Nonato Guedes
O acerto de ponteiros entre o PL nacional, presidido por Valdemar Costa Neto, e o presidente Jair Bolsonaro para a filiação deste à legenda, estimulou a seção paraibana do Partido Liberal a convidar o cardiologista Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, a também assinar ficha, com a garantia de uma condição: ser o candidato do partido ao governo do Estado em 2022. Queiroga é neófito na disputa de mandatos eletivos no seu Estado de origem e, oficialmente, não há registro de filiação sua a qualquer agremiação política. Ganhou visibilidade, porém, como o “ministro da vacina”, ao dar partida e celeridade ao plano nacional de imunização de grupos sociais contra a covid-19, avançando por esse terreno mesmo em meio à postura negacionista do presidente Jair Bolsonaro. Ultimamente, o ministro tem adotado o silêncio quando indagado sobre eventuais pretensões políticas.
Na entrevista que concedeu ao jornalista Victor Paiva para a rádio “Correio”, Bolsonaro elogiou o trabalho do seu ministro da Saúde e enfatizou que sempre defendeu a vacinação, mas com liberdade para quem não quiser tomar doses dos imunizantes, citando o seu exemplo pessoal, que, ainda hoje, não aderiu à campanha. O presidente definiu Queiroga como “um apaixonado” pela vacinação e queixou-se de ter sido vítima de “fake news”, numa referência a informações divulgadas na mídia de que o governo dificultou, ao máximo, os entendimentos para a aquisição de vacinas no exterior, enquanto, nos bastidores, seguia conselhos de um “gabinete paralelo” que sempre enfatizou a importância do tratamento precoce à base de hidroxicloroquina, mesmo não havendo comprovação científica sobre a eficácia desse tipo de remédio em relação aos efeitos do coronavírus.
Sobre a filiação ao PL, que estava sustada devido a desentendimentos entre o grupo de Bolsonaro e diretórios do partido em alguns Estados, o presidente da República afirmou, ontem, durante visita ao Congresso Nacional, que a filiação deverá acontecer em evento marcado para 30 de novembro. De acordo com ele, “está tudo certo para ser um casamento”. E emendou: “Seremos felizes para sempre”. O aceno para a filiação do ministro Marcelo Queiroga com vistas a uma provável candidatura a governador da Paraíba foi feito por Bruno Roberto, que se anuncia pré-candidato ao Senado e é filho do deputado federal Wellington Roberto, presidente estadual do PL. A cúpula paraibana do Partido Liberal movimenta-se para atrair outros bolsonaristas que estão em outras siglas. O deputado Wellington Roberto já havia deixado claro que o PL não apoia a candidatura do governador João Azevêdo (Cidadania) à reeleição e estava dialogando com o ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que ultimamente tem emitido sinais de recuo em projetos na disputa majoritária. Romero está sendo cotado, inclusive, como opção para vice de Azevêdo.
Na versão dada pelo presidente Bolsonaro, ele conseguiu fazer acertos com o PL em torno de chapas ou candidaturas em São Paulo e alguns Estados do Nordeste. “No macro foi tudo conversado com Valdemar (Costa Neto) sem problema. Uma pessoa que é conhecida por honrar palavra. De minha parte, também, e temos tudo para ajudar na política brasileira”, disse. A filiação, num primeiro momento, foi agendada para o dia 22 de novembro, numeral da sigla na urna, mas as negociações recuaram em razão de costuras feitas por lideranças regionais. O presidente da República expressou insatisfação com a aproximação do PL a agremiações de esquerda em Estados e municípios e, além disso, reivindicava maior espaço de poder para decidir nomes que serão concorrentes a cargos relevantes no pleito de 2022. Entre as demandas de Bolsonaro está a candidatura de Tarcísio Gomes de Freitas, atual ministro da Infraestrutura, para o governo de São Paulo.
De acordo com o UOL, o PL aceitou a condição e, inclusive, já convidou o ministro Tarcísio a assinar a ficha de filiação junto ao presidente da República, mas ele não teria decidido, ainda, se vai aceitar a oferta. Desde que deixou o partido pelo qual foi eleito presidente da República, o PSL, em 2019, após desentendimentos com a cúpula da sigla, Bolsonaro tentou criar o Aliança pelo Brasil, mas o projeto acabou não saindo do papel a tempo. Bolsonaro também chegou a discutir seu retorno ao Progressistas (PP), partido do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, pelo qual Jair Bolsonaro foi deputado entre 2005 e 2016. “Tentei e estou tentando um partido que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o domínio do partido. O PP passa a ser uma possibilidade de filiação nossa”, relatou o presidente em julho. Para evitar brigas entre partidos aliados, Bolsonaro informou Ciro Nogueira de sua decisão de se filiar ao PL antes de dar o “sim” a Valdemar Costa Neto.
Quanto a Marcelo Queiroga, a hipótese de filiação sua a uma legenda eleva a temperatura política, sobretudo, na Paraíba, onde, até agora, o governador João Azevêdo, eleitor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é favorito em pesquisas preliminares para a disputa de um novo mandato em 2022. As oposições no Estado quebram cabeça quanto à escolha de um nome com densidade que possa abalar o favoritismo de Azevêdo – e os sinais de recuo da parte do ex-prefeito Romero Rodrigues quanto a assumir uma candidatura ao Palácio da Redenção agravaram o quadro de impasse. Daí a expectativa de uma suposta candidatura de Queiroga. Embora o ministro não tenha currículo político na Paraíba, pode vir a surpreender, impulsionado por um apoio de Bolsonaro, que tenta montar palanques fortes nos Estados para lastrear sua campanha à reeleição. A palavra, agora, está com Queiroga.