Nonato Guedes
Na entrevista que concedeu, ontem, à rádio “Correio”, o senador Veneziano Vital do Rêgo, presidente do diretório regional do MDB, reforçou o suspense sobre a posição que o partido finalmente tomará em relação à sucessão do governador João Azevêdo (Cidadania) ao revelar que, de sua parte, há sete meses, não há diálogo com o chefe do Executivo, e que a decisão sobre 2022, além de ser compartilhada com filiados e expoentes do partido, poderá estar condicionada a fatos decorrentes da conjuntura nacional. Citou como fato emergente a decisão da cúpula emedebista de lançar, já em dezembro, a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à presidência da República, sem prejuízo de articulações e conversas com outras figuras que simbolizam alternativas contra o presidente Jair Bolsonaro na corrida eleitoral do próximo ano.
A ênfase com que Veneziano reiterou que há sete meses não discute questões políticas locais com o governador João Azevêdo causou estranheza porque sua mulher, Ana Cláudia Vital do Rêgo, permanece à frente de uma Secretaria de Articulação Política do atual governo, que contempla, também, emedebistas como o ex-governador Roberto Paulino. Mais do que enigmático, o parlamentar foi calculadamente estratégico ao optar pelo mutismo em relação a posicionamentos que envolvam a situação paraibana. Não quer fornecer pretextos para que o acusem de divisionista, mas demonstra estar cioso da sua responsabilidade, como dirigente partidário, de acatar e adotar as melhores soluções para o MDB. Lembrou, inclusive, o empenho para formação de chapa competitiva em eleições proporcionais, exemplificando que o partido tem experimentado declínio em cadeiras na Câmara dos Deputados, onde conta com apenas 30 integrantes. Fora daí, dá a entender que só pode ou só deve manifestar quando houver diálogo com o governador.
A postura de Veneziano expõe, na verdade, a dificuldade de relacionamento do governador João Azevêdo com líderes políticos que, teoricamente, estão na sua base de apoio. O MDB é governo na Paraíba mas o seu presidente dá a impressão de que não se sente propriamente no papel de governista. Para analistas políticos, a justificativa para essa ambiguidade seria o constante interesse que o governador João Azevêdo tem demonstrado em conversar com o ex-prefeito de Campina grande, Romero Rodrigues (PSD), que é adversário do “clã” Veneziano. Basta lembrar que na recente eleição municipal para a sucessão de Romero, em Campina Grande, o bloco do então gestor lançou a candidatura de Bruno Cunha Lima, do mesmo partido (eleito), enquanto Veneziano apoiou a sua mulher Ana Cláudia, que concorreu não pelo MDB mas pelo Podemos, e ficou em segundo lugar, numa disputa que foi decidida em primeiro turno. Para Veneziano, os ecos desse confronto ainda estão muito nítidos para impedir que ele divida palanque com o adversário nas eleições majoritárias estaduais vindouras.
A rigor, o contencioso político entre o governador João Azevêdo e o senador Veneziano Vital do Rêgo, dentro da lógica do bom senso, já era para ter sido equacionado, numa conversa franca, direta, entre os dois líderes políticos, tal como é a expectativa não apenas de agentes políticos ou líderes partidários, mas de setores da própria opinião pública que acompanham com desconforto a troca de mensagens enviesadas ou de duplo sentido em termos de alinhamento político. Veneziano contou que, de sua parte, tem evitado polemizar a respeito, o que é verossímil se for levado em conta o histórico de manifestações suas nos últimos meses, subsequentes à exploração sobre divergências com o governador. O parlamentar dedica-se com mais afinco à atuação legislativa propriamente dita e a atribuições derivadas da sua condição de vice-presidente do Senado, ascendendo, em algumas ocasiões, à titularidade do colegiado. Mas os passos políticos do dirigente paraibano do MDB indicam movimentações intrigantes.
Um desses movimentos tem sido a interlocução frequente entre Veneziano e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Pode-se informar com segurança que o senador paraibano dialoga com mais facilidade com o expoente petista do que com o governador João Azevêdo. E tem ficado claro, para a opinião pública do Estado, que as conversas entre ambos não tratam apenas da chamada “concertação nacional” de forças democráticas contra o governo e o presidente Jair Bolsonaro, mas se estendem ao quadro da disputa local, onde ex-aliados e atuais adversários de Azevêdo, como o ex-governador Ricardo Coutinho, lograram voltar ao PT. Faltam detalhes sobre o teor das conversas, porque não há preocupação de transparência, no momento, sobre elas. Em termos concretos, Lula vai adiando o diálogo tão esperado pelo governador João Azevêdo. O que está por trás desse jogo só os jogadores principais podem traduzir, se tiverem vontade de fazê-lo.
O que fica evidente, para alguns setores, é que depende mais do governador João Azevêdo do que do senador Veneziano Vital do Rêgo provocar fato relevante que a situação política do impasse em que aparentemente se encontra na Paraíba. Daqui a pouco começa o ano eleitoral que será pródigo em demarches e articulações entre líderes e partidos para tentar sobreviver na disputa de primeiro turno em outubro, e a cobrança por definições no interior das agremiações tende a se tornar cada vez mais acentuada, afunilando-se os prazos para tomadas de posição, sejam quais forem, tenham as consequências que tiverem. O suspense alimentado por figuras respeitáveis como o senador do MDB tem prazo de validade e se esgota na inexorabilidade do próprio calendário, ao qual todos, democraticamente, estão sujeitos na realidade política brasileira. Será, então, a hora da onça beber água.