Nonato Guedes
O ex-prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, fez um movimento político inteligente que o recolocou em evidência no cenário estadual, depois do desgaste enfrentado na disputa à sua sucessão, quando a candidata que apoiou, a ex-secretária de Educação e concunhada Edilma Freire não logrou ir para o segundo turno e ficou numa distante colocação mesmo estando o parente ilustre no pleno comando da máquina municipal. Agora, fora do poder, Cartaxo migrou do PV, que era uma “legenda de conveniência”, para o PT, onde tem condições de assegurar espaços de sobrevivência. Já é cogitado para encabeçar chapa própria do petismo ao governo do Estado e, em último caso, estará disponível para concorrer a um mandato de deputado.
Embora fosse hegemônico no Partido Verde, no qual desembarcou depois de passagem pelo PSD, saído do PT por causa de escândalos de repercussão nacional como o do mensalão, Luciano vivia numa espécie de “gueto”. O PV resumia-se, na Paraíba, a familiares do ex-prefeito e aliados que com ele estiveram na administração municipal, para a qual se elegeu em duas oportunidades. Não houve, da parte de Luciano, na condição de dirigente de partido, tempo nem condições para expandir o PV em outras regiões da Paraíba – e a falta de maior afinidade em termos de ideias com a sigla ambientalista agravou a situação. Em 2018, Luciano era “pule de dez” para concorrer ao governo do Estado pela oposição, em parceria com o grupo Cunha Lima, do PSDB, e com o então prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSD. O desfecho foi uma chapa encabeçada por Lucélio, irmão gêmeo de Luciano, tendo na vice a doutora Micheline Rodrigues, esposa de Romero, que foi derrotada em primeiro turno por João Azevêdo, apoiado, no PSB, por Ricardo Coutinho.
Hoje, Luciano Cartaxo volta a conviver com Ricardo Coutinho nos quadros do PT, sob as bênçãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Considerado inelegível por decisão do TSE, Coutinho também foi derrotado na tentativa de voltar à prefeitura da Capital nas eleições de 2020. Está alojado no PT aguardando “ordens” de Lula, que lhe tem grande apreço, e sinal verde da Justiça para ficar elegível ao pleito do próximo ano, quando poderá concorrer à vaga de senador. Cartaxo encontrou um bom pretexto para ser readmitido nas hostes petistas: o de se alistar como soldado do “frentão” contra Jair Bolsonaro que está formado em vários Estados do país com bastante antecedência. “O momento era de afirmação, pois eu queria chegar no final do ano com a decisão partidária tomada, o que se efetivou. Agora é construção”, definiu Cartaxo, tentando traduzir a conjuntura na qual está inserido.
A bem da verdade, Cartaxo saiu da prefeitura municipal de João Pessoa, no segundo mandato consecutivo, com bom índice de aprovação e garantindo ter deixado um saldo valioso para o sucessor, que acabou sendo Cícero Lucena (PP), vitorioso no segundo turno com o apoio do governador João Azevêdo, em combate contra Nilvan Ferreira, então MDB, hoje PTB. O revés experimentado nas urnas com a candidatura da professora Edilma Freire, na sua sucessão, foi episódio decorrente de erro de estratégia política do ex-alcaide da Capital. Além de demorar na escolha de candidatura do seu esquema, optando finalmente por solução doméstica ou familiar, Luciano Cartaxo expôs-se a descontentamentos na sua base por ter incentivado alguns outros secretários a se viabilizarem na disputa. A preferência por Edilma soou como jogo de cartas marcadas e levou os demais ex-secretários a se bandearem para outras candidaturas na campanha.
O ostracismo político que se seguiu ao fim do seu mandarinato na prefeitura municipal de João Pessoa contribuiu, aparentemente, para reflexões mais consistentes por parte do ex-prefeito Luciano Cartaxo e seus aliados políticos, diante da oportunidade que surgiu para que fossem passados em revista os erros do passado na trajetória cambiante que o político sousense vinha conduzindo. A autocrítica de Cartaxo sobre seus rumos coincidiu com o ressurgimento, a nível nacional e a pleno vapor, da liderança política do ex-presidente Lula da Silva, que se obstinou, depois de vencer batalhas judiciais, a construir uma concertação política ampla tendo como chamariz o anti-bolsonarismo. Pegando carona nessa onda, Cartaxo gerou fundamentos para sua própria absorção nos quadros do PT, de onde fugiria do isolamento a que estava confinado no PV. Nessa empreitada, foi incentivado por remanescentes do petismo local, que não se opuseram ao estágio de um novo convívio no partido.
A palavra final sobre os espaços que Cartaxo deverá dispor no petismo paraibano será, naturalmente, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dono da equação mais relevante em jogo e a quem caberá avaliar os apoios prometidos a nível de Paraíba, inclusive o do governador João Azevêdo (Cidadania), com quem o líder maior do PT ainda não se reuniu para definir fórmulas de convivência na campanha do próximo ano. Mas é possível afirmar-se que o ex-prefeito Luciano Cartaxo fecha o ano com uma definição alvissareira para pretensões políticas pessoais que vinha buscando pavimentar. Em tese, está com passaporte para lutar para garantir sobrevivência no cenário político da Paraíba, podendo, se tiver sorte, ser catapultado a uma posição de liderança que até então estava praticamente riscada do seu radar ou do seu mapa astral.