Nonato Guedes
O ministro da Saúde, o cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, voltou a criar polêmica ao afirmar, ontem, que “como diz o presidente (Jair Bolsonaro) é melhor perder a vida do que perder a liberdade”, ao justificar medidas tomadas pelo governo federal no combate à pandemia da covid-19. A declaração de Queiroga, reproduzindo uma fala feita por Bolsonaro em março, ocorreu durante coletiva de imprensa realizada em Brasília. “Nós queremos ser, sim, o paraíso do turismo mundial. E vamos controlar a Saúde, fazer com que a nossa economia volte a gerar emprego e renda. Essa questão da vacinação, como realcei, tem dado certo porque nós respeitamos as liberdades individuais. O presidente falou agora há pouco: “às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade”.
A expressão foi usada por Queiroga para justificar a não adoção, pelo governo brasileiro, do passaporte da vacina, uma das recomendações feitas em novembro pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. O passaporte sanitário, ou da vacina, já é adotado em algumas cidades como forma de permitir a reabertura de bares, restaurantes, cinemas e outros estabelecimentos de forma segura. Recentemente, devido à preocupação com a variante ômicron do coronavírus, a Anvisa recomendou que o governo federal exija a vacinação contra a covid-19 para entrada no Brasil, como já estão fazendo muitos países.
Apesar de ignorar o passaporte, o governo brasileiro anunciou que irá impor a quarentena de cinco dias e teste RT-PCR a viajantes não vacinados que desejem entrar no País. As autoridades, no entanto, não explicaram como será feito o processo de isolamento dessas pessoas. “Então, nós, depois de fazermos uma análise detida de toda a documentação com grupo técnico, decidimos que o RT-PCR seria utilizado, como já vem sendo utilizado desde o início da pandemia, com 72 horas antes do embarque) e requerer que os indivíduos não vacinados cumpram uma quarentena de cinco dias, após o que eles realizariam o novo teste”, completou o ministro da Saúde. Se esse teste der negativo para covid-19, o turista/viajante então é liberado. Em nota após o pronunciamento, a Anvisa informou que aguarda a publicação da nova portaria sobre atualização das medidas excepcionais e temporárias para entrada no País como forma de enfrentamento da Covid-19, ou seja, que não conhece o conteúdo da nova portaria.
O ministro Marcelo Queiroga dedicou a maior parte do pronunciamento a criticar a exigência de vacinação para brasileiros e estrangeiros. Ele acentuou: “Então, esse enfrentamento da pandemia não diz respeito apenas a um chamado passaporte que mais discórdia do que consenso cria. É necessário defender as liberdades individuais, respeitar os direitos dos brasileiros acessarem livremente as políticas públicas de saúde”. E acrescentou: “Até a ciência já sabe que as vacinas não impedem totalmente a transmissão do vírus. O ideal é que impedisse, já estaríamos com o problema resolvido no Brasil. Infelizmente, não impede. As pessoas podem, mesmo vacinadas, adquirir a doença e podem transmitir a doença”.