Nonato Guedes
O ex-prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues (PSD), oficializou sua saída do páreo para concorrer ao governo da Paraíba nas eleições do próximo ano e, com isto, finalmente liberou a pista para que a oposição ao governador João Azevêdo (Cidadania) articule candidatura competitiva contra ele, encabeçando chapa que aglutine forças que serão necessárias para neutralizar o favoritismo preliminar que o chefe do Executivo exibe com relação à disputa do próximo ano. Na carta em que anuncia estar “adiando” o sonho de disputar o Palácio da Redenção, Romero é propositadamente vago e nada transparente sobre as razões que o levaram a abdicar do projeto, mesmo tendo tido a garantia de apoio do PSDB, com a retirada de idêntica postulação do deputado federal Pedro Cunha Lima, que, agora, volta a ser cogitado para o “sacrifício”.
“Estive diante de vários caminhos possíveis e desafios concretos. Como é meu padrão, faço sempre questão de avaliar as possibilidades ouvindo minha família, meus amigos, aliados políticos e o sentimento das ruas (…) Com paciência e responsabilidade, tenho avaliado as possibilidades legítimas sob vários ângulos e, dentre estes, pesa a minha honrosa missão de presidente do PSD na Paraíba, o que naturalmente me impõe desafios na consolidação e avanços nos espaços da legenda no pleito 2022”, tentou explicar Romero na carta em que disse que será candidato à Câmara Federal. Pelo que deu a entender, a candidatura a deputado federal, sacrificando o projeto de disputar o governo, foi compromisso tratado e assumido diretamente com o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Muitos fatores, que independeram de sua vontade, contribuíram para a mudança de rota, mas como ele se esquivou de mencioná-los, restaram dúvidas e indagações.
Uma dessas indagações é sobre o verdadeiro caminho que Romero Rodrigues pretende trilhar, uma vez que não cessaram as especulações de que ele pode vir a figurar como candidato a vice na chapa do governador João Azevêdo à reeleição, mesmo asseverando que seu plano é concorrer à Câmara, onde exerceu mandatos, inclusive dividindo espaços, numa legislatura, com o presidente Jair Bolsonaro. Se prosperar a pretensão de Rodrigues de candidatar-se à Câmara, ele terá problemas inevitáveis com aliados políticos históricos, já que se fala nas candidaturas do deputado estadual Tovar Correia Lima e do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB) a deputado federal. A concorrência se tornará acirrada na Rainha da Borborema e, dependendo do caminho que Romero seguir – como, por exemplo, o alinhamento com João Azevêdo – ele sofrerá combate encarniçado em palanques por parte dos aliados do passado.
A desistência de Romero Rodrigues não chegou, necessariamente, a surpreender os meios políticos paraibanos, que estavam aguardando esse anúncio diante de atitudes oscilantes, pouco firmes, da parte do ex-prefeito de Campina Grande. Primeiro, Romero emitiu sinais de desalinhamento com o esquema do presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem era aliado e amigo pessoal, valendo lembrar que teve deferências do mandatário mesmo quando havia deixado o comando da administração na Rainha da Borborema. Com a vacilação, Rodrigues foi se isolando no chamado núcleo bolsonarista raiz no Estado, que já não lhe assegurava apoio decidido nas pretensões à disputa majoritária estadual. Por outro lado, o “clã” Cunha Lima, com quem tem laços até de parentesco, estranhou mutações no seu comportamento e foi em cima disso que preparou, às pressas, um “Plano B” representado pela candidatura do deputado Pedro, que não chega a empolgar segmentos órfãos de opções mais consistentes para o revés contra João Azevêdo.
Ressaltou o ex-prefeito de Campina Grande, na carta-desistência, que está havendo um adiamento do sonho por ele perseguido de ascender ao Palácio da Redenção. Em algumas áreas políticas, porém, faz-se a avaliação de que Romero pode estar jogando fora, definitivamente, a chance de alçar ao governo do Estado, diante da reiteração de oportunidades perdidas. Lembra-se que em 2018, quando estava no auge à frente da prefeitura campinense, no segundo mandato, emulou com o então prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo (PV), pela indicação como candidato ao governo do Estado pela oposição. Nenhum dos dois se submeteu à prova dos noves, lançando, em seu lugar, prepostos familiares que foram derrotados por João Azevêdo em primeiro turno.
A oportunidade para Romero se testar no quadro sucessório estadual seria em 2022, como líder de uma chapa do segmento oposicionista (fragmentado em tendências no Estado). Mas ele não demonstrou capacidade de articulação e muito menos habilidade para agrupar forças de oposição em torno de uma virtual candidatura, desgastando-se mais ainda quando cresceram as especulações de aproximação com o governador João Azevêdo. Lamentavelmente, Romero não inspira confiança nem a parceiros históricos da atuação política em Campina Grande, porque não foi claro, não foi límpido, sobre os supostos obstáculos que estariam entravando uma candidatura a governador da Paraíba. A impressão que deixou foi a de que não estava preparado para enfrentar o desafio de concorrer à sucessão, e isto, de certa forma, “queimou” seu filme junto a segmentos da oposição, que acreditam que perderam tempo valioso apostando no que seria um blefe – a candidatura do ex-alcaide da Rainha da Borborema. Não por acaso, a meta é correr atrás do tempo perdido.