Nonato Guedes
A deputada federal licenciada Luíza Erundina (PSOL-SP) concorda com a formação de uma frente ampla em torno da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como estratégia para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo a possível candidatura do ex-governador paulista Geraldo Alckmin a vice na chapa. Mas advertiu que Lula não deve fazer alianças “a qualquer preço” e lembrou o fisiologismo do PSDB, ex-partido de Alckmin, como um exemplo recente. “Lembremos que o governador João Doria apoiou o Bolsonaro. O modelo histórico do PSDB é o de governos privatistas, neoliberais, de Estado mínimo e que subordinam o Legislativo”, frisou.
Paraibana de Uiraúna, Erundina foi a primeira mulher eleita prefeita de São Paulo, pela legenda do Partido dos Trabalhadores, com quem rompeu, migrando, posteriormente, para outras legendas, mas sempre se situou no campo da esquerda, onde é considerada decana. Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, a deputada ressaltou que “tem que haver uma frente democrática, de união nacional” e defendeu um programa da sociedade para eleger Lula, cobrando, porém, que essa discussão seja feita logo. “Não necessariamente tem de ser uma frente de esquerda, ortodoxa. E o programa tem que sair não do candidato ou dessa frente, mas da sociedade. Não vi até agora nenhuma discussão do programa”, alertou.
Aos 87 anos, Luíza Erundina cobra definições sobre o que se pretende fazer com a economia, com os prejuízos que o governo Jair Bolsonaro tem provocado e com a austeridade fiscal imposta pelo teto de gastos. Na sua opinião, “muita gente já se converteu após perceber a bobagem que fez ao eleger Bolsonaro em 2018”. Salientou, entretanto, que Bolsonaro não é pior que outros “políticos de direita”. E pontuou: “A direita é sempre a direita. Não tem isso de melhor ou pior. É como a história do capitalismo selvagem: todo capitalismo é selvagem. Agora, essa direita que vive à custa da desigualdade e da discriminação racial e de gênero está atrasada demais”. Prestes a encerrar mais um mandato na Câmara Federal, Luíza Erundina sinaliza que deve entrar em nova disputa para a reeleição ao Parlamento e afirmou que ingressa em 2022 “cultivando a esperança”.
– Eu cultivo a esperança. A desesperança é conservadora, porque é paralisante. Quando você reduz as expectativas deixa de agir para mudar aquilo que precisa mudar. Sempre vou acreditar nisso. É por isso que vou morrer jovem, apesar da minha idade. Eu não preciso mais de mandato, poderia estar descansando, mas não posso. Nasci para fazer as coisas que imagino serem obrigação minha, em nome dos pobres, dos excluídos, dos marginalizados. Eu sou dessa origem e estou arrastando as pessoas. É isso que eu acho que é a política”. Ela confronta, com suas posições, a ala do PSOL que almeja lançar uma candidatura própria a presidente da República. E explica: “Lula não é qualquer um, já foi testado como presidente duas vezes”.
Além de ter sido prefeita de São Paulo, Luíza Erundina ajudou, como vice, Guilherme Boulos, do PSOL, a chegar ao segundo turno das eleições municipais de 2020. Na entrevista à “Folha”, a deputada confirmou que está com Lula em 2022 para derrotar o bolsonarismo mesmo que o vice seja Geraldo Alckmin, ex-tucano alvo de críticas de dirigentes do PSOL. “Antes da possibilidade de ter aliança com Alckmin na vice, havia quase consenso no partido de uma frente ampla com unidade das forças que queiram tirar o país deste abismo em que se encontra, derrotando o bolsonarismo, não só o Bolsonaro. E não seria apoiar qualquer um, porque Lula não é qualquer um, já foi testado. Não é que tenha sido perfeito. Tenho restrições, fiz críticas a seus governos, mas não dá para titubear: ele provavelmente seja um dos poucos capazes de derrotar Bolsonaro”, salientou a parlamentar. Ela conclamou o PSOL a não lançar candidato ao Planalto. “O primeiríssimo objetivo do partido deve ser derrotar Bolsonaro”, finalizou.