O governador de São Paulo, João Doria, será o candidato do PSDB na disputa pela Presidência da República nas eleições de 2022. O resultado da votação interna do partido – as chamadas prévias – foi divulgado ontem após um processo marcado por confrontos, incertezas e suspeitas de ataques de hackers. A votação foi encerrada às 17h. O partido divulgou que Doria ficou com 53,99% dos votos, enquanto o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, registrou 44,66%. O ex-senador Arthur Virgílio marcou 1,35%. Após o anúncio do resultado do pleito, os três candidatos se reuniram para dar declarações à imprensa ao lado do presidente da legenda, Bruno Araújo.
Em seu discurso, Doria elogiou a disputa do partido e deu largada à campanha eleitoral, falando sobre economia, meio ambiente, relações internacionais e criticando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT). “A eleição foi linda. Não tenho dúvidas que foi difícil a decisão que cada um de vocês teve que tomar para escolher seu candidato. Eduardo Leite e Arthur Virgílio são meus amigos e do mesmo partido. Obrigado aos filiados do PSDB pelo voto de confiança. O PSDB sai fortalecido. As prévias foram um exemplo de democracia. Estamos do mesmo lado, do lado do Brasil. A partir de agora, Eduardo, Arthur e eu estaremos unidos na construção do melhor projeto para o Brasil”.
Na sequência, o governador paulista criticou os ex-presidentes petistas. Disse que os governos Lula e Dilma representaram a captura do Estado pelo maior esquema de corrupção do qual se tem notícia no país. Doria aproveitou para ameaçar Lula nos debates presidenciais. “Lula, se prepare para os debates, que eu vou cobrar isso de você. Você não terá em mim alguém complacente nos debates, na discussão e na campanha”. Logo depois, repreendeu o atual presidente. “Bolsonaro vendeu um sonho e entregou um pesadelo. Nosso Brasil se transformou no Brasil da discórdia, da desunião, do conflito, da briga entre familiares e amigos, da arrogância política”, ressaltou Doria. Eduardo Leite se descreveu “tranquilo” ao comentar o resultado do pleito e desejou boa sorte a Doria. “Te desejo toda sorte porque o Brasil precisa disso. O Brasil precisa que a gente consiga viabilizar um projeto no centro para que essa energia desperdiçada de dois campos políticos que se enfrentam como inimigos seja exterminada”.
Por sua vez, Arthur Virgílio admitiu que não entrou na disputa para ganhar. “Eu resolvi sair anti-candidato, então, eu aceitei. Percebi que havia polarização clara entre Doria e Eduardo, e percorri o país. Vi o Doria dizer que ficou cansado de percorrer o país. Pior é que eu percorri, fiquei cansado e sabia que não ia ganhar”, comentou Virgílio, arrancando gargalhadas da plateia. Ele também criticou o presidente Jair Bolsonaro. “Vamos ter que conversar muito com nossos companheiros e romper qualquer laço do PSDB com o bolsonarismo. Não tem nenhuma circunstância que valha a pena isso”. A decisão do representante tucano na corrida eleitoral deveria ter sido anunciada na semana passada, mas o aplicativo que registrava os votos dos filiados deu pane e inviabilizou a conclusão do pleito. O problema caiu como um balde de água fria nos tucanos e levantou suspeitas de um ataque hacker. Daí em diante, os confrontos internos aumentaram, apesar de, em frente às câmeras, os candidatos pregarem um discurso de união. Nos bastidores, reinaram as ameaças e acusações entre os defensores de João Doria e Eduardo Leite.
A Executiva Nacional do PSDB passou a semana se reunindo com as campanhas e testando novos softwares para dar sequência à votação dos mais de 40 mil filiados que não conseguiram registrar suas escolhas no último fim de semana. No final das contas, o pleito continuou sendo online, mas por meio do site do PSDB, da empresa BeeVote. Os que conseguiram registrar a escolha no último final de semana, seja presencialmente em Brasília, seja pelo aplicativo anterior, estão com seus votos armazenados e não precisam refazer a operação, garante a legenda. Com fraco desempenho tanto de Doria quanto de Eduardo Leite nas pesquisas eleitorais, a possibilidade de uma grande união do partido após o pleito já está praticamente desconsiderada, segundo fontes do partido. Deputados tucanos têm dito que “caberá ao vencedor recolher os cacos”.