Nonato Guedes
O Partido dos Trabalhadores promove, hoje, às 17h, ato de refiliação do ex-governador Ricardo Coutinho à legenda, que ocorrerá de forma virtual, com transmissão pela TV PT e por redes sociais e terá a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da presidente nacional Gleisi Hoffmann e do ex-candidato a presidente da República, Fernando Haddad. Ricardo se desligou do PT em 2003 por divergências causadas pelo seu interesse de ser candidato a prefeito de João Pessoa, o que não foi aceito pela maioria que dominava a cúpula. Ingressou, então, no PSB, pelo qual concorreu à prefeitura e foi vitorioso, em 2004, sendo reeleito em 2008. Em 2010, elegeu-se governador e foi reeleito para o posto em 2018.
Desde então, está no “limbo” e enfrenta acusações de envolvimento com a operação Calvário, do Ministério Público, que apura desvios de recursos das áreas da Saúde e da Educação no governo do Estado, no período em que ele enfeixou o poder. Tem pela frente, também, a ameaça de inelegibilidade, em princípio decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Apesar de ter migrado para o PSB, Ricardo Coutinho manteve canais abertos com figuras nacionais do PT, tendo se solidarizado abertamente com a ex-presidente Dilma Rousseff por ocasião do processo de impeachment a que ela foi submetida e que acabou se concretizando. Ricardo, também, fez gestos na direção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja prisão pela Polícia Federal, no âmbito da operação Lava Jato, teve o seu repúdio. O então governador fez uma visita a Lula quando ele se encontrava recolhido à carceragem da PF em Curitiba, no Paraná, onde permaneceu 580 dias.
Acusado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra a Corrupção), do MPPB, de ter chefiado uma suposta organização criminosa suspeita de desviar recursos públicos, Ricardo Coutinho sempre negou as acusações e traçou um paralelo entre as denúncias contra ele e as que atingiram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas eleições municipais de 2020 a prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, mesmo já sob fogo cruzado, conseguiu liberação da Justiça Eleitoral para concorrer ao cargo, e teve declaração explícita de apoio do ex-presidente Lula no Guia Eleitoral. O gesto de Lula foi surpreendente porque menosprezou o candidato próprio do PT à sucessão pessoense, o deputado estadual Anísio Maia, que ficou em último lugar no pleito e foi contestado judicialmente pelo diretório nacional petista presidido por Gleisi Hoffmann. Não obstante, Anísio está engajado à pré-candidatura de Lula a presidente da República em 2022, embora faça restrições ao retorno de Ricardo Coutinho e se considere alinhado ao governador João Azevêdo (Cidadania). No pleito à prefeitura, Ricardo obteve votação decepcionante, não logrando ir para o segundo turno.
O ex-governador, que em 2018 se recusou a disputar vaga ao Senado, preferindo continuar no exercício do cargo até o último dia, a pretexto de eleger o sucessor, João Azevêdo, e derrotar Cássio Cunha Lima (PSDB), que concorria à reeleição ao Senado, chegou a ser prestigiado dentro do PSB mesmo após as denúncias e citações na operação Calvário. Ele foi investido, inclusive, na presidência da Fundação João Mangabeira, espécie de organismo de estudos políticos da realidade brasileira criado pelo PSB, mas acabou afastado, até por conta das restrições legais para deslocamento a Brasília e a outras capitais a fim de participar de eventos. A Justiça da Paraíba chegou a obrigar Ricardo a usar tornozeleira eletrônica e ele ficou preso por um dia e foi submetido a audiência de custódia no TJ, tendo refutado as insinuações e se queixado de perseguição “midiática”. Concretamente, no período em que militou no PT, Coutinho exerceu mandato de vereador e de deputado estadual. Em 2010, num lance espetacular, atraiu o PSDB e o então PFL para uma aliança no pleito majoritário estadual, que triunfou nas urnas. Deixou os quadros do PSB alegando descaracterização da legenda e desrespeito a princípios na Paraíba. Ricardo rompeu com o governador João Azevêdo logo nos primeiros meses da investidura deste no Palácio da Redenção e fez retaliações contra aliados políticos do novo gestor paraibano.