Nonato Guedes
Pelo andar da carruagem e com a continuidade do impasse no bloco oposicionista estadual sobre lançamento de uma candidatura competitiva para enfrentar o governador João Azevêdo (Cidadania), candidato à reeleição, comentava-se, em tom de blague, nas rodas políticas, que só falta a oposição querer que o atual chefe do Executivo nomeie um candidato adversário para dar-lhe combate na batalha das urnas do próximo ano. Aliás, o governador satirizou a situação, ontem, em conversa com jornalistas, deixando claro que não lhe cabe nem lhe interessa indicar quem vai enfrentá-lo a céu aberto. A comparação que é feita nesse particular trata-se de mera alegoria, pois não é praxe na crônica política esse tipo de comportamento.
Mas a alegoria dá bem uma ideia de como a situação está mesmo de vaca desconhecer bezerro nas hostes oposicionistas. O evento do PSDB paraibano de recepção a mais um postulante às prévias internas, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, serviu mais para lamúrias ou desabafos do que para definições ou assertivas. Não faltaram insinuações para reflexões sobre o futuro da sigla, quer na Paraíba, quer no plano nacional – ou seja, convites explícitos para os tucanos sentarem no divã em pose genuflexa sobre onde eclodiram os erros que provocaram a perda do protagonismo da agremiação em disputas importantes para a ascensão ao poder. Mas essa postura, isoladamente, não tem força para produzir fatos espetaculares, principalmente no cenário local.
Foi notada, no fim de semana, a ausência de atuação mais visível por parte do ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima quanto a sinalizar estratégia de recomposição das hostes oposicionistas, que entraram em parafuso desde que o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, que é do PSD, recuou no projeto rumo ao Palácio da Redenção, que parecia bastante consolidado. Analistas avaliam que Cássio tem sido explícito até demais na demonstração de que não pretende se submeter a um moedor de carne com a oposição desunida e enfraquecida, daí contornar pressões para examinar hipótese de candidatura ao governo ou ao Senado. Além do mais, Cunha Lima ainda “processa” o impacto de duas derrotas consecutivas em pleitos majoritários – e não planeja sair da política melancolicamente, pela porta dos fundos, depois de ter brilhado desde quando se elegeu deputado federal constituinte, o mais jovem da safra de 1988, quando se fez signatário da Constituição Cidadã.
Não sendo Cássio nem Romero Rodrigues (este, inclusive, em processo avançado de aproximação com o governador João Azevêdo, sob as bênçãos da cúpula nacional do PSD), quem iria para o sacrifício de enfrentar uma disputa desigual contra quem detém os instrumentos da máquina e, ao mesmo tempo, um legado de obras e investimentos a ofertar à população paraibana? Voltou à baila o nome do deputado federal Pedro Cunha Lima, que já havia desistido da pretensão por não querer concorrer com Romero Rodrigues, cuja postulação reconhecia como legítima dentro do agrupamento campinense. Mas, convenhamos, cadê estrutura para alavancar uma candidatura de Pedro Cunha Lima? Também se questiona se há alguma tática de fortalecimento das oposições, que estão divididas em outros compartimentos na Paraíba, ou se o grupo campinense gravita em torno do próprio umbigo, dos seus quadros teoricamente confiáveis, ainda que não necessariamente fortes para uma disputa que não será fácil.
Engolfado por contradições e por falta de opções, o PSDB insiste em ganhar tempo mantendo o apoio à alegada candidatura de Romero Rodrigues, que, a esta altura, já está em processo de deterioração. Não há registro de contatos do núcleo oposicionista de Campina com outros líderes de oposição, como o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), ou com políticos rotulados como “bolsonaristas-raiz”, que se distinguem por posições ideológicas acendradas de extrema-direita e de alinhamento com o capitão-presidente da República. A impressão reinante, até entre amadores do jogo político, é que ao invés de ganhar tempo a oposição está perdendo tempo e, na sequência, perdendo quadros e ameaçada de perder apoios valiosos. Pela razão muito simples de que, a dados de hoje, não oferece nenhuma perspectiva de retomada do poder na vida administrativa estadual.
Fontes ligadas ao governador João Azevêdo aproveitaram a situação jocosa que está se criando na política paraibana para reforçar o que ele disse: que não cogita escolher adversários para enfrentá-lo nas urnas e que o mínimo que pode fazer, em respeito ao eleitor, é se preparar para enfrentar quem quer que venha a ser indicado pelas hostes adversárias. Há, em relação à oposição, uma expectativa sobre a estratégia fulminante que finalmente colocará em prática para tornar competitiva a disputa pelo governo do Estado no próximo ano. Mas, desde já, ela fica avisada que não contará com interferências externas para tomar uma decisão. Desse ponto de vista, terá que se cozinhar nas próprias banhas para encontrar fórmula que lhe possibilite, pelo menos, comparecer ao primeiro turno da eleição majoritária no ano da graça de 2022.