A Federação das Associações de Municípios da Paraíba (Famup) lamentou a aprovação, pelo Senado Federal, do Projeto de Lei 2.564, tratando do piso salarial de enfermeiros, auxiliares e técnicos em enfermagem, com a retirada da emenda 2, apresentada pelo senador Wellington Fagundes (PL-MT) em que exime a União da corresponsabilidade no custeio da saúde. A Famup reforçou a necessidade de valorização dessas carreiras, mas alerta que sem a participação do governo federal para o pagamento do piso da enfermagem o projeto leva a frágil situação fiscal dos municípios ao colapso imediato. O texto da relatora, senadora Zenaide Maia (Pros-RN), prevê o piso salarial de R$ 4.750 para os enfermeiros com uma carga de 30 horas semanais, seja da rede pública ou privada, seja das Santas Casas. Mesmo abaixo do proposto no texto original – 7,3 mil, o novo valor foi bem recebido pelo Conselho Federal de Enfermagem.
O presidente da Famup, George Coelho, reagiu: “A aprovação do projeto mostra que o Senado, neste ato, desequilibra o pacto federativo. Será um custo alto atribuído aos municípios que não terão condições de arcar, principalmente aqueles de pequeno porte que dependem exclusivamente do FPM para sobreviver. Temos que observar que o piso salarial nacional do enfermeiro, do técnico de enfermagem, do auxiliar de enfermagem e da parteira trará um impacto direto imediato às gestões municipais de R$ 20 bilhões ao ano”. Em nota divulgada pela Confederação Nacional de Municípios, o presidente Paulo Ziulkoski diz que não se pode aceitar novamente imposição de despesas sem que seja considerada a situação fiscal daqueles que estão na ponta, prestando grande parte dos serviços à população.
O impacto previsto representa praticamente todo o repasse de 2020 destinado à Atenção Básica feito pelo governo federal aos Fundos municipais de saúde. Isso significa menos recursos para a atividade fim em Saúde. Serão menos recursos para unidades de saúde, compra de medicamentos, entre outras necessidades que impactam diretamente a vida da população. “Foi uma votação irresponsável fiscalmente, que mais uma vez joga a conta para cima do cidadão”, alertou a CNM. De acordo com a Confederação, são 781,4 mil profissionais contratados direta e indiretamente pelos municípios em todo o Brasil. Os dados do relatório de gestão fiscal do terceiro quadrimestre de 2020, com informação de 3.034 municípios, revelam que 60% dos executivos municipais estão com despesas de pessoal acima de 48,6% da RCL, valor apenas 3% abaixo do limite prudencial. Com isso, podem ter os repasses constitucionais cortados.
Na tentativa de reverter a situação e viabilizar a imediata execução do piso sem ferir as finanças do ente local, a CNM apresentou sugestão de emenda, que foi acolhida e apresentada como o Destaque 2.297/2021. A entidade pediu que o piso fosse integralmente custeado pela União, por meio de repasses mensais para os fundos municipais de saúde. Esse critério já ocorre com o custeio dos agentes comunitários de saúde e de combate às endemias. Diante desse cenário, a Confederação e a Famup lamentam que mais uma vez os parlamentares tenham escolhido agir de modo eleitoreiro e irresponsável, repassando uma conta claramente inviável para os municípios brasileiros. Para George Coelho, esse tipo de decisão tomada em Brasília desequilibra o pacto federativo e traz enormes e irreparáveis prejuízos à sociedade. O projeto inclui o piso salarial na lei 7.498, de 1986, que regulamenta o exercício da enfermagem, estabelecendo um mínimo inicial para enfermeiros, no valor de R$ 4.750, a ser pago nacionalmente por serviços de saúde públicos e privados, para uma jornada de trabalho de 30 horas semanais. Em relação à remuneração mínima dos demais profissionais, o projeto fixa a seguinte gradação: 70% do piso nacional dos enfermeiros para os técnicos de enfermagem e 50% do piso nacional dos enfermeiros para os auxiliares de enfermagem e as parteiras.