Nonato Guedes
O “staff” preliminar da campanha do presidente Jair Bolsonaro à reeleição no pleito de 2022 ainda não conseguiu montar na Paraíba um palanque forte que possa respaldar a candidatura do mandatário na perspectiva do confronto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que a dados de hoje é seu maior adversário. Enquanto o esquema de Lula avança pela construção do ‘palanque múltiplo’ no Estado, acolhendo – ainda que em metros quadrados separados – aliados que vão do ex-governador Ricardo Coutinho ao governador João Azevêdo, passando pelo senador Veneziano Vital do Rêgo e pelo ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, o bolsonarismo tem carência de nomes de peso para alavancar a postulação do chefe a um novo mandato.
Num primeiro momento, estrategistas ligados ao presidente da República apostaram fichas na suposta liderança do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que casaria uma virtual candidatura ao governo do Estado com a postulação de recondução de Bolsonaro. Romero, porém, “farrapou” na opinião dos bolsonaristas ortodoxos, quando deflagrou movimentos para descolar sua imagem da do mandatário, construindo para si mesmo o perfil de um político moderado, mais ao centro, disponível para diálogo até com adversários políticos locais. Esse perfil desagradou os ortodoxos ligados ao capitão e, na sequência, Romero deu sinais de relutância em assumir o projeto de candidato ao Palácio da Redenção, tendo protagonizado uma guinada ao admitir entendimentos com o governador João Azevêdo, que é contra Bolsonaro.
Há, por assim dizer, uma sensação de orfandade entre os bolsonaristas remanescentes no Estado, que tentam segurar a bandeira da reeleição sem, porém, dispor de logística e de nomes de expressão no cenário local para reforçar a jornada do presidente rumo à Estação 2022. Se Romero possui liderança indiscutível, sobretudo em Campina Grande e na região do Compartimento da Borborema, outros nomes que foram aventados no círculo bolsonarista paraibano como o do pastor Sérgio Queiroz não evoluíram para projeto de candidatura ao governo do Estado. O comunicador Nilvan Ferreira, presidente estadual do PTB, que surpreendeu ao ir para o segundo turno na eleição de prefeito de João Pessoa em 2020, não demonstra fôlego para encarar uma disputa majoritária estadual, estando cotado no nível de um mandato legislativo, que pode avançar pela deputação federal ou pela deputação estadual. Já os deputados Wallber Virgolino, do Patriota, e Cabo Gilberto Silva, do PSL, não têm cacife para defender as cores do bolsonarismo em disputa majoritária, ainda que aqui e acolá surja um blefe insinuando a possibilidade.
Por outro lado, nota-se que entre líderes políticos paraibanos que votam com o governo federal em matérias no Congresso e que dificilmente teriam espaço num dos palanques múltiplos do ex-presidente lula da Silva, não há interesse em publicizar ou massificar postura de alinhamento com Bolsonaro, a exemplo de deputados como Efraim Filho, do DEM, e Aguinaldo Ribeiro, do PP, que, inclusive, competem entre si para conquistar a única vaga de senador que estará em jogo. Já o deputado federal Pedro Cunha Lima, do PSDB, embora apoie certas matérias do Planalto, não se considera alinhado incondicional do presidente da República e já chegou a questionar ações de ministros que, a seu ver, cometeram deslizes ou até mesmo declarações infelizes, como tem se dado em relação ao ministro da Educação. Fala-se que um provável impacto do “Auxílio Brasil”, que pretende substituir o Bolsa Família, pode mudar posicionamentos de parlamentares à medida que se aproxima a campanha eleitoral.
A dificuldade de penetração de Jair Bolsonaro na Paraíba decorre da sua própria dificuldade de comunicação com a população paraibana. Embora não discrimine o Estado e tenha colocado, na Pasta da Saúde, um paraibano ilustre, o cardiologista Marcelo Queiroga, que deu partida à campanha de vacinação contra a Covid, Bolsonaro não “fala” diretamente a redutos eleitorais importantes como João Pessoa e Campina Grande. Nesta última, ainda na gestão de Romero, deu apoio para empreendimento de vulto na área habitacional, mas não soube capitalizar os dividendos da obra. Aliás, as visitas do presidente à Paraíba são feitas, geralmente, em caráter “relâmpago” – a última delas alcançou cidade do Sertão, em ato que colateralmente poderia render votos por dizer respeito à continuidade da transposição das águas do rio São Francisco. A comunicação do Planalto, porém, não enfatiza tais investimentos e o respectivo significado que possam ter.
Os bolsonaristas mais radicais mantêm acesa a expectativa de que em 2022, na disputa propriamente dita, a estratégia do “staff” do presidente seja modificada em Estados como a Paraíba, com presença mais ativa do governo federal e com maior facilidade de comunicação entre o mandatário e os beneficiários de obras e investimentos. Para que esse planejamento seja mais eficaz, cobra-se que é imprescindível uma candidatura competitiva do esquema bolsonarista contra o governador João Azevêdo. E todas as atenções se voltam para o nome do ministro Marcelo Queiroga, que também é cogitado para concorrer a uma vaga de senador – dizem que com o estímulo direto de Bolsonaro. O tempo vai ficando cada vez mais curto para uma ofensiva de resultados nas eleições da Paraíba. Se Bolsonaro angariar votos preciosos no Estado, o mérito será seu, por alguma ação de impacto que venha a empreender, não por influência de bolsonaristas locais que, para falar a verdade, parecem desnorteados quanto ao próprio futuro político no imprevisível pleito vindouro.