Nonato Guedes
O ex-senador e ex-ministro Arthur Virgílio Neto, que cumpriu agenda em João Pessoa, ontem, é o menos cotado para vencer as prévias do PSDB nacional com vistas à indicação do candidato do partido a presidente da República, já que aparentemente o páreo está polarizado entre dois governadores: João Doria, de São Paulo, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. Não obstante carregar a pecha de azarão, Virgílio chamou a atenção dos tucanos e da mídia, ontem, com declarações que constituíram um libelo sobre o desmonte experimentado pela legenda e também sobre a necessidade imperativa de sua reconstrução. Para ele, resgatar o protagonismo perdido pelo PSDB, que em 2018 deixou de polarizar a corrida presidencial, é urgente para a sobrevivência do partido.
Arthur Virgílio, que foi prefeito de Manaus (Amazonas) e é um debatedor respeitado no cenário nacional, defendeu que o vencedor das prévias seja apoiado por todos os filiados do PSDB para que ele possa recomeçar o caminho de crescimento. Frisou que o Partido da Social Democracia Brasileira é o que tem o maior legado de todos. E explicou: “Quem controlou a inflação foi o PSDB, quem resolveu a questão das fraudes bancárias foi o PSDB, quem fez a Lei de Responsabilidade Fiscal foi o PSDB liderando outros partidos de boa vontade. Mas nós não podemos viver desse passado, temos que fazer uma nova geração de reformas, temos que continuar trabalhando. Não podemos ser um partido que foi se desmontando, que vira aquela coisa triste que já foi tanto e agora não consegue ser mais nada”. Acrescentou que o PSDB tem know how para recuperar a economia brasileira. “Já fizemos e sabemos fazer”, pontuou.
A pregação de Arthur Virgílio, que foi ministro-chefe no governo Fernando Henrique Cardoso, calou fundo em solo paraibano porque, no Estado, o partido vem se desmilinguindo e, ontem mesmo, líderes como o ex-senador Cássio Cunha Lima foram confrontados com o desafio de retomar as rédeas do comando, tal como expressou o prefeito de Guarabira, Marcos Diego, referindo-se à cobrança por candidatura própria ao governo nas eleições de 2022. Essa cobrança se tornou mais intensa depois que o candidato que o PSDB se dispunha a apoiar no pleito vindouro, o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSD, recuou nos movimentos para se firmar como candidato e, surpreendentemente, passou a admitir diálogo e aliança política com o esquema do governador João Azevêdo (Cidadania), que é combatido por tucanos históricos locais. A atitude vacilante de Romero produziu clima de orfandade no segmento de oposição paraibana, detonando articulações desesperadas para a busca de uma solução para o impasse.
Na programação cumprida na Paraíba, Arthur Virgílio conheceu a Olho do Tempo – Escola Viva, tocou tambor, se emocionou ao falar do trabalho de preservação do meio ambiente, concedeu entrevista coletiva e participou de uma roda de conversa com lideranças e filiados do partido. Disse que empreende uma cruzada pela democracia e que tem mais fé no seu “taco” do que no de Eduardo Leite e de João Dória, que disputam internamente a indicação com ele. Destacou que o principal ponto no processo de prévias é o partido marchar unido após a decisão do próximo dia 21, quando serão realizadas as prévias. Nesse ponto, foi explícito: “Quero a paz do partido acima de tudo. Vejo que precisamos continuar trabalhando e sermos um partido unido. Precisamos evitar as brigas e seguir adiante. O PSDB tem que ser forte para o povo”.
O tom empregado por Arthur Virgílio acabou encorajando políticos paraibanos que não escondem sua preocupação com os rumos da agremiação tucana, quer a nível nacional, quer a nível estadual. O deputado federal Pedro Cunha lima, presidente do diretório regional, admitiu que ressoa no ambiente político a expectativa de uma alternativa. “Existe um contingente que resiste à ideia de entregar o país ao PT (Partido dos Trabalhadores) ou continuar na mesmice (com Jair Bolsonaro). Essa é uma armadilha que sangra o nosso País. É inadmissível, em um país como o Brasil, que 20 milhões de pessoas estejam passando fome”, frisou, acrescentando que o PSDB deve sair forte desse processo e em condições de oferecer melhor alternativa para o País. A deputada estadual Camila Toscano, representante de Guarabira e da região do Brejo, dirigiu-se a Arthur Virgílio exclamando: “O senhor está em uma terra onde o PSDB é oposição, que luta contra a corrupção dos governos”.
Independente das chances de Arthur Virgílio nas prévias internas do PSDB, que, inclusive registram clima de radicalização entre partidários dos governadores João Doria e Eduardo Leite, em meio a denúncias de fraudes em filiações de última hora, o ex-prefeito de Manaus tem tido uma participação importante no processo ao convocar os tucanos para aprofundamento de reflexão em torno dos descaminhos que a legenda experimentou nos últimos anos, perdendo o protagonismo na cena e a confiança na sua própria capacidade de se reinventar e reconquistar o poder. No plano nacional, o ex-presidente Fernando Henrique chegou a receber o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para uma conversa e acenou com apoio a ele no segundo turno contra Bolsonaro, patenteando ceticismo quanto às chances do PSDB chegar lá. Lula, por sua vez, está cogitando incluir um ex-tucano, Geraldo Alckmin, que foi governador de São Paulo, na sua chapa como vice, dependendo de ingresso seu no PSB. Na Paraíba, como no País, o PSDB ressente-se de uma lufada de vento para arejar os horizontes políticos – e esta foi a perspectiva que Arthur Virgílio buscou transmitir no périplo para as prévias.