Nonato Guedes
O ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria, afirmou que se a disputa das eleições de 2022 for entre Jair Bolsonaro (sem partido) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o mercado escolherá Lula. A afirmação foi dada em entrevista à colunista Marta Sfredo, do jornal digital GHZ. “Se a disputa for entre Bolsonaro e Lula, o mercado vai de Lula. Por menos alvissareira que seja a candidatura dele, é menos ruim do que Bolsonaro, que não sabe nem como funcionam as instituições”, salientou o economista paraibano, que foi ministro no governo do presidente José Sarney.
De acordo com Maílson da Nóbrega, grande parte do mercado já desembarcou do governo Bolsonaro. “É a primeira vez que vejo executivos de bancos assinando manifestos por democracia, porque têm a percepção de que está sendo atacada. E as perspectivas econômicas não estão nada boas para 2022”, acrescentou. Ele enfatizou, ainda, que a promessa de uma agenda liberal à la Margareth Thatcher não vai acontecer. “E todos os sinais são de que a economia não está decolando, como disse o ministro Paulo Guedes, mas ocupando a capacidade ociosa”. Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a economia brasileira está “bombando” e “voando”, apesar de indicadores econômicos ainda vacilantes – o país tem 14,4 milhões de desempregados e a inflação já ´passou dos dois dígitos no acumulado em doze meses até a metade de setembro.
O ex-ministro também comentou a pesquisa Datafolha, qie mostrou que 47% dos empresários consideram “ótima” ou “boa” a gestão de Jair Bolsonaro. “Empresários são uma pequena minoria do eleitorado. Podem ser formadores de opinião, podem financiar campanha, mas não ganham eleição. E o financiamento hoje está mais restrito, empresas não podem fazer doações formais”. De acordo com Maílson, em 2022 o mercado não terá dúvida sobre o fracasso do governo Bolsonaro e das promessas do seu ministro da Economia. Maílson da Nóbrega ressaltou que os mais maduros do mercado conhecem Lula.
– É verdade que ele está com um discurso muito ruim de que vai revogar teto de gastos. Isso é uma loucura, mas já provou que é pragmático. Deve fazer, ao longo da campanha, vários movimentos em direção ao centro. Fez isso em 2002, escolhendo José Alencar (empresário, dono da Coteminas) como vice e incluindo na equipe econômica nomes como os de Murilo Portugal e Marcos Lisboa (economistas identificados com a economia de mercado. Isso pode acontecer de novo. Não me surpreenderia se, durante a campanha, (Lula) anunciasse quem seria o ministro da Fazenda, com um perfil próximo de Marcos Lisboa.
Segundo o ex-ministro, a terceira via depende da continuidade da queda de Bolsonaro nas pesquisas e da cristalização da sua rejeição. “Os eleitores percebem que ele não merece o segundo mandato pelo desastre que foi o primeiro. Desde a volta da democracia, nenhum presidente se elegeu com mais de 30% de avaliações negativas, e Bolsonaro está perto de 60%. Se perceber que não chegará ao segundo turno, pode desistir da candidatura. Pode preferir não enfrentar o dissabor da derrota”. Maílson da Nóbrega afirma ainda que Bolsonaro tem o “discurso pronto” para desistir da disputa pela reeleição ao alegar fraude eleitoral e a ausência do voto impresso. “Aí a terceira via ganha força, mas isso teria de acontecer já no primeiro turno. E será preciso uma liderança com capacidade de coordenação e articulação para induzir a escolha de um nome e dizer aos demais “esperem a próxima vez”. Mas quem vai, por exemplo, convencer Ciro Gomes, pré-candidato pelo PDT? Se não for assim, dá Lula”.