Nonato Guedes
Os deputados federais Efraim Filho, do Democratas, e Aguinaldo Ribeiro, do Progressistas, monopolizam as atenções de meios políticos paraibanos e do próprio eleitorado ao protagonizar, com um ano de antecedência, uma verdadeira “guerra” para conquistar a única vaga ao Senado que estará em jogo nas eleições de outubro de 2022. Ambos possuem até padrinhos influentes na competição prévia – Efraim conta com o respaldo do senador Veneziano Vital do Rêgo, que preside o diretório estadual do MDB e é vice-presidente do Senado Federal, enquanto Aguinaldo tem como autonomeado “avalista” o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, que foi eleito pelo PP. A grande disputa, porém, é pelo apoio do governador João Azevêdo (Cidadania), favorito no páreo à reeleição, que tem evitado precipitar posições por entender que é cedo para tanto.
Aguinaldo e Efraim recorrem a táticas diferentes para conquistar apoios. O deputado “progressista” opera nos bastidores, encaminhando e solucionando demandas de parlamentares, prefeitos e lideranças políticas, principalmente em Brasília, onde o PP foi entronizado em alto estilo no governo de Jair Bolsonaro, com a nomeação do senador Ciro Nogueira (PI) para ministro-chefe da Casa Civil. No provimento dessas demandas, Ribeiro conta com o decidido apoio da irmã, senadora Daniella Ribeiro, que ultimamente tem feito movimentos para reforçar o projeto familiar, anunciando, por exemplo, que não será candidata a governadora, como chegou a ser cogitado. Efraim é mais ostensivo tanto na cooptação de apoios como na massificação da candidatura, já tendo avisado que não há caminho de volta na sua pretensão e que está disposto a concorrer “até em faixa própria”. Dentro do governo estadual, o grande aliado é seu pai, o ex-senador Efraim Morais, que ocupa a secretaria de Agropecuária e Pesca.
Dentro da lógica de que “apoio não se recusa”, Efraim Filho abre canais até com políticos que fazem oposição ao governo João Azevêdo, tendo conversado recentemente no Recife, durante evento político, com o prefeito de Campina Grande, Bruno Cunha Lima, do PSD. Embora não tenha firmado compromisso de pré-apoio a Efraim, até porque integra um grupo que é adversário do senador Veneziano Vital na Rainha da Borborema, Bruno deu declarações elogiando o democrata pela obstinação com que se entregou ao projeto de concorrer ao Senado. Textualmente, pontuou que Efraim Filho demonstra “ter sangue nos olhos”, aludindo à firmeza com que o parlamentar leva adiante o seu projeto, independente de definição ou não por parte do governador João Azevêdo, que é reconhecido como a “joia” da Coroa, até porque a oposição bate cabeça para indicar um candidato capaz de enfrentá-lo ao Palácio da Redenção.
Esta semana, em Brasília, a pré-candidatura do deputado Efraim Filho ao Senado ganhou robustez com a oficialização, pelo Democratas e pelo Partido Social Liberal, PSL, da fusão que resultará na presença, nas eleições de 2022, do maior partido da história do país, com grandes bancadas na Câmara e no Senado e perspectivas de ampliação, avançando por conquistas de governos estaduais, sem falar no tempo expressivo de propaganda no horário eleitoral e na injeção financeira derivada do acréscimo de recursos oriundos do Fundo Partidário. Aliás, Efraim tem procurado sensibilizar o governador João Azevêdo com a perspectiva de espaços no Guia Eleitoral, que seriam garantidos em caso de coligação na disputa majoritária. Ao se referir à aprovação da fusão do DEM com o PSL, Efraim falou em “dia histórico”. O novo partido chama-se União Brasil, e ele emendou: “Agora União Brasil, que é União da Paraíba e de todos os Estados, uma unidade em prol de um país democrático, livre, próspero e justo”.
A disputa entre dois deputados federais pela vaga de senador, que foi conquistada em 2014 por José Maranhão (MDB), vítima de complicações da Covid, e que está sendo ocupada por Nilda Gondim, mãe do senador Veneziano Vital do Rêgo, movimenta intensamente os círculos políticos locais, até pelo ineditismo na quadra recente do cenário eleitoral da Paraíba. O confronto se dá entre dois parlamentares jovens, com tradição política, que, sem dúvida, lograram projetar-se em Brasília (Efraim é líder do DEM na Câmara e integrará a Executiva nacional do União Brasil e Aguinaldo é destaque também na Câmara e foi ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff, em cujo impeachment, aliás, votou posteriormente). Os dois conhecem o caminho das pedras em Brasília e passam ao largo de discussões ideológicas para priorizar “a bandeira da Paraíba”. Por serem de partidos diferentes, têm liberdade e apoio para manter-se em posição de confronto, mas é certo que não fecham portas para a eventualidade de composições. É uma novela que ainda vai render muitos capítulos até às convenções que homologarão candidaturas. E uma emulação que faz com que a oposição, pelo menos por enquanto, fique sem fichas no jogo para a senatória.