Nonato Guedes
Entre aliados do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), há uma expectativa quanto ao posicionamento final que ele assumirá, da mesma forma como persiste o empenho para fazer a oposição lançar uma candidatura competitiva ao governo do Estado. Para esses aliados, entre os quais se inclui o atual prefeito Bruno Cunha Lima, sucessor de Romero, falta uma palavra definitiva do ex-gestor sobre suas pretensões na eleição do próximo ano. Alegam que não há confirmação oficial do alinhamento de Rodrigues com o bloco do governador João Azevêdo (Cidadania), apesar da reiteração feita pelo chefe do Executivo estadual de que se dispõe ao diálogo com ele, dentro da estratégia de aglutinar forças para respaldar o projeto de candidatura à reeleição.
Bruno deu a entender, ontem, em João Pessoa, durante entrevista a jornalistas, que o bloco oposicionista a que ele pertence não considera a hipótese de se compor com o governador e mantém-se aberto ao exame de alternativas, sendo a mais cogitada a de relançamento do deputado federal Pedro Cunha Lima, que é presidente estadual do PSDB, e que lá atrás havia sido flexível na pretensão para poder acomodar Romero e pavimentar a candidatura que o ex-prefeito chegou a anunciar. O prefeito avalia que Pedro, filho do ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima, tem o perfil ideal para representar as cores da oposição na disputa sucessória, pela sua coerência e firmeza na linha de oposição ao governo João Azevêdo e a atos emanados da administração que ele enfeixa nas mãos. Pelo que Bruno deu a entender, não há proliferação de nomes desejosos de competir dentro do bloco de oposição, mas pessoalmente ele acredita que o escolhido desempenhará esse papel à altura, fazendo o contraponto a uma suposta unanimidade em torno do governador-candidato.
O atual prefeito de Campina Grande tentou demarcar, de forma didática, para a opinião pública, os limites da relação institucional que admite cultivar com o governo do Estado, exemplificando com situações em que a parceria entre Estado e município é imprescindível para a execução de obras ou atendimento de demandas de interesse coletivo. Frisou que o governo Azevêdo acionou a sua gestão para a cessão de terrenos onde possam ser construídas obras importantes, como um Hospital que atenderá Campina Grande e municípios da região do Compartimento da Borborema. A prefeitura acedeu em facilitar a demanda, mas isto não significa aceno para composição política-partidária com vistas às eleições do próximo ano. Nesse campo, não há entendimento possível – nem mesmo se o ex-prefeito Romero Rodrigues vir a figurar numa chapa titulada por Azevêdo, como opção para vice-governador, tal como especulado na mídia.
O projeto de lançamento de candidatura ao governo do Estado pela oposição, na avaliação do prefeito Bruno Cunha Lima, é um projeto legítimo e atende a expectativas de segmentos da sociedade que não estão fechados com a candidatura do atual governador à reeleição e que preferem apostar em novos nomes, com novos projetos e concepções diferenciadas em torno do modelo de gestão da Paraíba. Ele deixou claro que os líderes oposicionistas devem uma resposta à altura da expectativa desses segmentos da sociedade e, para tanto, precisam se articular o quanto antes, fixando pontos de convergência e ajustando critérios que deverão permear a escolha de um candidato. O prefeito não chegou necessariamente a fixar prazo, mas deixou implícito que a busca por soluções precisa ser conciliada com o calendário da campanha de 2022, possibilitando discussões amplas que viabilizem táticas de resultados nas urnas.
Não houve, nas declarações de Bruno Cunha Lima, citação de nomes que podem somar nesse projeto de lançamento de candidatura ao governo, talvez porque o gestor tenha consciência da fragmentação que divide o campo oposicionista no Estado. Há os bolsonaristas-raiz, que trabalham para lançar até mesmo um nome meramente simbólico ao governo, como condição para assegurar palanque ao presidente Jair Bolsonaro no confronto contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-juiz Sergio Moro, auto-proclamado postulante na solenidade de filiação ao Podemos, em Brasília. E há adversários do governador João Azevêdo enfileirados no PT, como o ex-governador Ricardo Coutinho, que não dialogam com os Cunha Lima. Essa desunião da oposição é que parece estar retardando consensos em torno de nomes e estratégias para o confronto eleitoral de 2022.
Enquanto o grupo campinense ligado a Romero Rodrigues aguarda uma luz no fim do túnel e os bolsonaristas-raiz analisam com lupa nomes de prováveis postulantes em potencial ao governo do Estado, o ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, do Partido Verde, não perdeu a esperança de angariar apoios para se consolidar como candidato de oposição a João Azevêdo no pleito vindouro. Fora do campo da esquerda, ele não tem encontrado sinais de receptividade a uma pretensão que refugou em 2018, quando preferiu continuar no exercício do mandato de prefeito da Capital e lançou o irmão gêmeo Lucélio como candidato ao governo, tendo Micheline Rodrigues, a mulher de Romero, como vice, chapa que não empolgou parcelas do eleitorado a ponto de abalar a vantagem de Azevêdo. No fundo, no fundo, a oposição está vivendo, por ora, de balões de ensaio, não de definições concretas. Talvez esse cenário esteja induzindo o governador João Azevêdo a se mostrar confiante na vitória, sem partir, entretanto, para triunfalismos que ele sabe serem prejudiciais a qualquer projeto sólido de poder que se tente empreender. O impasse na oposição continua sendo crucial.