Nonato Guedes
No dia oito de novembro de 2019, há exatos dois anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi posto em liberdade. Havia cumprido pena de 580 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, no Paraná, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A soltura de Lula produziu uma reviravolta nos meios jurídicos e políticos nacionais, com repercussão no exterior, inclusive porque foi acompanhada da anulação de processos e punições que lhe foram imputadas, especialmente pelo ex-juiz Sérgio Moro, que depois se tornou ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro e acabou saindo atirando contra o governo, estando, hoje, na condição de provável candidato ao Planalto em 2022 pelo Podemos, no qual assina ficha de filiação dia 10.
“Lula foi preso no dia sete de abril de 2018, após longa e implacável perseguição do Ministério Público Federal, através da operação Lava Jato, em conluio com o então juiz Sérgio Moro e amplo apoio da grande imprensa”, descreve a “Revista Fórum” em matéria a respeito. Após vigília de dois dias na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, local em que o então metalúrgico começou sua trajetória política, Lula foi carregado nos braços por uma multidão até o carro onde iniciou sua viagem para a sede da PF em Curitiba. Naquele dia, se iniciava pelo país a campanha “Lula Livre”, que originou manifestações de rua e pronunciamentos de artistas e celebridades do meio cultural, político e social.
A partir de então, houve uma peregrinação de artistas, políticos, intelectuais, religiosos, entre lideranças de várias partes do mundo, que se revezaram em visitas de apoio ao ex-presidente. Um número expressivo de populares chegou a permanecer em vigília em frente à sede da PF, no frio, na chuva, no sol e no calor, sem arredar pé, até que Lula fosse solto, no dia oito de novembro de 2019. Em julho do mesmo ano, em uma sucessão vertiginosa de fatos, são revelados em contas do Telegram diálogos entre o ex-juiz e procuradores da Lava Jato. As conversas, publicadas pelo site The Intercept, chacoalham a República e desnudam à Nação o conluio entre o Judiciário e Ministério Público para prender Lula, descreve a matéria da “Revista Fórum”. Em abril do ano seguinte, após um ano e quatro meses no cargo, Moro pede demissão do governo Bolsonaro.
Um ano depois, em abril deste ano, o Supremo Tribunal Federal referenda, por oito votos a três, a decisão do ministro Edson Fachin de anular todas as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato e declarar a incompetência da Justiça Federal em Curitiba nos processos contra ele. Lula recuperou seus direitos políticos – e ao mesmo tempo encontrou um Brasil mudado, com o derretimento da popularidade do governo de Jair Bolsonaro, recordes de desemprego, a volta da inflação e o agravamento da situação de fome, além do descrédito mundial. Por outro lado, o Brasil conta com o segundo maior índice de mortes do planeta como consequência do coronavírus. De volta ao jogo, o ex-presidente tem disparado em pesquisas de intenção de voto para presidente da República em 2022 e poderá vir até a ganhar as eleições presidenciais no primeiro turno. No contraponto, o ex-juiz Sérgio Moro tenta se aventurar na carreira política, mas seu desempenho numa corrida eleitoral é uma incógnita para os mais diversos analistas da mídia.