Nonato Guedes
O rompimento da vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT, e o distanciamento do senador Veneziano Vital do Rêgo, do MDB, passaram a ser encarados como complicadores políticos pelo “staff” do governador João Azevêdo, mais diretamente pelos expoentes da linha de frente da campanha do chefe do Executivo à reeleição em 2022. Lígia e Veneziano foram figuras decisivas para a vitória de Azevêdo em 2018, quando estavam articulados sob a liderança do então governador Ricardo Coutinho (ex-PSB, atual PT), principalmente para neutralizar espaços do campo adversário, comandado pelos Cunha Lima em aliança com o então prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), cujo irmão gêmeo Lucélio foi candidato a governador. A oposição era engrossada, também, pelo então prefeito de Campina, Romero Rodrigues, PSD, cuja mulher, doutora Micheline, foi indicada candidata a vice na chapa de Lucélio contra a chapa de Azevêdo.
Veneziano Vital do Rêgo, pleiteando ascensão ao Senado e ainda filiado ao PSB, Ricardo Coutinho, que optou por permanecer à frente do governo até o último dia do mandato e Lígia Feliciano, mantida no papel de vice-governadora na chapa de João Azevêdo, constituíram trio político de peso para respaldar a penetração eleitoral de Azevêdo, um técnico que buscava se afirmar politicamente. A importância estratégica de Campina Grande no contexto era indiscutível, por se tratar da segunda cidade do Estado, segundo colégio eleitoral expressivo, e por estarem suas lideranças sequiosas de retomar o protagonismo político via reconquista do governo, enfeixado nas mãos do ex-socialista Ricardo Coutinho desde 2010, quando a ele foi alçado mediante aliança providencial firmada com Cássio Cunha Lima, então na crista da onda do cenário político estadual. A manutenção de Lígia como vice de Azevêdo foi a garantia dada de que Campina não estaria totalmente órfã na representação majoritária em termos políticos-administrativos.
A tradição “bairrista” da Rainha da Borborema alimenta especulações de que está em curso uma orquestração para devolver a cidade ao topo do poder, não mais se posicionando na ante-sala do Palácio da Redenção. Havia a perspectiva de que o ex-prefeito Romero Rodrigues encarnasse tal bandeira como protagonista, mesmo não aglutinando forças campinenses mais expressivas além das que estão no entorno do “clã” Cunha Lima. O recuo fulminante de Romero na pretensão de ser candidato significou duro golpe para os oposicionistas que detêm o controle da prefeitura na Borborema e que estão tendo que se recompor para marcar posição no páreo do ano vindouro. O nome que se oferece, nesse bloco, é o do deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB), que não tem maior impacto eleitoral mas que ajudaria a acomodar interesses de grupo referentes a eleições proporcionais. Quanto a Romero, está sendo dado como “caso perdido” diante dos rumores de aproximação sua com o governador João Azevêdo e de versões de que ele poderia ser indicado vice do próprio Azevêdo na luta pela recondução.
Embora as coisas estejam, por enquanto, essencialmente, no terreno da especulação, o prognóstico de presumíveis três candidaturas de filhos de Campina ao governo não é nada alentador para o governador João Azevêdo – as da vice-governadora Lígia Feliciano, que não pode mais concorrer ao cargo atual, do senador Veneziano Vital do Rêgo, que pode correr o risco de disputar sob ameaça de um revés nas urnas sem perder mandato parlamentar e do deputado Pedro Cunha Lima, de quem se diz ter dificuldades para lograr reeleição à Câmara e que poderia “se salvar” protagonizando um gesto político. Deve-se levar em conta, também, a influência, no contexto, do “clã” Ribeiro, com base em Campina, de que fazem parte a senadora Daniella e o deputado federal Aguinaldo, ambos irmãos e filiados ao PP. A pressão do “clã” junto a Azevêdo para encampar a candidatura de Aguinaldo a senador é mais uma peça a tumultuar a montagem do tabuleiro político, mediante acomodação das aspirações de campinenses.
Em paralelo, integrantes do “staff” do governador João Azevêdo começam a cobrar dele ações administrativas mais eficientes, de resultados, beneficiando a cidade de Campina Grande, que foi prejudicada na condição de polo produtivo com restrições às atividades econômicas decorrentes da vigência da pandemia do novo coronavírus. Afirma-se que o governador está demorando a dar partida a investimentos grandiosos que poderiam contribuir para fazer a diferença ou para diminuir diferença percentual de votos em Campina Grande na disputa eleitoral de 2022, com isto abrindo o flanco para investidas dos adversários, principalmente dos que sonham com uma revanche nas urnas. Há, por assim dizer, um vasto contencioso – e a falta de sinalização sobre o equacionamento mexe com aliados do governador que lutam pela sobrevivência política.
Todavia, há indícios de que o governador João Azevêdo já se preparava para ser confrontado com problemas envolvendo a disputa eleitoral de 2022 e o seu próprio interesse em concorrer a um novo mandato, respaldado pelas urnas. Em declarações firmadas, ontem, o chefe do Executivo deixou claro que considerou o afastamento de Lígia Feliciano um sinal de rompimento. Isto está sendo interpretado como indicação da tática governamental de antecipar o mapeamento sobre verdadeiros aliados e aliados supostos para saber com quem, afinal, poderá contar na travessia pela recondução ao Palácio da Redenção. Por via das dúvidas, aguarda-se os próximos movimentos políticos do governador – e, mais ainda, espera-se, no âmbito do seu círculo, que eles sejam firmes, até como fator de motivação das bases que o seguirão na jornada pela preservação dos controles do poder no Estado.