Nonato Guedes
Em conversa, ontem, na concorridíssima feijoada do Abelardo Jurema, o ex-senador, secretário de Estado e líder do Democratas na Paraíba Efraim Morais ressaltou que a candidatura do deputado federal Efraim Filho ao Senado nas eleições de 2022 é plenamente legítima, resultado de uma paciente e habilidosa construção política que ele mesmo vem empreendendo, além de ser um prolongamento da carreira em que ele milita por vocação. “Efraim Filho não é um “paraquedista” da política. Apesar de jovem, já demonstrou vocação e preparo para a vida pública e procura colher o que tem plantado na sua trajetória”, adiantou Efraim pai, confiante no êxito da empreitada que “Efraito” abraçou.
O deputado federal do Democratas, como se sabe, foi o primeiro a se lançar pré-candidato à única vaga de senador que estará em jogo no pleito do próximo ano no Estado – só depois entrou no páreo o deputado federal Aguinaldo Ribeiro, do PP, que de forma ostensiva tem emulado com Efraim. Ambos cortejam o apoio do governador João Azevêdo (Cidadania), que tem postergado uma definição para prevenir dissensões no seu bloco de apoio e, ao mesmo tempo, para “amarrar” estratégia segura que lhe possibilite decolar em céu de brigadeiro durante a campanha, enfrentando uma oposição que está fragmentada e mergulhada em contradições mas que se esforça para parecer aguerrida, como tática de radicalização na disputa majoritária. A dados de hoje, o governador larga como favorito, escudado em confortáveis índices de aprovação ao governo, que tem se desdobrado em perseguir o combate à pandemia de covid-19 e dar dinâmica a projetos de desenvolvimento social e econômico.
Efraim Morais foi candidato a senador em 2002 pelo partido que se chamava PFL (Partido da Frente Liberal) e numa disputa contra três ex-governadores de prestígio popular – Wilson Leite Braga, José Maranhão e Tarcísio Burity. Na época, o PFL estava coligado com o PSDB, o que levou Efraim a aliar-se no plano local à candidatura de Cássio Cunha Lima, que derrotou nas urnas o então governador Roberto Paulino, investido com a renúncia de José Maranhão para disputar o Senado. Efraim foi tratado na mídia, durante boa parte da campanha, como “azarão”, pois, embora tivesse militância política derivada dos mandatos de deputado estadual e federal, debateu-se contra pesos pesados ou cabeças coroadas que despontavam em situação de vantagem. Acabou se revelando um gigante na peleja, não esmorecendo nem mesmo quando aparentava remar contra a maré. Outro segredo da tática que adotou foi “colar” no candidato a governador, que avançava em pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto trazidas a público.
A batalha pelo Senado há cerca de vinte anos na Paraíba foi revestida de lances dramáticos e emocionantes e houve ocasiões em que os números de pesquisas indicavam oscilações, configurando o que, de certa forma, já se esperava – a gangorra de posições entre postulantes que se alternavam na preferência do eleitorado. Esse clima era temperado pelo duelo não menos acirrado que era travado a céu aberto entre partidários de Cássio Cunha Lima e de Roberto Paulino, de tal modo que a conjuntura nacional pouco influenciou no resultado estadual, onde as peculiaridades falavam mais alto e prendiam, efetivamente, a atenção de segmentos da opinião pública. 2002 foi o ano que marcou, finalmente, a primeira vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva, depois de sucessivas tentativas malogradas para ascender ao Palácio do Planalto. O PSDB da Paraíba fechou com a candidatura do senador José Serra, mas Cássio Cunha Lima não pôde evitar a criação dos comitês pró-Cássio e Lula, ainda que por honra da firma e fidelidade partidária estivesse alinhado com Serra.
A projeção que Efraim Morais demonstrou ter firmado em 2002 era uma extensão dos espaços que vinha conquistando em meio a lideranças tradicionais. Mais na frente, ele faria investidas exploratórias sobre a viabilidade de ser candidato ao governo do Estado, simbolizando uma espécie de “terceira via” num quadro tendente a polarizações acirradas. Este desideratum não foi alcançado, mas à frente do mandato de senador, Efraim projetou-se ocupando cargos estratégicos como a primeira secretaria da Casa. Já como deputado federal, na condição de vice-presidente da Câmara, entrou na linha de sucessão constitucional – e foi assim que deu posse a Luiz Inácio Lula da Silva, embora como parlamentar do PFL tenha combatido o petista e episódios do seu governo. Morais protagonizou a CPI dos Bingos, que chegou a ser apelidada por Lula, em momento de irritação, de “CPI do fim do mundo”. Na prática, ele procurou ser coerente com a linha programática da legenda em que laborava, daí o respeito que adquiriu em segmentos variados da política nacional.
Indaguei-lhe, na conversa de ontem, se identificava semelhanças entre a campanha em que foi eleito há vinte anos e a que seu filho enfrenta para o próximo ano. O ex-senador Efraim Morais descartou qualquer tipo de analogia, ponderando que as conjunturas são diferentes, tanto no plano nacional quanto no plano estadual – e lembrando que cada eleição é uma eleição, com suas próprias peculiaridades. Quanto à confiança na vitória de Efraim Filho, está lastreada, conforme ele, em uma série de requisitos que o deputado preenche – do alinhamento de primeira hora ao esquema do governador João Azevêdo aos apoios valiosos que tem costurado, exibindo, a esta altura, adesões de mais de uma centena de prefeitos municipais, bem como de senadores como Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e deputados como Hugo Motta. “Acredito que esses fatores pesarão na avaliação para decisão final do governador João Azevêdo, que é quem comanda o processo político-eleitoral para 2022”, pontuou Efraim pai, atento ao radar das movimentações políticas que se desenrolam em ritmo frenético. Em tempo: na disputa de 2002 ao Senado, Efraim conquistou uma cadeira e a outra ficou com José Maranhão. Uma manifestação salomônica do eleitorado, como acontece sazonalmente na política, aqui e alhures.