O economista paraibano Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, atualmente sócio da Tendências Consultoria Integrada, assegurou que o presidente Jair Bolsonaro não conseguirá tirar votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste se a inflação continuar em alta, mesmo que se confirme o aumento do Bolsa Família. Salientou que entende que todo o esforço do governo Bolsonaro para turbinar o Bolsa Família, agora rebatizado de Auxílio Brasil, é para melhor se posicionar no Nordeste, onde Lula é muito forte e garrimpar votos no reduto do petista.
Mas isso não vai acontecer, segundo o ex-ministro, porque, na avaliação dele, para o eleitor de baixa renda, cuja maioria concentra-se no Nordeste, o aumento do auxílio não compensa o elevado índice de inflação. Segundo Maílson, as pessoas no Nordeste, especialmente das classes mais baixas, têm uma relação e uma admiração pelo Lula e pela sua trajetória de vida que beira a religiosidade. “O nordestino vê o Lula como um deles. O Lula tem uma história parecida com a de muitos nordestinos”, disse Maílson, segundo informou o jornal “O Estado de S. Paulo”.
Para o ex-ministro, o que o governo Bolsonaro está fazendo, pressionado pelos baixíssimos índices de aprovação popular, somente está contribuindo para gerar incertezas que levam a mais desvalorização cambial, repasse da alta do dólar para os preços e um contra-ataque do Banco Central com mais aperto monetário. De acordo com Maílson, com mais restrição monetária, o crescimento da economia tende a ser ainda menor e os empregos tão necessários para a retomada econômica tendem a ficar para um segundo momento.
– Sempre que visito a minha terra me transformo em um pesquisador informal. Converso com motorista de táxi e aplicativo, com garçom, com o balconista na padaria e todos eles falam do Lula como se ele fosse um Deus. É uma coisa quase que religiosa – comparou o economista. A avaliação do ex-ministro é a de que, se Bolsonaro quer ganhar votos no Nordeste, deveria articular com o Congresso, com os presidentes das duas casas legislativas, mostrar a importância do Auxílio Brasil e convencê-los a doar mais para assistir os menos favorecidos. Fazer o contrário do que vem sinalizando que fará porque, ao retirar a âncora fiscal, o teto de gastos, o governo só gera mais incertezas e desalinhamento das expectativas.
“O governo deveria articular com o Congresso para cortar gastos. Por que não articula com o Congresso para cortar emendas do relator? Por que não focam em doar parte do fundo eleitoral?”, questionou Maílson da Nóbrega. O economista paraibano sofreu críticas, no domingo, do atual ministro da Fazenda, Paulo Guedes, em resposta a declarações contra a manobra proposta pelo governo para furar o teto de gastos e financiar o Auxílio Brasil. Guedes estendeu as críticas aos economistas Henrique Meirelles e Affonso Pastore, que integraram governos anteriores. Segundo o ministro, as críticas feitas ao governo são infundadas e os três ex-ministros “nada” fizeram para melhorar a economia do Brasil.
Sobre Maílson, Paulo Guedes reagiu: “Ele levou o Brasil para 5.000% de inflação, com a política do feijão com arroz dele. Então, ele levou o governo brasileiro ao caos, à hiperinflação”. Sobre Henrique Meirelles, o ministro disse: “Candidato. Ele trabalha para qualquer partido, a qualquer momento, em qualquer lugar e a qualquer hora. O que ele fez? Deu três aumentos de salário, garantiu três anos. Nós, no primeiro ano, tivemos que dar aumento de salário que ele contratou no governo dele. Tanto que fizemos uma lei que impede alguém de aumentar uma lei para outro governo pagar. Ele aumentou três anos seguidos o salário, calculou até onde ficava o teto, para deixar ele fazer esse excesso de gastos, e aí botou o teto e saiu correndo. Não fez a reforma da Previdência, não fez a reforma tributária, não fez nada. Só botou o teto e saiu correndo”. Sobre Affonso Pastore: “Era um bom amigo, um economista com um passado razoável. Não tem um bom treinamento e equilíbrio geral. Ele não está entendendo o que estamos fazendo. Fica me xingando, me atacando, atacando o governo. Ele serviu a um governo militar. Bolsonaro é um presidente democraticamente eleito”. Para ele, Pastore “tinha que ficar quieto e ter uma velhice digna”.
No dia que eu disser que isso é Deus, nem no purgatório eu passo.