Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (Cidadania) começa a sentir, no avanço do terceiro ano de mandato à frente do Executivo, o peso dos desafios políticos relacionados ao cenário de 2022, em que ele próprio disputará a reeleição, e das cobranças de parlamentares e líderes políticos para promover o diálogo preferencial com suas bases, com os que se definem como aliados fiéis e colaboradores da governabilidade que vem sendo tocada e cujo ponto de inflexão tem sido o enfrentamento à pandemia do coronavírus no Estado, seguido da promoção de investimentos que compensem a Paraíba dos prejuízos sofridos durante a fase de restrições decorrentes de questões sanitárias. O que se quer é sinalização concreta de prestigiamento a liderados que estão espalhados por diferentes partidos e que compõem a retaguarda indispensável para viabilizar vitórias nas disputas eleitorais pela frente.
Esses aliados não escondem sua inquietação com rumores recorrentes sobre acenos do governador para conversas com adversários políticos, entendendo que isto gera confusão e pode levar à dispersão interna de forças e não oferece nenhuma garantia de apoio ou de alinhamento incondicional ao projeto de recandidatura do governador ao Palácio da Redenção no próximo ano. A título de comparação, ressalta-se em algumas áreas que o senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, e o deputado federal Efraim Filho, do Democratas, são mais proativos na colaboração com o governo do que o grupo da senadora Daniella Ribeiro (PP), que já afirmou em entrevistas não pertencer à base de João Azevêdo. Aparentemente, Azevêdo mantém o canal aberto com o PP por causa da importância do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, eleito em 2020 com seu apoio, para seu projeto de reeleição. Mas cobra-se, nos bastidores, que o PP feche em bloco com o governo, o que envolveria, também, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, independente deste vir a ser sacramentado com o apoio oficial para disputar o Senado.
Há estranhamento, entre os ditos aliados, em declarações que o governador profere admitindo perspectiva de entendimento com o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSD, que tenta se viabilizar como candidato a governador pela Oposição, atraindo o PSDB do ex-senador Cássio Cunha Lima, que é crítico assumido da atual administração. Para tais fontes, investir num suposto canal com o esquema a que Romero está vinculado seria perda de tempo para a estratégia política do governador João Azevêdo, diante da inconfiabilidade quanto a um alinhamento reto daquele grupo. Em intervenções que tem feito a respeito do cenário político estadual, Cássio Cunha Lima não abre mão de insistir na tecla de associar Azevêdo ao ex-governador Ricardo Coutinho (PT), por mais que os dois estejam rompidos desde a fase inaugural do governo eleito em 2018. O filho de Cássio, deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente do PSDB, tem batido na mesma tecla e igualmente é veemente em pregações contra o atual governante do Estado, indicando não haver espaço para composição.
Os movimentos de Azevêdo para consolidar seu apoio à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto são encarados na base com indiscutível restrição, tanto porque não há afinidades maiores com a postulação do ex-presidente Lula como porque um apoio ao líder petista implicaria em convergência indireta com o ex-governador Ricardo Coutinho, que chegou primeiro no palanque de Lula e teve a sua refiliação ao petismo abonada em alto estilo, com oferta de vaga, inclusive, para concorrer ao Senado. Os acenos de Azevêdo na direção de Lula terão contribuído para que políticos como o senador Veneziano fossem na frente na estratégia de adoção do candidato petista à Presidência da República. Por mais que a rejeição de apoio a Jair Bolsonaro seja latente dentro do esquema do governador paraibano, alega-se que o tropismo em demanda de Lula precisa ser melhor avaliado taticamente, para que o próprio chefe do Executivo não saia chamuscado lá na frente em meio a reviravoltas que irão se impor na conjuntura política.
A atitude do governador deixando claro que respeita a autonomia dos partidos que o apoiam e que não pretende interferir nas suas decisões é aplaudida e saudada como reconhecimento à independência das organizações partidárias. Mas o que se afirma é que, mesmo na convivência de posições distintas ou de interesses diversificados, deve prevalecer o mínimo de afinidade, um elemento de aproximação para que o consenso amplo seja a moeda corrente para reforçar laços e sedimentar estratégias que encaminhem o esquema governista para o rumo da vitória nas eleições do próximo ano. Quando se alude à postura de Azevêdo na campanha municipal de 2020 o tom da análise é de que teve muito mais acertos do que erros (estes confinados a uma margem pontual), o que teria contribuído para a impressão de que o chefe do Executivo passou no teste de afirmação como novo líder de um agrupamento político importante na Paraíba.
Há muito cuidado da parte dos aliados do chefe do Executivo estadual em não pressioná-lo diretamente sobre sinalizações para o pleito de 2022, dentro da linha de raciocínio de que é preciso, realmente, respeitar o seu tempo, que nem sempre coincide com o tempo de postulantes a outros cargos decisivos na estrutura de poder do Estado. Essa postura cautelosa não impede, porém, que os demais atores ou expoentes da base governista conduzam articulações próprias em torno de projetos que querem viabilizar, dentro das condições de sobrevivência que vislumbram num quadro permeado por reformas eleitorais e pela emergência de experimentos como a fusão partidária ou a federação de partidos. Esse cenário complexo, na avaliação final de aliados do governador, é que torna imperioso o diálogo entre pares, tanto mais porque o relógio está correndo e o ano pré-eleitoral está terminando. A data-limite para sinalizações por parte de Azevêdo pode ser o final de 2021. A partir do primeiro dia de 2022 já tem gente querendo cair em campo para lutar pela própria sobrevivência na conjuntura.