Nonato Guedes
O prefeito de João Pessoa, maior colégio eleitoral do Estado, Cícero Lucena, do Progressistas, mantém-se “fechado” no apoio à candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) nas eleições de 2022 mas insiste em defender que a chapa majoritária seja integrada, ainda, pelo deputado federal Aguinaldo Ribeiro como candidato à única vaga de senador. Não esconde que a preferência por Aguinaldo tem a ver com a afinidade partidária, já que ambos são do mesmo partido, o PP, mas também é ditada pelo apoio que tem recebido do parlamentar, através de emendas, a projetos de interesse da atual administração na Capital. Por fim, o gestor, que pela terceira vez está investido no comando dos destinos dos pessoenses, acha que Aguinaldo tem “qualidades” para representar os interesses de todo o Estado no Senado da República. Chegou a se considerar avalista do projeto dele para aquela Casa Legislativa..
As revelações de Cícero sobre questões políticas foram extraídas pelos repórteres do “Correio Debate”, na rádio Correio Sat, que o entrevistaram ontem, também abordando questões administrativas. Acerca deste último aspecto, Cícero falou, com entusiasmo, sobre obras e investimentos que estão sendo carreados na preparação da Capital da Paraíba para alcançar melhor nível de desenvolvimento econômico, proporcional ao crescimento populacional. E destacou a colaboração importante e decisiva que tem sido oferecida pela administração do governador João Azevêdo. Aliás, chamou a atenção para o fato de que, apesar da prioridade do governo nos dois primeiros anos no enfrentamento à pandemia de coronavírus, Azevêdo e sua equipe direcionaram ações para outros segmentos igualmente relevantes, ligados, por exemplo, a atividades produtivas e comerciais.
Houve reconhecimento, também, da parte do prefeito Cícero Lucena, em relação ao apoio que tem recebido do governo do presidente Jair Bolsonaro para demandas de interesse da população encaminhadas junto a canais competentes em Brasília. Pelo que Lucena deu a entender, a acolhida tem sido satisfatória às reivindicações que chegam aos gabinetes oficiais, em ministérios e órgãos da estrutura administrativa federal. Isto o levou a passar a impressão de que seu candidato no páreo presidencial tende a ser Bolsonaro, não cogitando a hipótese de se compor com uma virtual candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), embora Azevêdo tenha preferência por Lula. Para Cícero, o melhor candidato ao Planalto é o que pode fazer mais pela Paraíba e pelo seu povo. De resto, Lucena faz restrições notórias a certas “companhias” que irão estar no palanque de Lula – uma referência não explícita mas aparentemente indiscutível ao ex-governador Ricardo Coutinho, que voltou aos quadros do PT com o prestígio de Lula.
As posições externadas por Cícero guardam coerência com fatos recentes da sua trajetória política. Ele foi denunciado lá atrás, em casos da Operação Confraria, dos quais se desembaraçou, por Ricardo Coutinho, que tinha interesse, então, em ascender à prefeitura municipal de João Pessoa, o que acabou se verificando em duas oportunidades. Quando Cássio Cunha Lima firmou, em 2010, aliança política com Ricardo, Cícero manteve distância e tentou mesmo se viabilizar como candidato próprio ao governo pelo PSDB. Acabou declarando voto em José Maranhão, do PMDB, que perdeu para Ricardo na terceira tentativa de ocupar o Palácio da Redenção. Cícero voltou à cena política sentindo-se bem acolhido no PP e admitiu aliar-se ao governador João Azevêdo quando este já havia rompido com Ricardo. Seu campo de atuação, portanto, não tem ambiguidade, embora certas situações provocadas de fora possam criar-lhe desconforto eventual.
O prefeito de João Pessoa considera natural ou legítima a articulação que o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, desenvolve para se firmar como candidato à vaga de senador, teoricamente na chapa encabeçada pelo governador João Azevêdo. Cícero se dá bem com o “clã” Morais, há um irmão de Efraim Filho ocupando, inclusive, secretaria importante na sua administração, mas se é para definir posição ele não hesita em aliar-se a Aguinaldo Ribeiro, com quem tem interlocução mais direta sobre a pauta administrativa que interessa a João Pessoa. O que ele enfatizou é que ainda parece cedo para algumas definições concretas, tendo em vista a expectativa de novas mudanças pontuais nas regras do jogo eleitoral de 2022. Se não for atropelado pelos fatos, Cícero pretende caminhar junto com Bolsonaro, João Azevêdo e Aguinaldo Ribeiro no pleito vindouro. Sobre a suposta indicação da sua mulher, Lauremília, para candidata a vice de Azevêdo, sente-se grato pela lembrança e não titubeia em apontar credenciais dela, que já ocupou o cargo num dos mandatos de Cássio. Mas esse ponto, para ele, está no terreno das especulações, como tantos outros que são agitados faltando cerca de um ano para a batalha eleitoral propriamente dita.