Nonato Guedes
A pré-candidatura do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) ao governo do Estado “balançou”, ou seja, tornou-se vulnerável, fragilizada, em meio a rumores de uma possível composição dele com o esquema do governador João Azevêdo (Cidadania), na perspectiva de vir a ser candidato a vice-governador na chapa da reeleição em 2022. Note-se que tal hipótese foi admitida publicamente pelo irmão de Romero, o deputado estadual Moacir Rodrigues, debitando a articulação para composição entre ele e Azevêdo à conta de movimentos do “clã” Ribeiro, de Campina Grande, interessado em viabilizar a qualquer custo a candidatura do deputado federal Aguinaldo ao Senado, onde iria fazer companhia à irmã Daniella, dentro da lógica de partilha familiar que é marca registrada no cenário político paraibano, apesar das negativas e dos “floreios”, recurso em que os políticos são pródigos quando querem dourar a pílula ou impor narrativas a incautos.
O vacilo de Romero Rodrigues, que se dizia pré-candidato ao governo ainda quando estava no exercício da prefeitura de Campina Grande, provocou correria a Brasília, ontem, por parte de líderes tucanos, que até então vinham sendo os grandes fiadores da postulação do ex-prefeito. Aliás, o deputado federal Pedro Cunha Lima, presidente estadual do PSDB, fez questão de patentear, em entrevistas, que em nenhum momento houve deslealdade da legenda ou do grupo liderado pelo seu pai, o ex-governador Cássio Cunha Lima, em relação a Romero. Pelo contrário, em uma “live” realizada com grande antecipação, os expoentes tucanos comunicaram a desistência de Pedro em tentar entrar no páreo para o governo e, na sequência, hipotecaram compromisso de apoio à candidatura de Romero. Pela segunda vez consecutiva na história política-eleitoral da Paraíba, o PSDB abria mão do protagonismo ao governo para ser coadjuvante.
Da parte dos tucanos, então, em tese, nada haveria a questionar e nem se justificaria qualquer reclamação que Romero viesse a elaborar. O problema, que Rodrigues ainda não quis confessar publicamente, é que sua pré-candidatura não empolgou as oposições na Paraíba, em si mesmo fragmentadas em três blocos ou, na definição singular do deputado federal Hugo Motta (Republicanos), inteiramente “desarrumadas”, como estiveram nas eleições majoritárias de 2018. Romero fraquejou, primeiro, no capítulo do alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro, de quem era aliado incontestável. De repente, o ex-prefeito de Campina Grande começou a se distanciar do núcleo de apoiadores do mandatário, esquivando-se de defender o presidente nos “perrengues” que ele mesmo criou dentro da sua tática desagregadora e pontuando que nunca foi “extremista”. Daí em diante passou a ser renegado pelos que se consideram “bolsonaristas-raiz”, que, na verdade, agem por oportunismo e por identidade com o estilo de Bolsonaro, esteja ele certo ou errado, faça chuva ou faça sol. Romero virou um estranho no ninho na grei bolsonarista. Foi o primeiro tropeço na caminhada árdua para tentar chegar ao governo do Estado.
Ao mesmo tempo, verdade seja dita, Romero não conseguiu avançar, conforme se esperava, nas articulações para consolidar apoios importantes a uma eventual candidatura ao Palácio da Redenção, ficando impossibilitado de produzir fatos novos, espetaculares, ou seja, adesões expressivas que desencadeassem um tropismo desenfreado em demanda de seu projeto. O ex-prefeito não logrou demonstrar carisma para empalmar uma liderança emergente de oposição – e, a dados de hoje, percebe-se que talvez não tivesse nem vocação para tanto, diante do estilo moderado que lhe é peculiar. Diz ele que nunca conversou com João Azevêdo, o que parece verdadeiro, mas Romero admitiu que outros agentes políticos têm feito “essa construção” para o entendimento. Certamente a senadora Daniella Ribeiro e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, estão entre os interlocutores qualificados para tal “construção”.
O fato é que, enquanto Romero procura uma “saída honrosa” para ser excluído do moedor de carne do projeto de candidato a governador, cortejando a hipótese de vir a ser vice de João Azevêdo, à custa de sérios ruídos com o “clã” Cunha Lima em Campina Grande, entrou em cena com todo gás a “alternativa” Veneziano Vital do Rêgo (MDB) ao governo, em oposição direta a João Azevêdo, o candidato à reeleição. Até aqui, Veneziano tem declarado apoio a João Azevêdo na reeleição, mas, ao mesmo tempo, não descarta uma candidatura própria ao governo. A consequência natural da saída de Romero do páreo é a ascensão de Veneziano na bolsa de cotações, até porque o senador emedebista age com independência, tendo avançado mais no diálogo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula do que o próprio governador João Azevêdo. Fala-se numa chapa tendo Veneziano na cabeça e Luciano Cartaxo (PV) ao Senado, ou, como opção para candidato a vice. Fica faltando encaixar o deputado Efraim Filho (DEM) no contexto, diante do apoio já manifestado por Veneziano à sua pré-candidatura ao Senado. Mas, enfim, os fatos estão se precipitando, com potencial para produzir reviravoltas que invariavelmente pontuam o cenário político paraibano.