Na carta de 10 páginas, enviada diretamente do Presídio de Bangu 8, no Rio de Janeiro, onde está preso preventivamente, o ex-deputado federal Roberto Jefferson comunicou seu afastamento “por prazo indeterminado” da presidência do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e atacou parlamentares como o deputado federal paraibano Wilson Santiago como integrantes de um “grupo conspiratório”. Wilson Santiago foi destituído do comando estadual da legenda, juntamente com o deputado estadual Wilson Filho, a pretexto de ter contrariado posição oficial do PTB e votado “não” a matérias do governo Bolsonaro, que Jefferson apoia.
O deputado Wilson Santiago, que analisa convites para ingressar em outro partido da base do governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania) já declarou que não havia mais clima para permanecer no PTB diante das posições extremistas assumidas pela direção nacional da sigla. Roberto Jefferson teve a prisão decretada por supostos “ataques antidemocráticos” a ministros do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades constituídas. Há alguns dias, seis deputados entraram com pedido para seu afastamento no Tribunal de Justiça do Distrito Federal alegando mau uso do fundo partidário de R$ 20 milhões e os ataques feitos ao STF. No domingo, 24, por meio de carta, Jefferson entregou o comando a Graciela Nienov, que, segundo ele, acredita estar pronta para o pleno exercício da função.
Na Paraíba, o diretório regional do PTB passou a ser presidido pelo comunicador Nilvan Ferreira, que era filiado ao MDB e concorreu às eleições para prefeito de João Pessoa em 2020, chegando a ficar em segundo turno. No entendimento de Roberto Jefferson, a tarefa da presidência exige agilidade, a qual não consegue enquanto estiver preso. “Percebo a necessidade de uma presença mais próxima da gestão partidária que, por razões óbvias eu não tenho podido assumir. Esta semana, dois contratos que precisavam ser assinados eu não pude fazê-lo porque a Administração Penitenciária não autorizou. Autoriza que eu assine procurações, mas contratos contrariam a norma interna da Secretaria Penitenciária. Assinar é falta grave”, explicou em um trecho.
Jefferson analisou a nova liderança e comentou sobre o apoio que Nienov tem da quase totalidade do diretório e da maioria dos presidentes regionais. Isso foi destacado porque a permanência do ex-presidente à frente do partido provocou um mal estar interno. Na carta, Jefferson fez acusações, xingou, revelou histórias pessoais e apelidos, de forma detalhada, aos seus adversários. E salientou: “Os que me acusam não posam para fotos com armas nas mãos, agem na surdina, encobertos, à espreita, à traição, covardemente, e atiram e assassinam vidas humanas. Essas diferenças devem ser ressaltadas aos olhos da Justiça”, ameaçou. Seu desejo é confrontá-los na convenção nacional do partido. Ele alfinetou sua própria filha, a ex-deputada Cristiane Brasil, com quem tem constantes embates. “Por final respondo à pergunta de todos sobre a parentela: filho é igual a peido, nós aturamos os nossos”, disse.