Nonato Guedes
Embora não sejam propriamente hostis ao governo federal, chegando a manter, inclusive, relação institucional que, não raro, deriva para apoio a matérias do Executivo em tramitação no Congresso, pelo menos dois pré-candidatos ao Senado na Paraíba descartam receber apoio do presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2022: os deputados federais Efraim Filho, que se lançou pelo DEM, e Aguinaldo Ribeiro, lançado pelo PP. Um provável terceiro postulante, Bruno Roberto, do PL, deverá alinhar-se ostensivamente à reeleição de Bolsonaro, até porque o presidente prepara-se para assinar ficha de filiação naquele partido. Bruno é filho do deputado federal Wellington Roberto, que preside o diretório estadual do PL e é entusiasta confesso das ideias e da trajetória de Jair Bolsonaro.
Em termos de sucessão presidencial, Efraim Filho vinha anunciando sua adesão à pré-candidatura do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, filiado ao DEM, inclusive apostando nas suas chances de crescimento na disputa, mas foi surpreendido com a saída de Mandetta do páreo e com o anúncio de que ele concorrerá a cargo legislativo no Mato Grosso. Nas últimas horas, surgiram versões de que, com a fusão do DEM com o PSL para surgimento do “União Brasil”, Mandetta poderá recolocar em pauta sua pretensão, mas outras notícias já falam de entendimentos para apoio do novo partido à candidatura do ex-juiz Sergio Moro, que, em algumas pesquisas, ultrapassa Ciro Gomes, do PDT, nas intenções de voto. Já Aguinaldo Ribeiro se distanciou de Bolsonaro desde o apoio dele ao deputado Arthur Lira para presidente da Câmara Federal. Mesmo Arthur Lira sendo do PP (por Alagoas), Aguinaldo era alinhado com o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), que articulou apoios à candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP), derrotado por Arthur Lira.
Pelas suas declarações, Aguinaldo Ribeiro entendia que a ingerência do Planalto no processo de eleição da Mesa Diretora da Câmara retirou a independência do Parlamento, atitude com a qual, segundo garante, não concordava. O deputado paraibano não foi punido disciplinarmente pela cúpula nacional do Progressistas, presidida pelo senador licenciado Ciro Nogueira (PP), que atualmente é ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro. Aliás, tanto Aguinaldo como a sua irmã, senadora Daniella Ribeiro, dispõem de linha direta com o ministro Ciro Nogueira e de facilidade para encaminhar reivindicações de interesse da Paraíba. “Mas isto não implica em compromisso de apoio”, assegurou Aguinaldo Ribeiro, demarcando posições no cenário político. Em termos concretos, tanto Efraim quanto Aguinaldo cortejam apoio aos seus projetos por parte do governador João Azevêdo, que é filiado ao Cidadania, já avisou que apoia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, também, que não aceitará bolsonaristas no seu palanque.
Vale lembrar, a propósito dessas linhas cruzadas na política paraibana, que ainda há poucos dias o deputado federal Efraim Filho foi recebido em audiência pelo presidente Jair Bolsonaro, com quem tratou de um assunto relevante para todo o país – a desoneração da folha de empresas em pelo menos 17 setores de atividade, possibilitando, com isto, menor incidência de tributos e funcionamento pleno de organizações dos diversos segmentos. Foi uma medida providencial, que teve o condão de compensar empresários, sobretudo os médios, que vinham sendo duramente penalizados com a retração econômica ocasionada pela pandemia do novo coronavírus. Além de comemorar o feito, o deputado Efraim Filho fez justiça à ação do presidente Jair Bolsonaro com vistas a desburocratizar entraves que vinham ameaçando a própria sobrevivência desses arranjos produtivos. Mas o reconhecimento a Bolsonaro não o induziu a refazer posicionamentos que têm conexão com as eleições de 2022.
Em última análise, as posições de autonomia dos pré-candidatos Efraim Morais e Aguinaldo Ribeiro sobre eleição presidencial refletem uma realidade: o peso que as disputas regionais ou estaduais assumirão, em muitos casos, no cenário do ano vindouro. O próprio presidente Jair Bolsonaro tem insistido em que sua base deve investir no lançamento de candidaturas fortes, principalmente, ao Senado e à Câmara Federal, trabalhando com a perspectiva, se reeleito, de não enfrentar tantos problemas como os que afirma ter enfrentado na travessia deste primeiro mandato que está empalmando. Há quem diga que Bolsonaro deseja bancadas fortes prevenindo-se, mesmo, contra a hipótese de um impeachment que pode ser agitado contra ele, uma vez reeleito, ou de ameaças à sua sobrevivência política, uma vez derrotado na segunda campanha ao Planalto.
Por essa lógica de Bolsonaro, em termos de Paraíba, o candidato ideal afinado com seu esquema e seu governo às eleições ao Senado seria o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que também é cogitado para disputar o governo do Estado por bolsonaristas locais. Mas a verdade é que Bolsonaro é imprevisível, até mesmo ciclotímico no estilo com que age politicamente, o que dificulta uma noção exata dos seus projetos pessoais na difícil conjuntura como se apresenta a de 2022. Até segunda ordem, a prioridade máxima é construir o esqueleto do projeto de candidatura do próprio Bolsonaro a um segundo mandato – e é certo que ele terá que dar atenção, também, à eleição de governadores aliados em Estados importantes. Há muitos desafios pela frente no campo político, o que faz com que, em casos pontuais como o da eleição a Senado, funcione a máxima do “cada um por si” na batalha de 2022.