Nonato Guedes
A cantora goiana Marília Mendonça, que morreu, ontem, em acidente aéreo, e a cantora paraibana Elba Ramalho, que completou 70 anos de idade em 2021, travaram uma polêmica em 2017 por causa da penetração do estilo musical “sertanejo” no Nordeste em prejuízo dos cantores de forró. No início de junho de 2017, Elba Ramalho criticou a escalação de artistas do gênero para as festividades juninas, alegando que cantores de forró não tinham espaço na festa do peão de Barretos, no interior de São Paulo. Marília Mendonça, que se apresentou pela primeira vez no São João de Campina Grande (PB) na noite do dia 24 de junho, anunciou a doação de R$ 100 mil para instituições de caridade, seguindo o exemplo de Wesley Safadão, que no ano anterior doou um cachê de R$ 575 mil ao cantar no São João de Caruaru, em Pernambuco.
No palco, na Paraíba, Marília Mendonça recebeu uma freira representante da instituição São Vicente de Paulo e se ofereceu para ser madrinha. Ao ler uma carta, a goiana declarou para a região: “Eu não nasci no Nordeste. Mas meu coração nasceu. Eu me apaixonei pelo Nordeste antes mesmo de pisar o pé aqui. Não sou mais fértil do que as culturas mas tento aprender (…) Não troco, não dou, não vendo o valor que eu tenho por vocês nem pelo que vocês têm feito por mim. Meu coração mora nesta terra e eu jamais vou abrir mão. Se for possível, eu faço guerra. Não é pelo seu dinheiro, nem seus bens, nem suas riquezas. É pelo seu coração”, afirmou. Dias após o desabafo da ex-mulher de Maurício Mattar, Marília Mendonça se pronunciou: “Vai ter sertanejo no São João, sim, viu? Porque quem quer é o público. Então, muito obrigada por me abraçarem. Sei que vocês gostam mesmo é de música boa. Não importa o estilo”, disparou, ao cantar em festa junina no interior de Pernambuco.
Marília negou ainda que sertanejos tenham barrado forrozeiros em seus festivais. “Isso é mentira. Talvez a porta não esteja aberta porque algo está fora do seu trabalho. Quem está com trabalho legal tem portas abertas em todas as regiões do Brasil. O segredo é música boa. Não tem nada de um tomar o lugar do outro”, garantiu. Não fora a primeira vez que Marília Mendonça se envolvera em uma polêmica. No começo de maio de 2017 circulou a informação de que ela teria vetado a participação da baiana Ivete Sangalo em um show da turnê “Festa das Patroas”. Descartando qualquer incômodo com a baiana, Marília Mendonça reagiu: “Estou sem palavras para rebater. Sou sã da Ivete Sangalo. Fã. Realizei um dos meus maiores sonhos da vida cantando com ela”. Durante um show na Avenida Paulista, Elba Ramalho reclamou que o sertanejo é o estilo musical em maior número nos palcos dos festejos de São João nesta época do ano. A cantora disse que as festas deveriam ter mais músicas nordestinas para ressaltar a cultura brasileira. Em entrevista à Globo, Marília Mendonça lamentou as barreiras entre gêneros musicais. “A gente fica triste, pois a música já viveu muita desunião”.
A explosão do “sertanejo” despertou o interesse da mídia no Brasil e no exterior por se tratar de um fenômeno. Uma reportagem da revista “Veja” de 30 de janeiro de 2013 informava que o mercado sertanejo não conhecia crise e que em 2011 a indústria fonográfica comemorou o aumento de 8,4% na venda de CDs, DVDs e música digital em relação ao ano anterior, e boa parte desse crescimento era atribuído ao aumento do poder aquisitivo da classe C, que consome música sertaneja com gosto. Um enviado especial da “Veja” viajou pelo país com duplas como Fernando & Sorocaba, Bruno & Marrone, Zezé Di Camargo & Luciano para mostrar como a música sertaneja saíra do interior para se tornar a campeã nas rádios, nos palcos e até nas baladas frequentadas pela juventude AA das metrópoles. A polêmica entre Marília Mendonça e Elba Ramalho foi encarada pela mídia como reflexo do divisor de águas que passou a existir no universo musical popular brasileiro.