Nonato Guedes
Faltando praticamente um ano para o primeiro turno da disputa presidencial brasileira, levando-se em conta que a eleição de 2022 está marcada para dois de outubro, ela já se configura como a primeira em que o candidato à reeleição não tem a vantagem nas pesquisas neste momento da disputa. Como revela o site “Poder 360” em análise circunstanciada, os candidatos à reeleição na história política recente do Brasil já tinham superioridade um ano antes, ocupando o primeiro lugar nas pesquisas. Igualmente contavam com uma avaliação relativamente positiva de suas gestões. Não é, contudo, o mesmo cenário do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cuja popularidade derrete, alimentando até mesmo dúvidas sobre se ele vai mesmo encarar o desafio de um novo mandato.
A eleição de 2022 marca os vinte e cinco anos desde que a reeleição para ocupantes do Poder Executivo no governo foi aprovado no Brasil. O “Poder360” levantou os dados dos dois principais nomes em cada disputa desde 1989, a primeira eleição direta após a derrocada da ditadura militar que vigorou por 21 anos, valendo-se de pesquisas do Datafolha e do Ibope realizadas em setembro ou outubro do ano anterior à eleição. Quando não havia levantamento feito nesses meses, foi considerada a data mais próxima para efeito de análise ou de comparativa. Nesse contexto, foram considerados os votos totais (incluindo brancos e nulos) e não os votos válidos, do primeiro turno. Esse critério foi utilizado porque as pesquisas sobre o primeiro turno costumam calcular o percentual obtido pelos candidatos tomando-se como parâmetro, também, os votos brancos e nulos e os percentuais de eleitores indecisos.
São 32 anos de eleições diretas pelo Palácio do Planalto depois da ditadura militar. A reeleição só começou a valer em 1997, depois de uma emenda constitucional. Desde então, as três tentativas de reeleição à presidência foram bem-sucedidas: Fernando Henrique Cardoso, pelo PSDB, em 1998, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2006 e Dilma Rousseff (PT) em 2014. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o único que tem a avaliação de seu governo empatada entre aqueles que consideravam a gestão ótima, boa, ruim, ou péssima – 28%, cada. Mas a avaliação do primeiro mandato do petista como regular somava 42%. Bolsonaro detém a maior taxa de ruim ou péssimo entre os candidatos à reeleição: 48%, segundo a pesquisa PoderData mais recente, realizada de 27 a 29 de setembro em todo o país, com 2.500 pessoas. Entre todos os presidentes brasileiros, é a terceira pior marca, atrás apenas do governo de José Sarney, que era considerado ruim ou péssimo por 65%, e pelo governo de Michel Temer (MDB), o mais rejeitado, com 71%.
O PoderData também mostra que Lula está à frente de Bolsonaro na intenção de voto no primeiro turno na eleição de 2022. O petista tem 40% das intenções de voto contra 30% atribuídos ao chefe do Executivo. No cenário que prospectou um possível segundo turno, Lula da Silva venceria com 56% dos votos, enquanto Jair Bolsonaro teria 33%. Além das pesquisas e resultados do primeiro turno, o Poder360 também levantou os dados econômicos brasileiros a um ano da eleição. Foram considerados os dados mais recentes disponíveis em 2021, como base para os dados dos anos anteriores. Pelo lado positivo, o governo pode contar com um crescimento econômico maior neste ano. As projeções do mercado financeiro indicam um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,0%. É o maior valor para o ano pré-eleitoral. As reservas internacionais também apresentam um cenário positivo. Bolsonaro enfrenta uma situação inédita: tentar a reeleição no meio de uma pandemia. Com quase 600 mil mortos, o Brasil está em oitavo lugar entre os países com mais mortos por milhão de habitantes. A gestão da pandemia tem sido um dos pontos mais criticados de sua administração.
Um dos pontos mais negativos para Bolsonaro, e um dos mais visíveis para a população, é a inflação. Desde o Plano Real, em 1994, o governo atual tem a maior inflação acumulada em doze meses. A prévia do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de setembro aponta uma inflação de 10,05%. Outro ponto de pressão é o desemprego. Atualmente, a taxa de desocupação está em 13,7%, maior valor para o período pré-eleitoral desde o início da série histórica, em 2012. São 14,1 milhões de desempregados, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do trimestre encerrado em julho. Em anos anteriores a 2012, a metodologia do IBGE era diferente. A Pesquisa Mensal de Emprego analisava as estimativas de emprego em seis regiões metropolitanas, por mês. Ainda assim, a taxa atual é maior. O governo Bolsonaro precisa correr com rapidez para deter a escalada de impopularidade, reverter o desgaste que enfrenta e situar-se num patamar competitivo para a campanha da reeleição.
Em tempo: apenas dois presidentes da República não buscaram um novo mandato desde o ensaio de redemocratização até a redemocratização propriamente dita: José Sarney, que se investiu em 1985 com a morte do presidente Tancredo Neves, escolhido na última eleição indireta realizada no país desde a ditadura militar, e Michel Temer, que passou o cargo a Jair Bolsonaro. Temer ascendeu à presidência da República também na condição de vice, sucedendo a Dilma Rousseff (PT), que sofreu processo de impeachment decretado pela Câmara Federal e ratificado pelo Senado. Tanto Sarney como Temer alcançaram índices elevados de rejeição ou desaprovação ao fim dos mandatos, embora Sarney tenha experimentado uma fase de lua-de-mel com a sociedade ao editar o Plano Cruzado, prevendo congelamento de tarifas públicas. O plano fez “furos” e colocou o mandatário no pelourinho, desgastando-o para qualquer tentativa de novo mandato. Curiosamente, nos últimos meses, com o desgaste de Bolsonaro, Temer se movimentou para tentar voltar ao primeiro plano da política nacional, mas suas chances não são levadas a sério pelos analistas políticos.