Nonato Guedes
Por mais que procure não se envolver em questões políticas ligadas a definições dentro da oposição paraibana para as eleições de 2022, o ex-governador e ex-senador Cássio Cunha Lima (PSDB) não consegue evitar ser arrastado para o “front”, diante dos impasses que se sucedem dentro do seu grupo, com raízes em Campina Grande mas com projeção por todo o Estado. Uma das últimas ações de Cássio havia sido no sentido de esboçar a unidade dentro do seu esquema e foi com esse espírito que seu filho, o deputado federal tucano Pedro Cunha Lima, abriu mão da pré-candidatura ao governo para “fechar” com a pré-candidatura do ex-prefeito Romero Rodrigues (PSD) ao Palácio da Redenção. O pacto chegou a ser festejado e caberia a Romero, a partir daí, viabilizar outros apoios expressivos para reforçar o projeto de poder.
O “script”, porém, foi alterado e em clima de tempestade, depois que Romero, além de sinalizar vacilação em assumir o papel de candidato, tem ensaiado passos na direção de um entendimento com o governador João Azevêdo (Cidadania), candidato à reeleição, eleitor declarado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e adversário dos Cunha Lima, sendo alvo de críticas constantes, quer da parte de Cássio, quer da parte de Pedro e, também, do prefeito Bruno Cunha Lima. A hesitação de Romero, que faz uma “sarabanda patética” em termos de candidatura para um mandato no próximo ano, já teve o condão de produzir estragos e de desarticular o esquema oposicionista no segundo colégio eleitoral do Estado. Prova disso foi a atração da vereadora Eva Gouveia (PSD), ligada a Romero, para compor o governo, em cargo estratégico e representativo para Campina Grande.
Cássio vem no fim de semana, em meio a uma nova reunião de tucanos para recepcionar outro candidato, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, às prévias nacionais internas que indicarão o nome ao Planalto, numa disputa polarizada nitidamente entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Fala-se em encontros que Cássio terá com deputados e outros líderes políticos a fim de avaliar, concretamente, a conjuntura local. Embora Romero seja filiado a um outro partido, em cuja autonomia o PSDB não interfere, Cássio tem legitimidade para chamar feitos à ordem porque o partido que o seu filho preside anunciou apoio ao ex-prefeito sem exigir posições na chapa. A rejeição, pelos Cunha Lima, da aliança política com Azevêdo é encarada em segmentos da opinião pública como coerente, ou como o caminho natural diante dos enfrentamentos do passado ainda recente.
Evidente que Cássio Cunha Lima não faz “milagres” nem se apresenta como suposto “salvador da Pátria” num momento de crise particularmente grave dentro do seu agrupamento político porque já toma ares de crise de identidade, desviando seguidores de uma estratégia que havia sido preliminarmente traçada e que não cortejava, em hipótese nenhuma, aceno ou ensaio de aproximação com o governador do Estado. O próprio prefeito Bruno Cunha Lima tem deixado claro que a sua relação com o chefe do Executivo tem conotação meramente institucional, equivale dizer, administrativa, no trato de demandas que interessam à população campinense e que podem estar condicionadas a uma intervenção do poder público estadual. De mais a mais, o governador tem seus aliados de primeira hora na Rainha da Borborema, e os “cassistas” não identificam qualquer serventia numa aliança com Azevêdo.
O comportamento que tem sido adotado por Romero Rodrigues no atual cenário político paraibano já afastou dele outros expoentes de blocos de oposição ao governo do Estado, sobretudo os “bolsonaristas-raiz”, que detectaram em tempo hábil o “descolamento” do ex-prefeito de Campina Grande na relação com o presidente da República. Não se acreditava, porém, que Romero surpreendesse apostando fichas, então, numa aliança com Azevêdo em que esperaria ser contemplado com a vaga de vice, logrando sobreviver politicamente na Paraíba no curto prazo. Essa metamorfose do ex-prefeito ainda é avaliada como intrigante, uma manobra de risco na qual alguns não desejam embarcar porque não sabem como mensurar seus próprios espaços na realidade contemporânea. Daí a expectativa em torno da presença de Cássio, que, independente de mandato, mantém-se respeitado como interlocutor na cena política paraibana, capaz de influenciar na tomada de grandes decisões.