secretário de Políticas Regionais, com status de ministro, no governo Fernando Henrique Cardoso, não tem afinidades com o PT. Uma outra definição sua diz respeito à luta pela única vaga ao Senado que estará em jogo em outubro de 2022. Ele, que já foi senador, é inflexível na declaração de apoio à pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, que até agora tem como concorrentes anunciados o deputado federal Efraim Filho, do DEM, e o ex-governador Ricardo Coutinho, que está voltando às hostes petistas.