Nonato Guedes
Uma reportagem do jornal “O Globo”, assinada por Paula Ferreira, informa que os planos do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para disputar um mandato eletivo em 2022, já estão na mesa e ele tem sentado para conversar sobre possíveis opções de candidatura. A primeira seria a de se lançar candidato ao Senado pela Paraíba, seu Estado de origem. Outras opções também já foram citadas, como o Rio de Janeiro e, para isso, Queiroga estuda em qual partido se filiar. Segundo fontes, o ministro tem conversado com o ‘Republicanos’, legenda aliada do Planalto, já que não pretende ingressar nas fileiras do PL, novo partido do presidente Jair Bolsonaro, para não ter de disputar a vaga de aspirante ao Senado pela Paraíba com o filho de Wellington Roberto, cacique do partido.
O cardiologista também é cogitado como pré-candidato a deputado federal e em algumas ocasiões seu nome é lembrado para concorrer ao cargo de governador com o apoio do presidente Bolsonaro. Numa viagem que fez à Paraíba em outubro, Queiroga fez discurso em tom de campanha e criticou governadores na linha do que Bolsonaro tem feito. “Ele já foi filiado ao partido, temos uma ótima relação, não só em nível estadual, mas também nacional. Ainda não há definição sobre a filiação dele ao nosso partido, mas acredito que quando ele for decidir levará em conta essa relação sólida que temos”, disse a “O Globo” o deputado federal paraibano Hugo Motta, do Republicanos. O fato é que ele está “picado” pela mosca azul da política, como já insinuou o próprio presidente Bolsonaro, e em alguns círculos comenta-se que o Planalto examina nomes de prováveis substitutos do médico paraibano.
A expectativa sobre estreia política de Queiroga no cenário local também é grande entre as diversas lideranças, do governo e da oposição, principalmente porque, para o Senado, já há pré-candidaturas anunciadas como as dos deputados Efraim Filho (Democratas) e Aguinaldo Ribeiro (Progressistas), enquanto forças de esquerda sonham com uma provável candidatura do ex-governador Ricardo Coutinho, que se desfiliou do PSB e retornou às hostes do Partido dos Trabalhadores com as bênçãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos bastidores, há restrições pelo fato de Marcelo Queiroga estar ausente da Paraiba há algum tempo (ela presidia a Sociedade Brasileira de Cardiologia até ser designado ministro da Saúde) e críticas pela falta de uma articulação política mais intensa da parte dele junto a protagonistas da atual cena política no Estado. Concorrentes temem, também, que Queiroga chegue turbinado com apoio de Bolsonaro e a fama de “ministro da vacinação”.
A mídia sulista não perdoa Queiroga por atitudes que teria tomado à frente da Pasta da Saúde e que são consideradas condenáveis. “O Globo” fala em postura errática do ministro, com críticas dentro e fora do ministério, e acrescenta que, internamente, servidores dizem que houve apenas “mudança de fachada” no comando, com “uma troca da farda pelo jaleco”, referência ao fato de que Marcelo Queiroga substituiu ao general Eduardo Pazuello. “A percepção é de que o ministro tem atrapalhado o combate à pandemia, sobretudo quando acata posições de Bolsonaro contra a exigência de comprovante de vacinação para entrar no país. Fora da pasta, as críticas vão desde a comunidade científica, incluindo seus pares, até gestores estaduais”, relata o jornal. Em falas e atitudes que se acentuaram nos últimos três meses, Queiroga já atendeu a apelos negacionistas do presidente e suspendeu sem evidências a vacinação de adolescentes contra a Covid-19, voltando atrás em seguida após repercussão negativa.
Depois, Queiroga deu declarações em linha com a postura antivacina do chefe. “Às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade” – disse, parafraseando Jair Bolsonaro ao se posicionar contra exigência de comprovante de vacinação para a entrada no país. O processo que culminou na nova imagem do ministro, um “Pazuello de jaleco”, reúne elementos como a tentativa de se manter no cargo e dar viabilidade a seus projetos projetos que remontam desde quando se aproximou de Flávio Bolsonaro. Em um vídeo enviado para a posse de Queiroga na presidência da Sociedade de Cardiologia, em dezembro de 2019, o senador Flávio Bolsonaro afirmou: “Tenho certeza que o senhor está qualificado e preparado para qualquer missão que o Brasil tenha a lhe chamar na área médica”. Pouco mais de um ano depois, em março de 2021, Queiroga chegou ao Ministério da Saúde, onde passou por uma metamorfose.
O cardiologista, à frente da Pasta, ostentou posição de adepto à ciência. Mas a tentativa de imprimir uma imagem diferente do antecessor, Eduardo Pazuello, teria ruído em pouco tempo, conforme “O Globo”. A falta de eficiência na gestão da pasta também tem gerado críticas ao ministro. Recentemente, ele anunciou que aplicaria a segunda dose da vacina da Janssen, ministrada inicialmente em dose única, sem consultar a Anvisa. Desde junho o Programa Nacional de Imunização está sem coordenador titular. “Infelizmente, o papel que tem desempenhado é fazer de tudo para agradar ao chefe. Está claro que seu objetivo é colher dividendos políticos”, afirma Carlos Lula, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Seja como for, a hora da verdade está chegando para Marcelo Queiroga – e a definição que tomar terá ligação muito próxima com a Paraíba, de acordo com as versões.