Nonato Guedes
Entre políticos paraibanos ligados ao presidente Jair Bolsonaro, especialmente entre os chamados “bolsonaristas-raiz”, que são os apoiadores mais ortodoxos, havia uma torcida para que o mandatário optasse por se filiar aos respectivos partidos em que atuam no Estado. O comunicador Nilvan Ferreira, presidente estadual do PTB, por exemplo, chegou a enfatizar que “seria uma honra” para o partido acolher Bolsonaro nas suas fileiras. Nilvan foi candidato a prefeito de João Pessoa nas eleições de 2020 pelo MDB, tendo logrado o feito de ascender ao segundo turno, onde enfrentou o candidato Cícero Lucena, do PP, vitorioso na contagem final. Já o deputado estadual Wallber Virgolino, que também foi candidato a prefeito da Capital naquele pleito, tinha esperança de que o presidente optasse pelo Patriota, a que é filiado.
O deputado estadual Cabo Gilberto, do PSL, sempre deixou claro que iria aguardar o posicionamento do mandatário. Ele acompanhava o noticiário sobre as dificuldades para retorno do presidente aos quadros do PSL, pelo qual foi eleito em 2018, inclusive devido à exigência de Bolsonaro de controlar as indicações de candidaturas estaduais nas eleições do próximo ano, interferindo, principalmente, na escolha de nomes ao Senado com quem pudesse fazer dobradinha na campanha pela reeleição. Já o deputado federal Julian Lemos, presidente estadual do PSL, que atuou na linha de frente da campanha do capitão em 2018, não só na Paraíba, mas no Nordeste, considerava “desagregadora” a volta do ex-filiado ilustre. O parlamentar, por convicção ideológica, vota favoravelmente a inúmeras matérias do governo federal na Câmara, mas sempre deixou claro que pessoalmente estava rompido com o presidente por causa de divergências com filhos seus, que chegaram ao nível de ataques pessoais de baixo calão em redes sociais.
Em um áudio divulgado, ontem, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, indicou que sua legenda levou a melhor, mesmo, no confronto com o PP, comandado até o meio do ano pelo ex-senador e atual ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Em jogo, indicou o líder partidário, estaria um apoio de Bolsonaro e do PL à reeleição de Arthur Lira à presidência da Câmara em 2023. O Progressistas tem o mesmo alinhamento com o governo, de 93%, na Câmara dos Deputados. Mesmo o presidente da Casa, Arthur Lira, tem um índice de 89%, o que o inclui em uma das mais próximas linhas de apoio às pautas do presidente. Sua eleição ao comando da Casa foi fortemente apoiada pelo Planalto (seu principal adversário foi Baleia Rossi, do MDB-SP), e Arthur Lira tem resistido, até agora, a todas as pressões para colocar em discussão qualquer processo de impeachment do presidente da República por supostos crimes de responsabilidade no enfrentamento à pandemia de Covid-19.
As duas legendas, PP e PL, são consideradas como parte do “Centrão”, grupo fisiológico de siglas com grande número de parlamentares, que hoje dá sustentação a Bolsonaro. O presidente já havia integrado as fileiras do PP durante duas oportunidades: entre 1993 e 2003 e entre 2005 e 2016. Esta será sua primeira passagem pelo PL. No Senado, Casa onde há, historicamente, maior consenso nas votações, o alinhamento do PL com o Planalto é de 87%, conforme levantamento do “Congresso em Foco”. Os quatro senadores que representam o partido têm mais de 75% de alinhamento com o governo. O percentual supera a média de fidelidade ao governo na Casa, que é de 83%. Quem menos votou com o governo entre os senadores do PL foi Carlos Portinho (RJ), que seguiu a orientação do governo em 78% das deliberações. O parlamentar tem um ano de mandato e ajudou a diminuir o alinhamento conquistado pelo seu antecessor, Arolde de Oliveira (RJ), morto em outubro do ano passado, por complicações da covid-19. A maior fidelidade cabe a Jorginho Melo (SC), vice-líder do governo, que votou com Bolsonaro em 91% das vezes. Uma das votações mais simbólicas, no entanto, não está incluída na lista: Melo, como integrante titular da CPI da Covid, votou contra o relatório final que incrimina o presidente.