Nonato Guedes
O governador de São Paulo, João Doria, que disputa internamente a preferência dos tucanos, nas prévias do PSDB, para ser o candidato à presidência da República em 2022 e que estão marcadas para o dia 21 de novembro, desembarca na Paraíba na próxima sexta-feira para cumprir agenda política em João Pessoa e Guarabira. Ele chegará num momento de acirramento da disputa contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que, inclusive, esteve em São Paulo e bateu forte em Doria, lembrando as ligações deste com o presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2018. Naquele ano, um dos programas massificados pelo paulista foi o “BolsaDoria”. Posteriormente, João Doria rompeu com Bolsonaro e foi alvo de ataques deste ao competir com o Planalto na questão das vacinas contra a Covid-19.
A disputa nas hostes do PSDB pela indicação da candidatura à sucessão presidencial vem adquirindo ares de radicalização e dividindo caciques de expressão que ainda restam na legenda, como o senador pelo Ceará Tasso Jereissati e um “condestável” ilustre, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que, inclusive, lá atrás, se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e admitiu, de público, apoiá-lo num segundo turno nas eleições de 2022, a pretexto de fortalecer a “frente pela democracia”. Aliados de João Doria questionam regras do partido para as prévias e buscam brechas para reverter o cenário desfavorável ao governador paulista, que vê o rival Eduardo Leite ganhar corpo no páreo, segundo admite a “Folha de São Paulo”. Na última semana, cresceu a pressão do governador gaúcho sobre Doria, que reagiu questionando o aplicativo de votação, o debate e voltando a listar apoios de filiados que não poderão participar das prévias.
Na avaliação de aliados de Eduardo Leite, os movimentos do paulista demonstram insegurança na corrida, enquanto o time de Doria afirma ser favorito. Há também uma brecha aberta a partir da definição de voto dos suplentes. O temor é de que essa série de arestas dê margem para a judicialização das prévias por parte de aliados de Doria, que vêm sofrendo derrotas a respeito da votação desde a definição de que a eleição seria indireta. A eleição interna esquentou a partir da fala de Leite que comparou Doria ao presidente Jair Bolsonaro no domingo. Eduardo Leite também apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 contra o candidato do PT, Fernando Haddad, mas não subiu em palanques com o capitão, como fez Doria, ostensivamente, em São Paulo. A projeção é de que Doria deve vencer em São Paulo, Estado que concentra tucanos no país. Leite coleciona apoios em Estados importantes para o PSDB, como Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Bahia, além de conquistar parte do eleitorado tucano paulista.
Para hoje, está programado um debate promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico e a expectativa entre as equipes dos respectivos candidatos é de uma discussão educada e propositiva, mas fontes ligadas a Eduardo Leite não descartaram a hipótese de um embate. Na sexta-feira, 15, Doria chegou a anunciar que não mais participaria do debate. Em reunião para tratar de regras, sua equipe demonstrou preocupação com perguntas duras de jornalistas, possibilidade de ataques entre os candidatos e quis diminuir o tempo do debate. Tudo isso foi interpretado pelos aliados de Eduardo Leite como receio de enfrentamento diante do crescimento da campanha do gaúcho. Nos bastidores, auxiliares de Doria sustentam que ele quis evitar o embate por ser favorito e, ao final, ter que contar com o apoio de Eduardo Leite e outros adversários em sua eventual campanha ao Planalto.
Sobre a programação na Paraíba: João Doria vai a Guarabira, no brejo, na sexta-feira, e lá concede entrevista à imprensa, de forma presencial e exclusiva para os profissionais de imprensa. À noite, participa de um ato político na Vila Goumertt com transmissão ao vivo pelo Instagram @psdbpb. Todos os eventos seguirão as recomendações sanitárias, como o uso de máscaras. No sábado, João Doria estará em João Pessoa, onde visita o Hospital Napoleão Laureano, referência no tratamento de pacientes com câncer. Na sequência, concederá entrevista coletiva no Ocean Atlântico Hotel, no Bessa. Ainda na Capital paraibana, o governador de São Paulo se reúne com empresários paraibanos para discutir o cenário da economia brasileira e paraibana na atualidade. Doria foi eleito governador de São Paulo com mais de 10,9 milhões de votos. É filiado ao PSDB desde 2001, mas só disputou sua primeira eleição em 2016, quando se tornou o primeiro prefeito de São Paulo eleito no primeiro turno, com mais de 53% dos votos.
O PSDB tem a expectativa de ungir um candidato a presidente da República que se constitua, ideologicamente, numa opção de centro, espécie de representante da chamada terceira via que se busca, desesperadamente, viabilizar na disputa presidencial de 2022. Por enquanto, as perspectivas da terceira via não são animadoras, diante da persistente polarização que se verifica entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defenderá as cores do PT mais uma vez. Um dos mais badalados nomes para a terceira via era o do apresentador Luciano Huck, que acabou renovando contrato de trabalho com a Rede Globo, diante da dificuldade de pontuar em pesquisas de opinião pública. Quanto ao “racha” do PSDB, tende a ter reflexos inevitáveis na disputa presidencial propriamente dita, enfraquecendo as chances do candidato que vier a ser escolhido nas primeiras prévias de sua história.