Nonato Guedes
O governador João Azevêdo (Cidadania) executa um verdadeiro malabarismo para conseguir encaixar no radar da sua campanha à reeleição em 2022 o quebra-cabeça de apoios políticos de líderes e grupos influentes de Campina Grande, segundo colégio eleitoral do Estado. Até então o chefe do Executivo tinha sólida parceria com o esquema liderado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo, que migrou do PSB para o MDB, onde foi alçado ao comando do diretório regional. Na sequência o “clã” Ribeiro foi entronizado na órbita do bloco do governador, com acenos de apoio à pré-candidatura do deputado federal Aguinaldo (PP) à única vaga de senador. Mais recentemente, entrou no radar governista o ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD), que está abrindo mão da candidatura ao Executivo e admitiu conversas com Azevêdo, em meio a especulações de que poderá ser candidato a vice dele na chapa da reeleição.
Esses líderes nem sempre convergem no campo das alianças políticas ensaiadas a partir de Campina Grande com reflexo inevitável na conjuntura estadual. Veneziano, por exemplo, é adversário histórico dos Ribeiro e dos Cunha Lima, grupo liderado pelo ex-senador Cássio, ao qual Romero tem estado agregado durante grande parte da sua trajetória. Romero teve os Ribeiro como aliados nas duas últimas eleições municipais à prefeitura de Campina Grande – em 2016, quando disputou a reeleição e foi vitorioso teve como vice Enivaldo Ribeiro, pai da senadora Daniella e do deputado Aguinaldo e presidente estadual do PP. Em 2020, na campanha à sua sucessão, Romero foi o principal cabo eleitoral de Bruno Cunha Lima (PSD), eleito em primeiro turno, tendo como vice Lucas Ribeiro, que é filho da senadora Daniella e também filiado ao Progressistas. Nessa disputa mais recente, a secretária Ana Cláudia Vital do Rêgo, mulher de Veneziano, foi derrotada por Bruno, concorrendo pelo Podemos.
A perspectiva de aproximação entre Romero e o governador João Azevêdo começou a ganhar corpo, coincidentemente, quando houve curto-circuito nas relações entre o senador Veneziano Vital do Rêgo e o chefe do Executivo. Por essa época o nome da secretária Ana Cláudia ganhou a bolsa de apostas da indicação para vice de João Azevêdo no segundo mandato que ele pleiteará. Mas perdeu espaço na esteira do ruído entre Veneziano e o governante, provavelmente originado pela ingerência atribuída a Azevêdo no Podemos, cujo comando a mulher do senador perdeu em Campina Grande e no Estado. Seguiram-se, então, manifestações pró candidatura própria de Veneziano a governador pelo MDB e movimentos autonomistas do próprio senador na cena política estadual e nacional, antecipando-se, por exemplo, ao governador, na interlocução com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja candidatura ao Planalto ambos apoiam, independente de questões paroquiais.
Até hoje, não houve, efetivamente, uma conversa franca entre o chefe do Executivo e o senador-comandante do MDB paraibano com o objetivo de aparar arestas, esclarecer intrigas e colocar os pontos nos is. Esse entendimento é ansiosamente aguardado por lideranças que estão nas bases tanto do parlamentar como do governante – mas não evoluiu, despontando, em lugar disso, uma possível conversa com o ex-prefeito Romero Rodrigues, que, mesmo não sendo candidato a governador, tem prestígio e liderança indiscutível na cidade Rainha da Borborema. Para piorar as coisas, houve incidente envolvendo a secretária Ana Cláudia, que se sentiu desprestigiada em evento comandado por Azevêdo em Campina Grande. Os desentendimentos foram superados com a mediação de terceiros – e não só Ana Cláudia permanece no cargo, como, em tese, está mantido o apoio de Veneziano à candidatura de João Azevêdo à reeleição.
Em meios políticos ligados ao oficialismo, a sensação é de continuidade de “Senas” acumuladas entre o governador e o senador, o que causa consequências que tornam o cenário político imprevisível, dificultando o avanço de discussões que são consideradas imprescindíveis para formação de chapa majoritária e tentativa de consenso sobre nominata de candidatos a eleições proporcionais no interior dos partidos identificados como integrantes da base de Azevêdo. Por outro lado, a indefinição quanto ao papel que Romero Rodrigues terá, caso concretize uma aproximação com o governador, é outro complicador levado em consideração nas análises que são feitas com indisfarçável preocupação. Fechando o firo, há a teimosia da parte de Azevêdo em só abrir o debate propriamente dito lá na frente – sabe-se lá em que meados de 2022, o ano eleitoral para valer.
Pelo tom das declarações reiteradas que o governador João Azevêdo tem vazado, ele persistirá na montagem paciente do quebra-cabeça sem aceitar interferências e sem emitir sinais mais eloquentes da posição que adotará para conciliar interesses concorrentes ou mesmo radicalmente conflitantes. Fala-se muito na habilidade política do chefe do Executivo – que, no entanto, não é infalível nem tem, naturalmente, o controle de toda a situação política do Estado. Enquanto a dinâmica política não produz fatos de impacto, vai se firmando apenas uma premissa: o rompimento definitivo do grupo da vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) com o esquema de Azevêdo. O primeiro passo foi dado na eleição municipal de 2020 quando uma filha de Lígia foi candidata a vice na chapa lançada pelo então prefeito Luciano Cartaxo (PV), derrotada pelo candidato Cícero Lucena (PP), que João Azevêdo apoiou. A página da aliança de João com os Feliciano advém da Era Ricardo Coutinho – e está virada, aparentemente de forma irreversível, no caderno de anotações de Azevêdo.