Nonato Guedes
Com a desmobilização em torno da pré-candidatura do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) ao governo do Estado, depois que ele ofereceu sinais de desistência, não se descarta a hipótese de volta do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) ao jogo, conforme têm admitido fontes políticas, mas isto ainda parece longe de representar uma solução definitiva no campo da oposição ao esquema do governador João Azevêdo. Em si mesmo, o bloco oposicionista está fragmentado – entre “clãs” campinenses e expoentes políticos que se definem como bolsonaristas-raiz no Estado, agrupamento que reúne os ex-candidatos a prefeito de João Pessoa Nilvan Ferreira (PTB) e Walbber Virgolino (Patriota). E, teoricamente correndo por fora, ainda há o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), que se declara eleitor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e independente em relação ao governo do Estado.
Uma unidade ampla das oposições não é cogitada em círculos influentes, diante de incompatibilidades notórias que tendem a aflorar com mais nitidez daqui para a frente, quando tornar-se imperiosa a tomada de decisões. Já houve tempo, por exemplo, em que os Cunha Lima e o “clã” Cartaxo, com atuação política em João Pessoa, se aliaram numa disputa estadual – e isto se deu em 2018, com a chapa Lucélio-Micheline Rodrigues, derrotada em primeiro turno por João Azevêdo. Mas aquela foi uma união episódica, ditada pela conjuntura, sem compromisso de continuidade efetiva. A conjuntura é outra para 22: Cartaxo vota em Lula, Cunha Lima deve apoiar o candidato que o PSDB escolher em prévias (João Doria ou Eduardo Leite), podendo migrar, num segundo turno, para Jair Bolsonaro. Tudo dependerá da conformação final do quadro que ainda se esboça, quer na Paraíba, quer em outros Estados, sujeito a oscilações externas que passam até por fusão ou por criação de federação de partidos.
A respeito do deputado federal Pedro Cunha Lima, que é presidente estadual do PSDB e filho do ex-governador João Azevêdo, ressalte-se que ele figurava, até então, no páreo, como alternativa para o Palácio da Redenção, dentro do esquema político campinense. Chegou a se lançar pré-candidato pelo PSDB mesmo com Romero Rodrigues revelando que também era pré-candidato ao governo pelo PSD. Atuando como mediador, o ex-governador Cássio Cunha Lima apresentou solução aparentemente convergente: a retirada do páreo da pretensão de Pedro, com o consequente apoio a Romero Rodrigues, que, a partir daí, teria liberdade para ampliar espaços na oposição ao esquema do governador João Azevêdo. Romero, entretanto, não logrou avançar substancialmente nesse terreno e, por outras razões que ainda não estão suficientemente explicadas, foi dado como possível interlocutor de entendimentos com o governador João Azevêdo, em meio a especulações sobre vir a ser vice na chapa à reeleição do atual chefe do Executivo. Foi a gota d’agua para o “projeto Romero” naufragar.
Ontem, aliás, o governador João Azevêdo (Cidadania), na posição de espectador privilegiado de acontecimentos inesperados na seara da oposição paraibana, deu declarações admitindo estar aberto a conversas com o ex-prefeito campinense, com quem, segundo deixou claro, não possui relações de atrito. Azevêdo, inclusive, deu uma pista sobre desafio que poderá vir a ter pela frente: acomodar num mesmo agrupamento líderes distintos e expoentes de forças que são antagônicas entre si nas disputas locais mas que possuem afinidade com o projeto dele ou querem construir afinidade em 2022. O governador parecia estar “de bem” com o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), cuja mulher, Ana Cláudia, secretária de Estado, prestigiou evento oficial sem passar recibo sobre divergências que pipocaram lá atrás, em Campina Grande.
O chefe do Executivo está no seu papel de tentar aglutinar apoios. Mas, verdade seja dita: nem está precisando fazer muito esforço na conjuntura atual porque os fatos estão conspirando, naturalmente, a seu favor. A perspectiva da anunciada desistência de Romero Rodrigues inflige um rude golpe à oposição paraibana porque, mesmo que o ex-prefeito de Campina não tenha desencadeado movimentos mais fortes ou ostensivos para se manter no figurino de candidato contra o governo, seu nome pontuava relativamente bem em pesquisas preliminares de intenção de voto. Em termos concretos: tornou-se um nome lembrado por eleitores e mencionado como alternativa para a disputa ao governo do Estado, o que lhe conferia credenciais mínimas para se habilitar à corrida eleitoral do próximo ano. E Romero, pode-se dizer, era pré-candidato desde 2018, quando não encarou o desafio.
A situação de impasse desencadeada na esfera oposicionista paraibana torna o caminho mais íngreme para esse segmento, diante da urgência de identificar nomes viáveis para um confronto com o governador João Azevêdo e, ao mesmo tempo, conciliar interesses que estão diluídos na história de cada agremiação no Estado. Em complemento, a oposição precisará ter lucidez para apresentar um programa administrativo que empolgue parcelas influentes da opinião pública e venha a ser determinante no resultado da disputa pelo poder. Não é pouca coisa para ser resolvida e ficará claro que o tempo urge para os oposicionistas na mesma proporção com que não afeta o cronograma do governador João Azevêdo. Se antes, com presumível candidato, a oposição já batia cabeça, imagine-se agora, sem, sequer, candidato presumido à vista. Não é à toa que, nos meios políticos, fala-se na “busca do milagre”. Que a oposição não tem ideia do que vem a ser nem convicção de que ele será possível.