Nonato Guedes
A mudança do nome do aeroporto “Presidente Castro Pinto” para “Senador José Maranhão”, que é objeto de proposta da senadora Nilda Gondim (MDB) em tramitação no Congresso continua provocando polêmica na Paraíba e não apenas entre descendentes ou familiares de Castro Pinto, mas junto a expoentes de setores intelectuais que defendem que outras homenagens podem ser prestadas ao ex-governador Maranhão, falecido em fevereiro último, vítima de complicações causadas pela Covid-19. A causa para mudar o nome do aeroporto, que fica no município de Santa Rita, na Grande João Pessoa, foi encampada, também, pela prefeita de Bayeux, Luciene Gomes, por parlamentares emedebistas e por outras lideranças políticas. Historiadores e outros intelectuais advertem para o risco de se perderem e se desrespeitarem registros da História do Estado e do povo paraibano.
Nilda Gondim, mãe do senador Veneziano Vital do Rêgo, que preside o diretório estadual do MDB, era primeira suplente de José Targino Maranhão, compondo a chapa em que ele se elegeu ao Senado em 2014. Ascendeu à titularidade com a morte do parlamentar, que definiu como “um homem público trabalhador, íntegro, honesto, que realizou grandes obras estruturantes em toda a Paraíba”. O poeta, escritor e professor Sérgio de Castro Pinto, de quem o presidente foi tio bisavô, assumiu em redes sociais e outros meios de comunicação a defesa da memória do parente ilustre, inclusive repassando informações sobre a sua trajetória na vida pública do Estado. Ele criticou “alguns políticos” que “de forma injustificável querem mudar o nome do aeroporto Castro Pinto para José Maranhão” e disse que considerava a atitude “uma agressão ao ex-presidente da Paraíba e aos seus descendentes”. Sérgio tem recebido mensagens de solidariedade pelas posições que assume.
Natural de Mamanguape, João Pereira de Castro Pinto era senador quando foi escolhido como nome de conciliação para o governo da Paraíba pelos dois grupos que se abrigavam no situacionismo estadual: o grupo político do senador Álvaro Machado e do padre Walfredo Leal, que há 20 anos dominava a política do Estado e o do ainda ministro do Supremo Tribunal Federal Epitácio Pessoa, que ensaiava o seu retorno à política. Castro Pinto havia sido eleito para o Congresso com o apoio dos “alvaristas” mas era amigo de Epitácio Pessoa desde os tempos da Faculdade de Direito do Recife. Foi feito um acordo político que já se sabia, de antemão, segundo o historiador Flávio Ramalho de Brito, que não ia dar certo, em razão dos interesses conflitantes. No início de 1915, nas eleições federais, houve rompimento das duas correntes políticas. Castro Pinto ficou neutro. Proibiu qualquer ingerência da máquina do governo em favor das candidaturas. O jornal “A União”, que costumeiramente fazia a propaganda dos candidatos governistas, noticiou, unicamente, os resultados oficiais do pleito. Ao término da disputa, os perdedores voltaram-se contra ele pela falta de apoio. Os vitoriosos, ligados a Epitácio, cobravam de Castro Pinto a demissão dos perdedores que ocupavam cargos no governo. Castro Pinto desagradou aos dois lados e passou a enfrentar uma campanha de achincalhe contra ele. Renunciou ao governo e deixou a Paraíba para nunca mais voltar, apesar de, até o final dos seus dias, continuar reverenciando a terra natal.
O governo de Castro Pinto foi curto e muito conturbado, politicamente, de apenas dois anos e nove meses. Ele tomou medidas duras como afastar juízes de atividades políticas, acabar com a acumulação remunerada de cargos, combater o cangaceirismo que assolava o Estado e que tinha em alguns lugares a colaboração de chefias políticas, além, conforme Flávio Ramalho de Brito, de reequipar o Liceu, criar uma Escola de Comércio, implantar o ensino noturno aos alunos que trabalhavam no período diurno e elaborar um livro para ser usado no ensino de História da Paraíba nas escolas primárias. Providenciou o primeiro projeto de saneamento da Capital, elaborado pelo engenheiro Saturnino de Brito, a maior autoridade nacional no assunto. Em termos de estilo, Castro Pinto era tido como um “doutrinador”, que “eliminava as resistências aos seus atos pelo convencimento, não pela força”. Faleceu a 11 de julho de 1944 e deixou obra de repercussão na sua passagem pela Câmara dos Deputados.
Por sua vez, José Targino Maranhão foi governador da Paraíba por três vezes, assumindo, inicialmente, como vice de Antônio Mariz, que faleceu em 1995. Foi eleito senador em duas oportunidades – em 2002 e 2014, tendo sido também deputado federal e deputado estadual em várias legislaturas. Com raízes em Araruna, José Maranhão era advogado, descendente de uma família de tradição política – o pai, Benjamin Gomes Maranhão foi prefeito daquela cidade. Estreou na política como o mais jovem deputado estadual em 1954 pelo PTB. Tornou-se piloto de avião e teve o mandato cassado pelo regime militar instaurado em 1964 e que durou 21 anos. À frente do governo do Estado, adotou o lema “Austeridade é Desenvolvimento” e deixou obras marcantes na agricultura, na irrigação e em setores de infraestrutura.
obrigado, nonato, pela menção a castro pinto. abraços.