Nonato Guedes
Por temperamento, o governador João Azevêdo (Cidadania) é um homem público ponderado, que em alguns casos dá a impressão de medir bastante as palavras antes de dizê-las e que, no cômputo geral, procura ser afável, até mesmo no trato com adversários. A forma respeitosa e o estilo moderado que o chefe do Executivo adota não o tornam silente em momentos que exigem posições firmes ou altaneiras. Foi assim que, embora mantendo relação institucional com o governo do presidente Jair Bolsonaro, em quem não votou, verberou contra o Planalto, endossando respostas de outros governadores cuja reputação havia sido atacada pelo mandatário em episódios cruciais da vida pública do país em sua crônica recente.
Candidato declarado à reeleição na disputa do próximo ano, e a dados de hoje detendo indicativos de favoritismo, em meio à desorientação que toma conta das oposições em suas variadas vertentes no Estado, Azevêdo contorna com habilidade as armadilhas do triunfalismo ou da tentação de arrogância e, também, evita interferir em decisões cogitadas por outros partidos políticos, quer sejam aliados, quer estejam posicionados na linha inimiga. Tem dito, à exaustão, que até aqui a prioridade da sua cartilha foi o foco de gestão, envolvendo decisões sobre a crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19 e os efeitos colaterais que se abateram sobre a conjuntura econômica e social. Também não fez movimentos para precipitar formação de chapa nem alimentou preferências por nomes, respeitando postulações preexistentes mas deixando claro que o seu tempo é outro. E é nesse contexto que ele se encaminha para deflagrar as grandes decisões no ano eleitoral propriamente dito, ou seja, em 2022, que está batendo na porta.
A rigor, a postura cautelosa do governador João Azevêdo deveria servir de exemplo, funcionar como uma espécie de bússola a ser seguida pelos aliados políticos que juram fidelidade ao seu comando e asseveram compromisso antecipado com o seu projeto de recondução ao Palácio da Redenção. Mas, destoando da linha moderada que Azevêdo sustenta, alguns aliados mais radicais propagam teses exageradamente triunfalistas, tripudiam de supostos adversários políticos, cometem excessos verbais que não qualificam o debate político nem certamente, em sã consciência, teriam o estímulo ou a concordância por parte do governador. O deputado Lindolfo Pires, do bloco governista, chegou a falar que a oposição tomaria uma “surra” nas urnas, enquanto Hervázio Bezerra fustiga com frequência a oposição, procurando descê-la ao nível mais baixo da discussão política. Tais atitudes, sinceramente, repercutem mal, além de sinalizar que os seus autores estão querendo ser mais realistas do que o “rei”.
Que a oposição está sem rumo e, aparentemente debilitada, para enfrentar o governador João Azevêdo, isto é fato incontestável. O bloco antigovernista está disperso entre remanescentes bolsonaristas, líderes políticos de centro e mais outros líderes políticos, só que de esquerda. Nenhum desses agrupamentos viabilizou qualquer consenso em torno de premissas para definição de candidaturas. Na mídia, nomes aparecem, desaparecem e reaparecem como sugestões para a disputa à governança do Estado sem que tenham solidez para sobreviver no páreo. Basta lembrar que o ano de 2021 começou com o pré-lançamento, a pleno vapor, da candidatura do ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD) pela oposição, e está se encerrando com o pré-lançamento do comunicador Nilvan Ferreira (PTB), ex-candidato a prefeito de João Pessoa. Numa prova de guinada espetacular, Romero passou a ser referido como provável futuro aliado de Azevêdo e seu nome tem frequentado bolsas de apostas sobre uma candidatura a vice.
O governador João Azevêdo, que não é homem de construir “realidades paralelas”, acompanha detalhadamente esse vai e vem nas hostes oposicionistas, que reflete o clima de incerteza quanto às opções viáveis para concorrer ao Executivo e dar combate ao gestor que tentará a céu aberto o segundo mandato. Mas, além do foco administrativo de que não se descuida um momento sequer, a preocupação de Azevêdo foi a de manter sob controle pretensões concorrentes dentro da sua própria base de sustentação política, cujo exemplo mais referido é a queda de braço entre os deputados Aguinaldo Ribeiro (PP) e Efraim Filho (DEM) pela indicação da vaga ao Senado. Há, também, o contencioso com o grupo do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que confessou estar há sete meses sem cumprir agenda política com João Azevêdo. Portanto, problemas não faltam no próprio esquema do governador. Quanto à oposição, ele já reiterou que não está preocupado com suas decisões. Não é pedantismo. É a convicção de que não há espaço para ele, João, no metro quadrado em que se digladiam os seus adversários políticos declarados na Paraíba. Quanto aos radicais de Azevêdo, lembram uma frase de Tancredo Neves: “Eles (os radicais) podem até ser bons para se ganhar a eleição, mas não para se governar”.