Nonato Guedes
Uma resolução aprovada pela Comissão Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores, durante reunião na última sexta-feira, reafirmou, na atual conjuntura, a participação e apoio ao governo de João Azevêdo (Cidadania), que o PT já integra. Foi uma decisão coerente e estratégica da legenda petista, tomada em virtude da “tarefa política de implementar uma agenda necessária de inclusão social, democracia e participação popular com partidos de esquerda e do centro”. A resolução da direção do PT da Paraíba menciona, ainda, a necessidade de fortalecer a relação de diálogo do partido com o governo estadual na gestão do trabalho desenvolvido através da Secretaria de Agricultura Familiar, que atualmente é ocupada por Bivar Duda.
O posicionamento, de certo modo, deixa isolado o ex-governador Ricardo Coutinho em termos de influência em algumas decisões cruciais do partido, tendo em vista que, pessoalmente, Ricardo é adversário do governador João Azevêdo e crítico contumaz da gestão que ajudou a eleger na campanha de 2018. Coutinho foi readmitido recentemente nas fileiras do PT, após reinar, soberano, durante longo período, no Partido Socialista Brasileiro, e a refiliação se deu com honras e saudações efusivas do próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o ex-governador não foi entronizado ainda em posição de destaque no diretório regional, que segue sendo presidido por Jackson Macêdo, militante histórico do petismo. Aliás, Macêdo foi voto contrário à resolução de apoio a Azevêdo, como, também, foi um dos articuladores para o retorno de Coutinho às hostes petistas. Rendeu-se aos fatos, mostrando que continua disciplinado na execução das diretrizes internas. Há versões de que a resolução teria sido posta em votação apressadamente, sem tempo para aprofundar discussões ou questionamentos.
No fundo, o PT paraibano segue a orientação pragmática ditada pelo ex-presidente Lula da Silva, como parte da tática para recuperar os espaços do partido no cenário político nacional. Lula tem “costurado” alianças preliminares com diferentes grupos políticos-partidários nos Estados, além de atrair governadores, sobretudo do Nordeste, quer sejam filiados ao PT, ao PSB ou a outros partidos de esquerda e de centro, investindo, também, na cooptação de caciques políticos e de lideranças que ocupam cargos de projeção na estrutura de poder do Congresso Nacional (Câmara e Senado). Todo esse trabalho foi concebido por Lula com o objetivo de fortalecer, irreversivelmente, a sua candidatura à presidência da República no próximo ano. Ele tenta dar a essa candidatura um caráter de símbolo de “salvação nacional” contra a incompetência e os desmandos do governo Jair Bolsonaro, que Lula cogita enfrentar nas urnas em 2022.
A peregrinação desenvolvida por Lula, de maneira infatigável, nos últimos meses, apresenta um espectro diversificado de interlocutores políticos, sinalizando que, após tanto tempo de radicalismo e de atitudes de sectarismo político, o Partido dos Trabalhadores abriu-se à possibilidade de oxigenação do diálogo. Deixou de se fechar em copas, de atuar como um gueto político, para tentar investir na “frente ampla”. Esse recurso não é necessariamente novo na trajetória do Partido dos Trabalhadores, mas só prospera em circunstâncias excepcionais e com o ex-presidente Lula à frente das articulações, aproveitando o fato de que ele não é contestado como senhor de baraço e cutelo nas instâncias petistas. Está sendo reativado desde agora porque, no horizonte, há a perspectiva concreta de vitória do ex-presidente Lula nas eleições vindouras, a julgar por pesquisas preliminares em que ele bate Jair Bolsonaro em todos os cenários possíveis e imagináveis.
Em relação à conjuntura da Paraíba, a estratégia traçada para o PT foi no sentido do partido aceitar o retorno do ex-governador Ricardo Coutinho, inclusive, oferecendo-lhe espaços para candidatura a cargo eletivo (o que está pendente, devido a problemas de inelegibilidade que no momento ele enfrenta), mas, ao mesmo tempo, optou-se pelo diálogo com o governador João Azevêdo e com outras forças interessadas em aderir à candidatura de Lula, casos do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e do ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que pleiteia, mesmo, um possível regresso ao PT. Sobre as decisões atinentes às eleições propriamente ditas, caberá às instâncias partidárias e ao Grupo de Trabalho Eleitoral analisar e coordenar todo o processo de construção da tática eleitoral em 2022, em sintonia fina com a direção nacional do partido. O PT já demonstrou, nas eleições municipais de 2020 a prefeito de João Pessoa, quando renegou a candidatura própria do deputado estadual Anísio Maia, que quem decide mesmo é a Executiva Nacional, ainda que ela venha a passar por cima de princípios e de decisões democráticas.
Se o Partido dos Trabalhadores, por inspiração de Lula, julgar que é estratégico apostar na reeleição do governador João Azevêdo na Paraíba, dependendo da garantia de espaços que este possa oferecer ao partido e a Lula, o martelo será batido nessa direção sem maior questionamento. Se, ao invés, concluir-se que há campo para uma candidatura própria ou para aliança em torno de um nome extra-partidário engajado ao “projeto Lula”, a posição será revista. O que está colocada como irreversível é a candidatura de Lula, em nome de uma alegada agenda de reconstrução social e democrática do país. Nesse projeto, o PT joga todas as fichas na acumulação de forças, no denominado campo progressista. A resolução do diretório estadual petista é bastante incisiva, quando diz: “Faz-se necessário avaliar a eleição (de 2022) dentro de um processo histórico complexo, que exigirá de nós os maiores esforços por uma aliança forte e democrática capaz de derrotar o bolsonarismo”.