Nonato Guedes
O cantor e compositor paraibano Chico César, vítima de racismo ao ser citado em um programa de rádio da cidade do Conde, no litoral do Estado, preferiu não comentar o assunto mas ganhou manifestações de solidariedade nas redes sociais, onde internautas repudiaram as agressões feitas. O vídeo viralizou nas redes sociais e repercute desde o último fim de semana. No programa “Fala Conde”, o apresentador “Byra de Jacumã” comentava sobre o Carnaval quando citou o artista: “Acabaram com nosso carnaval, que era nosso cartão postal. Fizeram um carnaval para eles. Era aquele negrinho tocando violão nu – como era o nome dele, de Catolé do Rocha? Esqueci o nome daquela praga, ninguém se lembra mais dele. Deixa para lá”.
Renato Vieira, o outro apresentador, não fez remendos à fala de cunho racista de “Byra de Jacumã” e ainda ajudou a lembrar o nome do cantor. “Era Chico César”, afirmou ele. “Era esse mesmo”, concordou Bira. Pelo Twitter, muitos internautas reclamaram da postura dos apresentadores do programa. “Que é isso, gente?! Chico César é um patrimônio cultural da música brasileira”, disse uma internauta. “E esses racistas estão soltos ainda?”, questionou outro. “Chico César, processa esses cabras aí”, sugeriu um terceiro. A prefeitura da cidade de Conde, em nota enviada à mídia sulista, esclareceu que o programa de rádio é uma produção independente, sem vinculação institucional com a gestão municipal e que, sendo assim, não pode ser responsabilizada ou atrelada a sua imagem a qualquer comentário ou opinião que porventura seja feito no referido meio de comunicação”.
A nota prossegue: “Isto posto, é importante deixar claro que a gestão municipal repudia e não compactua com quaisquer atos discriminatórios, nem muito menos de racismo. Nesse sentido, tem, inclusive, adotado políticas públicas para diminuir o histórico fosso de desigualdade infelizmente ainda existente em nosso país. A prefeitura de Conde aproveita o ensejo para reafirmar o seu compromisso com o desenvolvimento da cidade para garantir ações e projetos que melhorem a qualidade de vida da população condense”. O próprio “Byra de Jacumã” se manifestou através do Instagram, onde gravou um vídeo com um pedido de desculpas. “Gostaria de expressar minha vergonha ao ver eu, um negro, cometendo uma espécie de racismo. Às vezes a gente fala coisas e não tem a dimensão do que isso possa causar em outra pessoa”, escreveu ele na legenda da postagem.
– Logo eu, que por várias vezes sofro com isso, ora comigo, ora com outras pessoas Acabei por cair numa armadilha, mas sou muito homem para reconhecer o meu erro e pedir desculpas. O racismo está impregnado na sociedade de forma tal que muitos fingem não ver e, por saber dói, maltrata e leva para baixo qualquer um que sofra. Chico, não gostar de suas músicas não me dá o direito de agir assim contra você. Por isso, peço desculpas pela insanidade que fiz contigo, até porque sinto na pele desde que nasci ao lado da pedra do corrente – acrescentou. Chico César é reconhecido nacionalmente como uma das expressões de destaque da Música Popular Brasileira. Ele continua compondo e gravando músicas de sucesso, uma das quais chegou a ser popularizada no Big Brother Brasil 21, da Rede Globo, pela advogada paraibana Juliette Freire, vencedora do reality show. Foi secretário de Cultura do Estado e atuou, também, em órgãos responsáveis por políticas públicas de cultura em João Pessoa. Na Fundação Espaço Cultural da Capital paraibana, por coincidência, foi encerrado agora um painel sobre enfrentamento ao racismo na efetivação da política de igualdade racial da Paraíba.