Nonato Guede
Preocupado em manter afinidade com a bancada de sustentação na Assembleia Legislativa, que lhe garante maioria confortável para a aprovação de matérias do Poder Executivo, o governador João Azevêdo (Cidadania) deverá se reunir amanhã com os parlamentares no Palácio da Redenção. Quer colher e nivelar informações que vão subsidiar a mensagem que na terça-feira, 19, ele pretende levar à Casa de Epitácio Pessoa na retomada das sessões híbridas, uma vez superado o impasse provocado pela demora do deputado Cabo Gilberto Silva em se vacinar contra a Covid-19. Cerca de vinte e quatro deputados de um total de 36 são considerados fiéis ao governo.
O Cabo Gilberto é o líder do bloco de oposição mas aparenta não ter controle nem exercer efetivamente o papel que lhe é atribuído, tanto assim que parlamentares como a Doutora Paula Francinete, do PP, chegaram a manter audiência com o governador João Azevêdo em maio deste ano. De resto, o PP sinaliza movimentos de aproximação com a liderança política de João Azevêdo na perspectiva de apoio dele à pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo Ribeiro ao Senado nas eleições do próximo ano. Aguinaldo disputa a vaga com o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, que também corteja o apoio do governador. Efraim demonstra ser mais independente ou autonomista, segundo deixou transparecer na afirmação de que manterá a candidatura ao Senado mesmo concorrendo em faixa própria.
O parlamentar do DEM, como se sabe, aposta na força do novo partido que está sendo gestado e que dará à luz oficialmente como fruto da fusão do Democratas com o PSL, Partido Social Liberal, legenda que na Paraíba é dirigida pelo deputado federal Julian Lemos. Este, por sua vez, protagonizou uma guinada na sua trajetória política ao se aproximar do governador João Azevêdo depois de ter sido um dos expoentes do bolsonarismo na Paraíba. Julian Lemos esteve na linha de frente da coordenação da campanha de Jair Bolsonaro no Estado e na região Nordeste em 2018 e tem regularmente votado a favor de pautas do governo Bolsonaro, coerente com sua ideologia de direita. Mas já deixou claro que está rompido pessoalmente com o presidente devido a divergências intransponíveis com os filhos de Bolsonaro. A mídia sulista tem destacado que a posição de Lemos dentro do PSL é um dos empecilhos a uma suposta refiliação de Bolsonaro ao PSL, embora o fator determinante no impasse seja a recusa da direção nacional de aceitar exigências do mandatário para ter o controle absoluto da legenda no país e moldá-la aos interesses do projeto de candidatura à reeleição.
O governador João Azevêdo, que, institucionalmente, mantém relações com o governo federal, inclusive recebendo ministros seus em Palácio mas já se declarou “eleitor” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa do próximo ano, atraiu o apoio do deputado federal Julian Lemos na base do diálogo e do atendimento de demandas, relacionadas principalmente com a Segurança Pública, área de atuação prioritária do parlamentar do PSL. No que diz respeito à Assembleia Legislativa, o chefe do Executivo já tornou público seu agradecimento pela colaboração indiscutível que o governo tem recebido e que é considerada indispensável para o êxito das ações administrativas que requerem urgência, dentro do Plano de Retomada que o governo estabeleceu na sequência do avanço da vacinação contra a Covid-19 na Paraíba.
A reiteração do agradecimento por esse apoio deverá constar das falas do governador por ocasião da entrega da mensagem à Assembleia Legislativa. A mensagem, por sua vez, deverá conter uma espécie de prestação de contas das ações administrativas empreendidas no corrente exercício, acompanhada de projeção de metas para 2022, que será o último do primeiro mandato que João Azevêdo está exercendo. Cabe ressaltar o fato de que o governante conseguiu dispor de uma situação favorável na Assembleia Legislativa, passando por cima de crises que enfrentou em termos partidários, quando teve que migrar do PSB para o Cidadania, e de crises políticas, como o rompimento com o ex-governador Ricardo Coutinho (atualmente no PT), que influencia votos de oposição no Legislativo estadual. O interesse do gestor estadual, já contemplando o final do ano, é o de manter ativos os canais de governabilidade que têm lhe permitido avançar no programa de metas.
Embora o Cabo Gilberto seja expressão maior da oposição a João Azevêdo, há outros parlamentares que integram esse agrupamento, como Walbber Virgolino, Anderson Monteiro, Tovar Correia Lima, Camila Toscano, Caio Roberto e Moacir Rodrigues. Há expectativa sobre o posicionamento de deputados do PSB que aguardam a “janela partidária” para migrar para o PT acompanhando Ricardo Coutinho, casos de Estela Bezerra, Jeová Campos e Cida Ramos. Mesmo que se mantenham na oposição, não comprometem a posição estável do governador João Azevêdo. Desse ponto de vista, segundo informantes qualificados do governo, os prognósticos são promissores para a estratégia de Azevêdo de respirar aliviado em pleno ano decisivo para sua sobrevivência, que se traduzirá na disputa pela reeleição ao Palácio da Redenção.