Nonato Guedes
Há três anos, no dia 7 de outubro de 2018, o engenheiro João Azevêdo, considerado técnico altamente qualificado e experiente em gestão pública, mas neófito em política, emergiu das eleições como governador da Paraíba em primeiro turno, derrotando um “veterano de guerra”, o então senador José Maranhão (PMDB) e o candidato do Partido Verde, Lucélio Cartaxo, que em 2014 havia perdido a eleição ao Senado. Foi a primeira vez, desde 1998, que uma eleição estadual na Paraíba era decidida ainda no primeiro turno. Pela Constituição, Ricardo Coutinho, eleito em 2010 e reconduzido ao Palácio da Redenção em 2014 não poderia concorrer a um terceiro mandato consecutivo. João Azevêdo foi praticamente ungido por Ricardo (ambos, então, eram filiados ao PSB), e alcançou 58,18% dos votos (1.119.758), contra 450.525 atribuídos a Lucélio (percentual de 23,41%) e 335.604 dados a Maranhão, o equivalente a 17,44%.
A disputa ao governo do Estado contou, ainda, com a participação da candidata Rama Dantas, do PSTU, e de Tárcio Teixeira, do PSOL, que, no entanto, obtiveram votações pouco significativas. Foram eleitos, também, Veneziano Vital do Rêgo (então PSB) e Daniella Ribeiro (PP) para as duas vagas ao Senado, sendo derrotado de forma implacável o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), no exercício do mandato, que chegou a despontar como favorito em pesquisas de intenção de voto realizadas por institutos especializados e acabou ficando em quarto lugar. Na época, Cássio atribuiu o resultado, em conversa com jornalistas, a “tsunami” político-eleitoral que teria varrido o país, contrariando prognósticos de analistas locais de que a candidata Daniella Ribeiro, que fazia dobradinha com ele, se descolou da campanha conjunta, investindo maciçamente em sua candidatura. Ela acabou conseguindo um feito histórico, ao se tornar a primeira mulher senadora da crônica política paraibana.
As eleições de 2018 foram pontuadas, no país, pela eclosão do “fenômeno” Jair Bolsonaro, que tentou se apresentar como “outsider” no páreo, descomprometido de maiores ligações com a classe política, e produziu veemente discurso ideológico de direita. Eleito em segundo turno, Bolsonaro quebrou a polarização que até então subsistia no cenário político brasileiro entre PSDB e PT na corrida presidencial, e atraiu para o arco de sua candidatura políticos tucanos e de outros partidos que se sentiram órfãos de representatividade no quadro vigente em 2018. Seu principal adversário, com quem dividiu o segundo turno, foi o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que concorreu pelo Partido dos Trabalhadores em substituição a Luiz Inácio Lula da Silva, com os direitos políticos cassados e cumprindo pena de prisão na superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Como vice, Bolsonaro escolheu outro militar – o general Hamilton Mourão, que é filiado ao PRTB e que nas eleições de 2022 deverá ser candidato a senador, conforme já confidenciou.
João Azevêdo e Ricardo Coutinho empalmaram, na Paraíba, a bandeira da candidatura de Fernando Haddad contra Jair Bolsonaro e o bolsonarismo, o que não impediu o avanço do capitão por segmentos influentes do eleitorado paraibano. Empossado no cargo, Azevêdo passou a se defrontar com obstáculos criados pelo próprio Ricardo Coutinho, tanto em termos administrativos como em termos político-partidários. No primeiro caso, Ricardo tentou exercer influência desmesurada dentro do governo, conseguindo indicar grande número de secretários de primeiro escalão e de ocupantes de escalões intermediários. Muitos desses remanescentes passaram a figurar em processos da Operação Calvário, deflagrada pelo Ministério Público para apurar desvios nas áreas da Saúde e da Educação, e, aos poucos, foram sendo desalojados do governo. Em termos políticos-partidários, Ricardo interveio no comando estadual do PSB, que era exercido por um aliado de Azevêdo – Edivaldo Rosas, e destituiu a direção, em ato de flagrante hostilidade a Azevêdo.
Como reação à operação “manu militari” executada por Ricardo nas hostes partidárias, Azevêdo se desfiliou do PSB em alegação de justa causa, arrebanhou liderados para a criação de um novo partido no Estado, o Cidadania, que já marcou presença relevante nas eleições municipais de 2020, conquistando espaços em redutos eleitorais importantes. O governador, ao mesmo tempo, conservou a maioria na Assembleia Legislativa do Estado, obtendo apoio para a votação de matérias de interesse público encaminhadas pelo Executivo. A vice-governadora Lígia Feliciano (PDT), reeleita com ele, se distancia do governo e corteja, mesmo, hipótese de disputar o Palácio da Redenção. Quanto a Ricardo, migrou espetacularmente do PSB de volta para os quadros do PT, onde foi acolhido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tenta viabilizar uma candidatura ao Senado, que muitos consideram inviável do ponto de vista legal e eleitoral. João Azevêdo lidera pesquisas de intenção de votos para o governo do Estado na campanha à reeleição e se credenciou perante a opinião pública pelo trabalho no enfrentamento à pandemia de coronavírus, bem como, ultimamente, por um pacote de obras e investimentos estruturantes que anunciou.
Os interlocutores de João Azevêdo afirmam que ele foi testado e “aprovado, com louvor”, tanto nos embates político-eleitorais como na condução da administração pública, estando, portanto, favorecido para o confronto de 2022, tendo sido igualmente bafejado por mudanças que estão sendo introduzidas na legislação eleitoral. É uma posição relativamente confortável, diante das notórias dificuldades que a oposição na Paraíba enfrenta para montar esquema alternativo a lhe dar combate no próximo ano. Daí porque a expectativa é redobrada nos meios políticos quanto aos desdobramentos das ações que vão desaguar na disputa do próximo ano, em atmosfera de radicalização, desta feita opondo diretamente os seguidores de João Azevêdo e os partidários de Ricardo Coutinho, que passou a fazer oposição à antiga “criatura” política. João demonstra resiliência ou disposição para os desafios que virão pela frente.