Nonato Guedes
Confirmando o que o presidente Jair Bolsonaro havia comunicado a apoiadores, ontem, em Brasília, o deputado federal paraibano Wellington Roberto, líder do PL na Câmara, reiterou em entrevista à rádio “Correio” que o mandatário se filia ao partido no dia 22 de novembro, fazendo alusão ao número do partido. Bolsonaro disse que a filiação ao PL estava fechada em 99%, o que foi endossado pelo presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, ex-aliado do PT, que foi condenado e preso no escândalo do mensalão. Três deputados federais do PL, com atuação no Nordeste, admitiram sair da sigla por desconforto com o ingresso de Bolsonaro, mas a cúpula avalia que as adesões serão mais expressivas do que as defecções. O PL tem 43 deputados federais e 4 senadores. Um dos deputados é “Tiririca”, eleito por São Paulo.
Em declarações à imprensa paraibana, Wellington Roberto frisou que o ajuste para a filiação de Bolsonaro envolve um “amplo acordo partidário”, com vistas a eleger, além do presidente, o maior número de senadores e deputados federais, “sempre pensando no melhor para o país”. A chegada de Bolsonaro à legenda também vai reforçar seus planos para o próximo ano na Paraíba, conforme o deputado, que deverá disputar a reeleição à Câmara, tendo o filho, Bruno Roberto, como pré-candidato ao Senado. Valdemar Costa Neto, em entrevista à CNN, ressaltou que a chance da negociação para a entrada de Bolsonaro no PL dar errada é zero. O presidente vinha cortejando ultimamente o Partido Progressistas, mas os entendimentos não avançaram. Ele está sem partido desde que deixou o PSL e tentou fundar o Aliança Brasil, sem conseguir êxito. Recebeu convites para filiação de vários partidos, inclusive do PTB, mas as opções vinham mesmo se afunilando entre o PP e o PL.
Ainda ontem, o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP-PB, perguntado sobre o que achava do ingresso do presidente da República na legenda, salientou que não iria falar sobre “hipótese”, acrescentando que não havia nada, em termos concretos, quanto a essa perspectiva. A filiação partidária é indispensável para que Jair Bolsonaro concorra à reeleição no pleito de 2022, quando deverá ter como principal adversário o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Levantamento do “Congresso em Foco” mostra que o PL é um dos partidos mais fiéis ao governo na Câmara. De acordo com o Radar do Congresso, a bancada votou com o Planalto em 93% das vezes desde o início do mandato. Entre os principais partidos da Casa, apenas o PSL, que ainda concentra a maior parte dos parlamentares eleitos na onda bolsonarista em 2018 tem fidelidade ligeiramente maior (94%).
O “Radar”, ferramenta do “Congresso em Foco” que compila e qualifica as informações do Congresso Nacional, chegou a esse índice após análise das 1.143 votações realizadas na Câmara desde o início da atual legislatura, em fevereiro de 2019. O índice de governismo é calculado com base na coincidência entre os votos de cada deputado e a orientação do governo na mesma deliberação. Esta será a décima sigla de Bolsonaro em trinta e dois anos de trajetória política. No PL, o deputado que menos segue as orientações do governo é Tiririca (SP), que está em seu terceiro mandato por São Paulo. Ele votou com o governo em 58% das vezes. Desafeto de Bolsonaro, o primeiro vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), votou com o governo em 93% das vezes. Os mais fiéis são Paulo Freire Costa (SP) e José Rocha (BA), que se alinharam ao Planalto em 97% das votações, e Marco Feliciano, o pastor evangélico paulista que registrou 98% de fidelidade.
Integrante da terceira bancada mais numerosa da Câmara, atrás apenas do PT e do PSL, o vice-líder do PL e um dos líderes da bancada evangélica, deputado Lincoln Portela (MG) conversou, ontem, tanto com Valdemar Costa Neto quanto com Bolsonaro. Segundo ele, a filiação deverá ocorrer no dia 22, em referência à data, ao número do partido e ao ano da próxima eleição. “O PL é um partido conhecido nacionalmente por cumprir com sua palavra. É fiel ao governo. Tem bases consolidadas mais no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste. Eu acredito que o vice de Bolsonaro virá do PP”, afirmou o deputado, frisando que o conservadorismo do PL casa com Bolsonaro. O vice-líder dá como certo que a bancada crescerá na próxima janela de filiação partidária para os deputados, no primeiro trimestre de 2022. “Os bolsonaristas que estão no PSL terão maior facilidade para vir para o partido”, considera.