Nonato Guedes
Repercute nos meios políticos paraibanos o incidente ocorrido, ontem, em Campina Grande, quando a secretária Ana Cláudia Vital do Rêgo, da Articulação e Desenvolvimento Social, esposa do senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente do MDB no Estado, retirou-se de uma solenidade presidida pelo governador João Azevêdo (Cidadania) por não ter sido listada como participante da mesa oficial e se declarou preterida por outras lideranças políticas. Ana Cláudia relatou que foi avisada pelo cerimonial do Palácio da Redenção de que não teria espaço na mesa, no ato em que o governador anunciou benefícios para a cidade, mas, ato contínuo, foram acomodados na mesa os deputados Manoel Ludgério, adversário do “clã” Vital do Rêgo e aliado do ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD) e Doda de Tião, que não é de Campina Grande.
O governador, indagado por jornalistas, tentou minimizar a repercussão do episódio, inclusive afirmando que nem havia tomado conhecimento da presença da secretária Ana Cláudia e lembrando que outros secretários não ficaram na mesa dos trabalhos por uma questão de espaço. Azevêdo estranhou a decisão da secretária de se retirar do local e disse que ela é quem deve procurá-lo para dar explicações do ocorrido. O marido, que se encontrava em Imperatriz, no Maranhão, cumprindo missão oficial como presidente em exercício do Senado, solidarizou-se com Ana Cláudia e considerou uma atitude grosseira e deselegante a sua exclusão da mesa. Este não foi o primeiro incidente ocorrido entre Ana Cláudia e o governador. Recentemente, em outra visita do chefe do Executivo a Campina Grande, ela esteve ausente da programação oficial alegando que tinha um compromisso já assumido em evento social na cidade.
Ana Cláudia Vital foi candidata a prefeita de Campina Grande nas eleições de 2020, pelo “Podemos”, e chegou a ter o apoio formal do governador, mas ficou em segundo lugar, perdendo o pleito para Bruno Cunha Lima (PSD), que foi vitorioso em primeiro turno. Ultimamente, vazaram rumores de estremecimento nas relações entre Veneziano e o governador João Azevêdo. A causa principal teria sido a ação do esquema de Azevêdo para assumir o controle do “Podemos” em Campina Grande, que até então estava sob a direção da secretária Ana Cláudia. Como consequência, o senador tem sido incentivado dentro do MDB a assumir candidatura própria ao governo do Estado, rompendo o compromisso de apoio a João Azevêdo, que até então vinha declarando. Emissários ligados ao governador e ao MDB, como o deputado estadual Raniery Paulino, entraram em cena nas últimas horas para fazer o papel de “bombeiros”, mas fontes políticas acreditam que as fissuras são grandes e que a conciliação é muito remota.
Essas fontes destacam as desconfianças mútuas entre os grupos de Veneziano e de João Azevêdo, bem como os entendimentos que o primeiro estaria mantendo com o ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) e os sinais que o segundo tem emitido para conversas com o ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD), pré-candidato ao governo do Estado com o apoio de Cássio. Não faltaram comparações, a propósito do incidente com a secretária Ana Cláudia, com o episódio do rompimento entre os ex-governadores José Maranhão e Ronaldo Cunha Lima, já falecidos. O pretexto para o desentendimento foi um evento festivo em 1998 no Campestre Clube, em Campina Grande, quando integrantes das respectivas claques agitaram o ambiente, contaminando os líderes. Ronaldo, de dedo em riste, chegou a sugerir que se Maranhão não tivesse condições de governar o Estado lhe passasse o cargo. Foi um divisor de águas – na sequência, o clã Cunha Lima preparou sua desfiliação do PMDB, ingressando nos quadros do PSDB e atraindo outras lideranças políticas para sua órbita.
Através de sua assessoria, o senador Veneziano Vital do Rêgo informou que, como presidente em exercício do Senado, ele cumpriu agenda na tarde e noite de ontem em Imperatriz, Maranhão, na inauguração do Hospital do Amor, acompanhado pelo senador Weverton Rocha, do PDT daquele Estado. Nas redes sociais, Veneziano destacou a importância do hospital para o Estado do Maranhão e para a região. “Ao tempo em que comemoramos o Dia do Nordestino, estamos tendo a oportunidade, na qualidade de presidente em exercício do Senado, no município de Imperatriz, Maranhão, de participar da inauguração de um hospital que será referência no tratamento e prevenção do câncer de mama, útero e ovário. Uma grande conquista para o povo da nossa região”, sublinhou. Veneziano destacou o trabalho do colega maranhense para tornar o hospital do Amor uma realidade, destinando cerca de R$ 40 milhões em emendas parlamentares para a construção da unidade.