Nonato Guedes
Enquanto o PSDB nacional vive situação de “guerra fratricida” entre os governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP) que disputam, nas prévias de amanhã, a indicação para candidato do partido à presidência da República, na Paraíba o impasse não é menor, girando em torno da escolha de um nome para concorrer ao governo em 2022 contra João Azevêdo (Cidadania), que, até aqui, é apontado como favorito no páreo. O deputado federal Ruy Carneiro, que na eleição de 2020 ficou em terceiro lugar à prefeitura de João Pessoa, previu que a legenda terá um candidato forte, competitivo, ao Palácio da Redenção e que o ungido poderá ser anunciado até o final de dezembro, mas em nenhum momento sinalizou ou especulou nomes para a batalha.
Na verdade, conforme Ruy deixou claro em declarações à rádio Correio, o PSDB paraibano ainda aguarda o pronunciamento definitivo do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), sobre a desistência da pré-candidatura ao Executivo do Estado. Romero havia conseguido compromisso de apoio dos tucanos à pretensão de concorrer a governador, ocasionando, inclusive, a desistência do deputado federal Pedro Cunha Lima em seu favor. Mas a mobilização do ex-prefeito de Campina Grande foi praticamente desaquecida nos últimos meses, em meio a rumores de que ele estaria construindo pontes com o esquema do governador João Azevêdo, admitindo a hipótese de ser candidato a vice na chapa do atual gestor à reeleição. O esquema Cunha Lima e outros aliados eventuais de Romero não concordam, de forma alguma, com a composição com Azevêdo.
Nas condições atuais de temperatura e pressão, Romero Rodrigues e seus aliados tucanos travam uma queda de braço em torno do fator tempo para explicitação de uma definição. Esses aliados, em sua maioria integrantes das hostes tucanas, advertem que já houve perda demais em articulações políticas e especulações sobre viabilidade de candidatura própria de oposição, enquanto Romero Rodrigues, exibindo uma postura glacial, ressalta que ainda precisa esgotar avaliações acerca da conjuntura política-eleitoral da Paraíba para o próximo ano. Chegou mesmo a lembrar que a data-limite para realização de convenções que homologarão candidaturas ao pleito 2022 é o mês de junho do próximo ano – e que, até lá, mudanças poderão ocorrer, afetando estratégias que estiverem sendo fechadas precipitadamente.
Na opinião do deputado federal Ruy Carneiro, não há dúvidas de que o nome que ainda está posto numa das vertentes da oposição ao governo João Azevêdo para a eleição do próximo ano é o do ex-prefeito Romero Rodrigues, que se lançou à empreitada tão logo concluiu o segundo mandato à frente da municipalidade campinense e que invoca como argumento a sua liderança sólida em Campina Grande, onde, na eleição municipal de 2020, conseguiu eleger o sucessor, Bruno Cunha Lima, em primeiro turno. Mas, pelo que Ruy Carneiro dá a entender, não está sendo possível ao bloco oposicionista aguardar indefinidamente pela boa vontade de Romero Rodrigues em dizer “Sim” ou “Não” à parada majoritária estadual, porque, em paralelo, outras forças, do próprio campo da oposição no Estado, estão se aglutinando, examinando nomes e costurando possíveis alianças para fazer frente ao esquema de Azevêdo.
Nessa perspectiva é que o deputado Ruy Carneiro demarca o mês de dezembro como espécie de divisor de águas para uma pré-definição sobre nomes com que o bloco a que pertence vai se preparar para tentar vencer o rolo compressor da estrutura oficial. O parlamentar tucano, por questões táticas, nega-se a reconhecer o alardeado favoritismo do governador João Azevêdo para conseguir a reeleição, embora todos os indícios sinalizem que o chefe do Executivo vem agregando apoios importantes, lastreado por ações administrativas que tem deflagrado em diferentes regiões do Estado e por um pacote de obras e de investimentos que, a cada semana, produz dividendos ou eventos de repercussão. “A candidatura do governo não empolga a população”, chegou o deputado Ruy Carneiro a sentenciar, evidenciando que subestima tanto a liderança que Azevêdo passou a construir como o impacto da ofensiva administrativa que ele desenvolve no Estado.
O problema do PSDB da Paraíba, na opinião de alguns analistas experientes, é a falta de opções realmente “competitivas” para confrontar nas urnas o governador João Azevêdo em sua primeira gestão à frente dos destinos do Estado. No próprio PSDB, onde o deputado Pedro se insinua como alternativa a Romero para ser candidato “por honra da firma”, a avaliação frequente ainda é a de que somente o ex-senador e ex-governador Cássio Cunha Lima poderia endurecer o jogo e motivar, até mesmo, a união de setores da oposição estadual, que ora estão fragmentados ou dispersos. Afirma-se que a despeito de duas derrotas majoritárias consecutivas que enfrentou – ao governo, em 2014, e na reeleição ao Senado, em 2018, Cássio ainda é o grande nome para levar o jogo para a radicalização, a partir daí podendo levar o governador-adversário às cordas. Como Ruy não citou nomes, a dúvida persiste sobre qual seria esse “nome competitivo” que ele anuncia. Enquanto isso, o tempo vai passando e o atual governador vai avançando num “frentão” para reconduzi-lo a Palácio.