Nonato Guedes
Às vésperas da realização das prévias do PSDB nacional para a escolha de um candidato próprio à presidência da República em 2022, a pré-candidatura do ex-ministro Sergio Moro (Podemos) passou a chamar a atenção do deputado federal paraibano Pedro Cunha Lima, presidente do diretório no Estado, e de outros expoentes ‘tucanos’ com liderança nacional. Em pesquisas de opinião pública, o ex-juiz da operação Lava-Jato está à frente dos dois principais presidenciáveis tucanos, ou seja, os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. O paulista aparece com 2% numa simulação feita em pesquisa pela Genial Investimentos e Quaest Consultoria, enquanto Eduardo Leite figura com 1%. Além dos dois, concorre às prévias, a se realizarem no próximo dia 21, o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Pedro diz que Moro “eleva a pressão” sobre uma candidatura única de terceira via.
De acordo com reportagem do UOL, os números sensibilizaram ‘tucanos’, especialmente em Minas Gerais e no Sul, porque apontam uma chance de o PSDB conseguir compor uma chapa forte à eleição presidencial, sem ser o nome principal, e reforçam a chamada terceira via, alternativa que é perseguida incessantemente por forças políticas de centro para fazer frente à polarização que está desenhada desde agora entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Os números da Genial Investimentos e Quaest Consultoria indicam Sergio Moro com 8% das intenções de voto, abaixo de Bolsonaro, com 27% e de Lula, com 57%, e tecnicamente empatado com Ciro Gomes, do PDT, com 6%, e que até então despontava sozinho na terceira colocação.
Sergio Moro já era especulado como pré-candidato ao Palácio do Planalto há meses, mas, até pouco tempo, negava peremptoriamente a possibilidade de entrar no páreo. Ele quebrou a promessa de não se lançar no mundo político ao assinar ficha de filiação ao Podemos, num evento concorrido em Brasília, onde fez discurso de presidenciável e ganhou gritos de apoio. No pronunciamento, o ex-ministro tentou, ao máximo, se descolar do presidente Jair Bolsonaro, em cujo governo ocupou a Pasta da Justiça e da Segurança, pedindo exoneração em meio a denúncias de interferência política do mandatário em investigações da Polícia Federal. No discurso de filiação, Sergio Moro criticou os expoentes do “mensalão”, referência a petistas acusados de envolvimento no escândalo de compra de votos políticos, e aos patrocinadores de “rachadinha”, esquema de apropriação de salários de funcionários que teria como protagonistas pessoas muito próximas de Bolsonaro. A estratégia, de caso pensado, foi com vistas a se diferenciar de Lula e de Bolsonaro.
A campanha pelas prévias dentro do PSDB tem sido tumultuada por incidentes no processo de definição de filiados aptos a votar e por troca de acusações enrte partidários dos dois principais candidatos, João Doria e Eduardo Leite, o que vem reforçando a impressão de que não resultará unidade do desfecho e que são concretas as possibilidades de um “racha” na agremiação, com debandada para outros candidatos mais viáveis ou mais palatáveis para descontentes. Sergio Moro encarnaria esse perfil ideal para representante da terceira via, e a pontuação que ele vem tendo em pesquisas de intenção de voto amplia o seu cacife nas hostes tucanas. Uma outra pesquisa, da revista Exame e do Instituto Idea, divulgada na sexta-feira, 12, revezou os nomes de Doria, Leite e Moro. Todos apareceram em quarto lugar, atrás de Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes, respectivamente, mas Sergio Moro figurou com 9%, Leite com 6% e Doria com 5%.
Falando ao UOL, o deputado paraibano Pedro Cunha Lima disse que a avaliação de um candidato tucano concorrer ou não deve passar por uma “questão matemática”. Defensor da chapa única de terceira via, o parlamentar diz que Moro “aumenta a pressão” sobre o tema, dada a performance que está ensaiando desde agora. “Você via os candidatos (de centro-direita), cada um com 3% ou 4%, e quando se coloca Sergio Moro, uma nova força eleitoral, você aumenta a pressão política sobre a viabilidade ou não de candidaturas separadas”, comentou. Pedro Cunha Lima negou que haja qualquer movimento para dificultar a viabilidade das candidaturas tucanas, mas diz que é preciso “ter a responsabilidade de oferecer uma alternativa ao país contra a polarização de Lula e Bolsonaro”.
A ideia de unir possíveis candidatos de centro-direita em torno de apenas uma candidatura é considerada pelos outros presidenciáveis de fora do partido. Segundo informação do UOL, Sergio Moro, João Doria e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) se reuniram em São Paulo no fim de setembro para debater um plano para viabilizar a terceira via. Na proposta defendida pelos dois ex-ministros de Bolsonaro, os quase presidenciáveis de centro-direita se uniriam em torno de quem estiver melhor posicionado nas pesquisas em abril de 2022 – os demais desistiriam de sua candidatura, declarando apoio. O plano foi rejeitado por Doria. Seja como for, mantida uma candidatura pelo PSDB após o resultado das prévias, a hipótese de adoção do nome de Sergio Moro lá na frente não é descartada pelo menos nso bastidores. A versão que circula nos meios políticos é de que o discurso de Sergio Moro na filiação ao Podemos chacoalhou as prévias programadas pelo PSDB e reforçou o discurso para a terceira via. Aguarda-se o desdobramento dos acontecimentos.