Nonato Guedes
Uma declaração do presidente Jair Bolsonaro ao site “Poder360” no final de semana, de que seu principal objetivo, no momento, é definir quem serão os senadores aliados que disputarão as eleições de 2022 pelo PL, gerou expectativa natural na Paraíba, onde discípulos ou aliados do mandatário cortejam seu apoio para cargos majoritários mas até agora não chegaram a um consenso sobre postulações e nomes. Na verdade, os bolsonaristas paraibanos estão divididos entre lançar candidatura ao Senado ou ao governo do Estado, avaliando de forma meticulosa quais são as melhores opções ou as opções mais viáveis. O PL, partido a que o presidente se filiou recentemente, é dirigido no Estado pelo deputado federal Wellington Roberto, que deseja lançar seu filho, Bruno Roberto, à senatória.
Há outros nomes de maior dimensão cogitados para postos majoritários, como os do pastor e ex-secretário especial do Palácio do Planalto Sérgio Queiroz, procurador da Fazenda Nacional, e do próprio ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga. Nenhum dos dois definiu, ainda, filiação partidária. Sabe-se, porém, que tanto o pastor Queiroz como o ministro Queiroga chegaram a ser estimulados pelo presidente da República, em conversas em Brasília, a entrar na política, pleiteando cargos relevantes, para contribuir com o avanço da agenda conservadora que o mandatário empalma em sua plataforma desde a campanha de 2018. Ontem, em entrevista a uma emissora de rádio da Capital, Sérgio Queiroz admitiu que tem motivações políticas, mas não sinalizou definições concretas.
Em 2022, serão eleitos 27 senadores, o equivalente a 1/3 da Casa. À reportagem do “Poder360”, o presidente Bolsonaro foi enfático: “O grande interesse são os senadores. Há interesse em governador, mas não é tão importante para mim. Quem tudo quer, tudo perde. Há interesse em uma bancada grande de parlamentares”. Além de querer contar com votos decisivos no Congresso para a aprovação de matérias do governo num eventual segundo mandato que vier a conquistar, Bolsonaro tem interesse em dispor de maioria nessa bancada para evitar, por exemplo, manobras ou orquestrações com vistas à decretação de um impeachment. Desde a gestão de Rodrigo Maia na presidência da Câmara, o fantasma do impeachment tem sido suscitado, diante de inúmeros pedidos protocolados na Mesa Diretora – todos eles arquivados, quer com Maia, quer, atualmente, com Arthur Lira (PP-AL), um dos expoentes do “Centrão”, que teve o apoio de Bolsonaro para derrotar Baleia Rossi (MDB-SP).
Bolsonaro tergiversa quando é indagado por jornalistas sobre o perfil do candidato a vice que o acompanhará na trajetória pela reeleição ao Palácio do Planalto. Faz concessões, admitindo nomes para governos em alguns Estados influentes, como São Paulo, e cita ministros como o da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, ou do Major Victor Hugo em Goiás. “Os Estados têm boas novidades, pessoas que prometem muito para a política”, revelou Bolsonaro, acrescentando que acredita que em março vai ter uma migração grande para o PL. “Só não vai ser maior porque no nosso partido, o fundo eleitoral, perto de outros, não é tão grande assim. Mas temos bons nomes para apresentar para a sociedade”. O presidente tem ciência de fragmentações dentro do seu esquema em vários Estados, o que dificulta, por enquanto, a conciliação de interesses e harmonização de chapas.
Na Paraíba, além do PL do deputado federal Wellington Roberto, estão na base bolsonarista o PTB, presidido pelo ex-candidato a prefeito de João Pessoa, Nilvan Ferreira, o Patriota do deputado Wallber Virgolino, o PSL do deputado estadual Cabo Gilberto Silva, que se oferece para o sacrifício de concorrer a um posto majoritário, embora não aparente ter densidade para tanto. Coincidentemente os dois pré-candidatos lançados ostensivamente ao Senado, até agora, não assumem alinhamento com o presidente – casos dos deputados Aguinaldo Ribeiro (PP) e Efraim Filho (DEM), embora votem a favor de matérias do governo e tenham interlocução com o mandatário, sendo até recebidos por ele em audiência ou participando de eventos oficiais. A defecção mais comentada nas hostes bolsonaristas tem sido a do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), que sinaliza, igualmente, com desistência dos planos em concorrer ao governo do Estado.
O aparente desinteresse do presidente quanto a eleições para governos estaduais pode ter a ver com a relação beligerante que ele tem mantido com chefes de executivo, tendo como pano de fundo divergências sobre adoção de medidas na plenitude da pandemia da covid-19. O presidente já se queixou que o Judiciário foi muito generoso com governadores, dando-lhes poderes que, em alguns casos, são maiores do que os poderes atribuídos ao presidente da República, o que considera uma anomalia. A atenção que Bolsonaro dá ao Congresso, principalmente ao Senado, pode ser incentivada, também, pela experiência legislativa demorada que acumulou como deputado federal, conhecendo os meandros do funcionamento das Casas do Parlamento. Nas últimas horas, anunciou-se que o coordenador da campanha do presidente no próximo ano será seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (SP). Se confirmado, será um sinal de que o “clã” está se reorganizando para sobreviver politicamente no país e apostando fichas em pessoas de absoluta confiança, não em supostos aliados que podem acabar aprontando surpresas desagradabilíssimas em plena disputa eleitoral.